“Os pobres são uma voz essencial na vida da igreja”, diz novo ouvidor da Praia da Vitória

Padre Emanuel Valadão Vaz fala sobre a pobreza numa entrevista ao Sítio Igreja Açores sobre a reerguida ouvidoria da Praia da Vitória, 17 anos depois

A indiferença perante os mais necessitados é um dos maiores problemas das sociedades modernas à qual a igreja tem de contrapor uma atitude de “acolhimento e atendimento” permanentes, disse ao Igreja Açores o novo ouvidor da Praia da Vitória.

Numa entrevista sobre a recém reerguida  ouvidoria da Praia da Vitória, na ilha Terceira, o Pe. Emanuel Valadão Vaz sublinhou a importância deste dia para devolver aos pobres o protagonismo dentro da igreja.

“Temos de ser capazes de acolher as pessoas, acompanhá-las e dar seguimento a uma ajuda permanente fazendo-lhes ver que apesar de serem pobres devem ser elementos ativos na vida da Igreja porque os pobres são uma voz essencial dentro da Igreja”, refere o sacerdote.

O sacerdote, que regressou à diocese de Angra há dois anos, lembra que a pobreza “é transversal à vida das pessoas” e apesar de hoje,  quando se fala em pobreza fala-se essencialmente de questões materiais, há muitos problemas sociais decorrentes da pobreza.

“Este dia é para nos ajudar a perceber que a igreja precisa de estar atenta e vigilante à vida das pessoas. Não se trata apenas da pobreza dos que não têm nada ou dos que trabalhando têm muito pouco. A questão da pobreza é mais profunda” refere ainda o ouvidor eclesiástico da Praia da Vitória que sublinha, na linha do Papa Francisco, que a igreja “ tem de ser cada vez mais um hospital de campanha que responda às carências várias das pessoas e as acompanhe”.

O Dia Mundial dos Pobres foi decretado pelo Papa Francisco no ano passado no encerramento do Ano Santo da Misericórdia.

No Vaticano, esta manhã, o Papa apelou ao fim da indiferença e classificou-a como o “maior pecado contra os pobres”.

“É dizer: ‘Não me diz respeito, não é problema meu, é culpa da sociedade’. É passar ao largo quando o irmão está em necessidade, é mudar de canal, logo que um problema sério nos indispõe, é também indignar-se com o mal mas sem fazer nada. Deus, porém, não nos perguntará se sentimos justa indignação, mas se fizemos o bem”, advertiu, na homilia da Missa a que preside na Basílica de São Pedro, com milhares de pessoas necessitadas.

Assinalando o I Dia Mundial dos Pobres, o Papa apelou à ação concreta em favor dos “irmãos mais pequeninos”, dos que têm fome, os doentes, os estrangeiros, os presos, os necessitados e abandonados.

“Nos seus rostos, podemos imaginar impresso o Seu rosto [de Jesus]; nos seus lábios, mesmo se fechados pela dor, as Suas palavras: «Isto é o meu corpo»”, acrescentou.

Francisco começou por sublinhar a dimensão espiritual desta celebração, realçando que todos têm algo para dar e para receber.

“Todos somos mendigos do essencial, do amor de Deus, que nos dá o sentido da vida e uma vida sem fim”, observou.

O Papa desafiou os católicos a viver à imagem de Jesus Cristo, que “arrisca por amor, joga a vida pelos outros, não aceita deixar tudo como está”.

A intervenção apresentou como “dever evangélico” cuidar dos pobres, o que significa “lutar contra todas as pobrezas, espirituais e materiais”.

“Abeirar-nos de quem é mais pobre do que nós, tocará a nossa vida. Lembrar-nos-á aquilo que conta verdadeiramente: amar a Deus e ao próximo. Só isto dura para sempre, tudo o resto passa; por isso, o que investimos em amor permanece, o resto desaparece”, disse Francisco.

O Papa afirmou ainda que, para o Céu, “não vale o que se tem, mas o que se dá”.

“Que o Senhor, que tem compaixão das nossas pobrezas e nos reveste dos seus talentos, nos conceda a sabedoria de procurar o que conta e a coragem de amar, não com palavras, mas com obras”, concluiu.

A primeira leitura da celebração foi proclamada por um refugiado vindo da Síria.

Na Basílica de São Pedro estiveram 4 mil pessoas pobres de Roma e de outras dioceses do mundo.

Após a recitação do ângelus, pelo meio-dia da capital italiana, 1500 pessoas almoçam com o Papa na sala Paulo VI e as outras 2500 vão ser acolhidas por refeitórios sociais, seminários e colégios da Igreja Católica de Roma para uma “almoço festivo”.

A refeição com o Papa vai ser servida por 40 diáconos da Diocese de Roma e 150 voluntários de outras dioceses.

Na diocese de Angra são várias as iniciativas para celebrar este dia. Na Sé, às 18h00, haverá uma missa de acção de graças, na qual participarão os voluntários e os assistidos do projeto Porta da Misericórdia, da paróquia da Sé que completa agora um ano. Mas haverá também outras ações nas diferentes ilhas do arquipélago.

 

Scroll to Top