Bispo de Angra inaugurou a penúltima Igreja por reconstruir , depois do sismo do Faial e do Pico, em 1998. Prelado desafia comunidade de Pedro Miguel a continuar o desafio da “renovação da comunidade”
O bispo de Angra inaugurou e presidiu à cerimónia de dedicação da nova Igreja de Pedro Miguel, na ilha do Faial e desafiou a comunidade a vencer o segundo mas “verdadeiro” desafio da sua reconstrução.
“O verdadeiro templo somos nós, todos juntos e cada um” afirmou D. Armando Esteves Domingues desafiando a comunidade, que se empenhou de forma dedicada à angariação de fundos para ajudar na reconstrução desta Igreja, a penúltima a ser erguida das 13 igrejas afetadas pelo sismo de 1998, a lançar mãos à obra de um “desafio ainda maior”.
“Que venha também para vós, agora, o desafio verdadeiro: ser comunidade a renovar-se, igreja nova a construir-se. Caminhai todos, caminhai juntos, como Igreja de Cristo, casa de família”, disse o prelado.
“Estamos em casa, caros irmãos” enfatizou lembrando que tão importante como as paredes que delimitam fisicamente este espaço é o compromisso de cada um, na fidelidade a Deus e ao irmão.
“Vê-se a alegria estampada nos rostos. É milagre de Deus que conta com os esforços, saber, trabalho e decisão de muitos, para o bem de todos” referiu.
“ Um Templo novo é sinal da união que existe, mesmo entre diferenças. No amor que Deus distribui somos todos beneficiados” sublinhou ainda louvando a “coragem e persistência dos protagonistas da reconstrução” e deixou palavras de apreço a todos os intervenientes.
“Neste dia em que serão abençoadas, incensadas e ungidas as paredes, em que será incensada esta grande assembleia de fiéis, lembramos a santidade dos batizados que são, em conjunto, Esposa de Cristo, geradora de vida do Evangelho” frisou ainda.
“Sede bem-vindos! Os sentimentos que nos unem tornam mais bela esta sensação de sermos todos, também lá fora, esta `Única Igreja de Cristo´ “.
O prelado apontou ainda quatro desafios que decorrem da reconstrução deste espaço desafiando os faialenses a fortalecerem-se como comunidade, a escutar e pôr em prática a palavra de Deus, a participar na eucaristia e a sair em missão, como verdadeiros discípulos.
“Precisamos de desafios para estar juntos, para trabalhar juntos, para construir o reino e não nos limitarmos aos sacramentos. Esse é o verdadeiro templo” concluiu.
Nesta Igreja dedicada a Nossa Senhora da Ajuda, ficou depositada no altar uma relíquia da Beata Isabel Cristina Campos, vítima de assédio sexual.
O projecto da nova Igreja de Pedro Miguel foi aprovado em 2007, mas só em 2018 obteve autorização para avançar e a sua comunidade de fiéis teve de celebrar a fé em espaços improvisados, sem condições para o culto e para albergar todo o património móvel que foi resguardado..
Ao longo destes anos, multiplicaram-se as acções de angariação de fundos: sopas do Espírito Santo, jantares de São Martinho, venda de massa sovada, filhoses, sem esquecer em cada ano a Festa da Padroeira.
“A comunidade tem sido extraordinária no apoio e na colaboração prestada em cada uma destas actividades. Mas devo realçar o apoio e a solidariedade prestada pela população da ilha” diz ainda o sacerdote sublinhando por isso que “as pessoas no geral estão felizes por este acontecimento”. E, “Não só estão entusiasmadas as pessoas da comunidade, mas em toda a ilha do Faial há pessoas radiantes com esta data”, referiu o pároco, numa entrevista ao Sítio Igreja Açores.
A obra representa um investimento global de cerca de 2,5 milhões de euros, sendo cerca de 1,7 milhões suportados pelo Governo, no âmbito do protocolo assinado com o Diocese de Angra para a recuperação dos templos das ilhas do Faial e do Pico.
No âmbito deste protocolo, a Região comprometeu-se a pagar 75% do empréstimo bancário e os juros do capital, na íntegra, nos primeiros dois terços do tempo de duração do financiamento, enquanto que as Paróquias ficam responsáveis pelo pagamento dos restantes 25%.
A nova Igreja, feita de raíz, tem agora capacidade para 180 pessoas sentadas. O projeto de arquitetura é da autoria do arquiteto madeirense João da Cunha Paredes, que assina o projeto de várias igrejas construídas na Diocese do Funchal e no Continente.
A paróquia de Pedro Miguel foi uma das 13 paróquias do Faial que, desde o sismo, ficou sem um lugar de culto.
Na madrugada de 09 de julho de 1998, um terramoto com uma magnitude de 5,9 na escala de Richter deitou por terra muitas moradias no concelho da Horta, o único do Faial, onde prevaleciam as casas tradicionalmente construídas em pedra e barro. Além da destruição de grande parte do parque habitacional do Faial e das oito mortes que causou, o sismo danificou, ainda, cerca 20% das casas da vizinha ilha do Pico.