Por Renato Moura
A Quaresma é período de penitência e conversão para os cristãos. Muitos deles seguem a antiga tradição do jejum e da abstinência; outros tomam a opção, porventura muito mais edificante, de se privarem de coisas muito agradáveis.
A pandemia levou a sermos obrigados a muitas privações: de liberdade; de encontro com familiares e amigos; de hábitos saudáveis, já tornados rotineiros e por isso perderam o devido valor; do trabalho, por vezes importuno, mas agora se percebeu ser fonte de realização. Que tenha servido para aprendermos.
Fomos impelidos a perceber como certas pessoas e certas profissões, talvez tidas como irrelevantes, são indispensáveis. Como as lideranças são imprescindíveis. Tivemos de aprender que ninguém se basta a si próprio e como em certas circunstâncias o dinheiro não resolve nada.
Fomos confrontados com a fragilidade da existência humana. Vimos como a vida é uma passagem, nem sempre bem aproveitada. O nosso destino está para além deste mundo.
Não será que perante a quarentena ou o esforço de confinamento, sentimos sofrimento, talvez desespero? Mas olhando para o lado pudemos ver outros obrigados a trabalhar, para nos garantir o essencial; e alguns em condições terríveis, para tratar doentes e idosos. Mesmo quantos estiveram doentes, padeceram e recuperaram, olhando para o lado viram companheiros a morrer.
Muitos dos falecidos, infelizmente, não puderam ter junto de si os familiares. A fé cristã permite-nos acreditar que, olhando para o lado, pressentiram Jesus, pois nunca nos falta, embora não possamos conhecer os Seus desígnios. E aos que pereceram na “cruz” do leito ou da maca, porventura Jesus terá feito entrar no Céu, tal como, crucificado, olhando para o lado, na Sua infinita bondade, prometeu levar com Ele, para o Paraíso, o malfeitor arrependido. Quantos desses, privados da vida temporal, estarão já junto de Deus a interceder pelos profissionais de saúde, pelos cuidadores, pelos doentes, pelos seus familiares, pelos cientistas; por todos. A pedir ao Espírito Santo para iluminar os dirigentes das nações, inspirar os agentes económicos, apoiar os trabalhadores e animar os povos.
Os sacrifícios e iniciativas desta Quaresma não terão sido em vão, para o aperfeiçoamento pessoal e institucional. Os nossos e os de todos; dos responsáveis aos diferentes níveis, dos governantes também, a quem Deus certamente perdoará pelos erros, talvez lhes recordando apenas não voltarem a pecar.
Que a ressurreição nos permita, olhando para o lado, jamais deixar de ver Deus e os irmãos.