Por António Pedro Costa
A propósito das próximas eleições europeias, pretendo enfatizar o papel desempenhado por Robert Schuman na construção europeia, sendo ele amplamente reconhecido como um dos “Pais Fundadores” da União Europeia. A sua visão e os seus esforços foram essenciais para a formação de uma Europa unida e em paz, após a devastação da II Guerra Mundial.
Ele não era conhecido pelas suas capacidades oratórias ou argumentativas, que dizem que eram medíocres, no entanto, a sua figura sobreleva em toda a Europa. Schuman, que foi também Primeiro-Ministro da França e Ministro das Relações Exteriores, era muito mais valorizado pela sua visão política, pela sua habilidade diplomática e pela sua dedicação a uma Europa pacificada.
Schuman nasceu no Luxemburgo e cresceu numa região da França que mudou de soberania várias vezes, o que lhe deu uma perspetiva única sobre a necessidade de cooperação europeia para evitar futuros conflitos. Embora ele não fosse um orador carismático, as suas convicções firmes e o seu compromisso com a causa europeia mereceram-lhe o respeito de seus contemporâneos.
A sua capacidade de construir consensos e articular uma visão de cooperação supra-nacional foi fundamental para os primeiros passos do projeto europeu.
Em 9 de maio de 1950, como Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Schuman apresentou a famosa “Declaração Schuman”. Esta proposta foi a pedra angular para a criação das primeiras instituições europeias. Esta declaração propôs a criação de uma Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, colocando a produção de carvão e aço sob uma autoridade supranacional. A ideia era evitar novos conflitos entre as nações europeias, especialmente entre França e Alemanha. A sua criação ocorreu em 1951 com a assinatura do Tratado de Paris.
Schuman acreditava firmemente que a integração económica seria o primeiro passo para a integração política. Ele via a colaboração económica como um meio para criar uma comunidade mais ampla e pacífica, pois tinha uma visão clara de que uma Europa unida seria capaz de garantir a paz e a estabilidade no continente, evitando os erros e os horrores das guerras passadas.
Como tal, Schuman é homenageado em toda a Europa pela sua contribuição para a paz e para a integração europeia, pelo que o seu trabalho e legado são reconhecidos tanto em termos políticos, como também espirituais. Foi por isso, que o Papa Francisco aprovou as virtudes heroicas de Robert Schuman, promulgando o Decreto que reconhece as suas virtudes como leigo.
A visão de Robert Schuman para a Europa estava intimamente ligada à promoção da justiça social e ao combate à pobreza. Ele via a integração europeia como um meio para criar uma sociedade mais justa e solidária, onde o desenvolvimento económico fosse acompanhado por avanços sociais que beneficiassem todos, especialmente os mais necessitados.
O seu profundo compromisso com os princípios da Doutrina Social da Igreja Católica levava-o a envolver-se pessoalmente em atos de caridade e, como católico devoto, encorajava tanto ações individuais de caridade, como esforços estruturais para promover a justiça social.
Já o Papa Paulo VI o definira como um infatigável pioneiro da unidade europeia, tendo o seu processo de beatificação sido aberto pela Igreja a 9 de junho de 1990, e encontrando-se na Congregação para as Causas dos Santos na Santa Sé. Com o reconhecimento das virtudes heroicas de Robert Schuman, este estadista francês tornou-se Venerável.
A tramitação do processo relativo de um fiel com fama de santo passa por várias etapas, a saber: o Bispo manda investigar acerca da vida, virtudes, fama de santidade ou de martírio, milagres aduzidos, e ainda, se for o caso, do culto antigo do Servo de Deus, cuja canonização se pede. Este levantamento de informações é enviado à Santa Sé: se o exame dos documentos for positivo, o “servo de Deus” é proclamado “venerável”.
A segunda etapa do processo consiste no exame dos milagres atribuídos à intercessão do “venerável”; se um destes milagres é considerado autêntico, o “venerável” é considerado “beato”. Quando e após a beatificação se verificar um outro milagre devidamente reconhecido, o beato é proclamado “santo”.
A canonização, ato reservado ao Papa e é a confirmação por parte da Igreja de que um fiel católico é digno de culto público universal (no caso dos beatos, o culto é diocesano) e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.