Por Renato Moura
Eleições regionais realizadas. Deputados eleitos. PS altamente penalizado no julgamento. Açorianos saturados quiseram mudar de governo, ou pelo menos condicionar. A maioria absoluta de deputados foi atribuída a vários outros.
O líder do PSD, ainda antes de instalada a Assembleia, ali se instalou para de lá anunciar uma coligação para governar: PSD/CDS/PPM. Ele e os líderes companheiros brandiram exaustivamente “humildade” em vocábulo. Ofereceram-nos fundamentos como “novo paradigma”, “governo profundamente autonómico”, “denominador comum”; mas não o peso ideológico de cada um dos numeradores políticos da coligação.
Para pouco serve agora saber se se esperava essa iniciativa do líder do PSD, ou se de quem o forçou. Ou se tal se deveu a sede de poder, dado o PSD não ter sabido reflectir e emendar quando perdeu a maioria em Maio de 1991 e ter voltado a cavalgar a arrogância em Novembro de 1992, tudo levando à queda no cadafalso e seca de 24 anos de oposição! Foi assim. Regime parlamentar e a coligação com mais deputados que o PS. O expediente usado pelo PS, na República, em 2105. E já de nada serve atacar a razão do Representante da República ao indigitar José Manuel Bolieiro para formar governo.
Não é a primeira vez que das eleições não resulta maioria absoluta, ou ela se perde depois; e daí sempre resultou estabilidade e bons frutos, graças à responsabilidade dos deputados.
Não se sabe quais os projectos – dum acordo apregoado como muito fácil – assumidos como fundamentais, do novo programa de governo para os Açores, do PSD/CDS/PPM! O povo não deve dispensar a transparência e o escrutínio político. O Chega e a Iniciativa Liberal, sendo apenas cooperantes indispensáveis para a maioria absoluta, já divulgaram os seus exigentes projectos políticos, ditos como acordados e muitos até calendarizados.
A existência de uma maioria pode garantir um governo estável. Mas não assegura que estes poderes, metidos num mesmo “saco”, não se vão arranhar e romper, como se os adversários estivessem do outro lado e os inimigos dentro. E legítima é a dúvida sobre a forma como cada um dos intervenientes exercerá os seus poderes; agravada conhecendo vários dos protagonistas!
O difícil vem agora. Sem a seriedade e a responsabilidade exigidas em política, não há sucesso colectivo.
Aos açorianos importa ter esperança; ou dar o benefício da dúvida. A exigência de realização dos compromissos legítimos dos poderes é elemento indispensável para manter fé na força da autonomia, para o desenvolvimento dos Açores.