O único Papa que visitou os Açores morreu há 20 anos

Cardeal Secretário de Estado preside a uma missa em sua memória, esta quarta-feira na Basílica de São Pedro

Foto:Arquipélagos/Igreja Açores

 

Cumpre-se esta quarta-feira o 20º aniversário da morte do papa São João Paulo II, o único Papa que até hoje visitou os Açores tendo celebrado uma missa na ilha Terceira e estado no Campo de São Francisco em Ponta Delgada, para a celebração da Palavra. Este foi, de resto, um momento de grande densidade, após o cortejo apoteótico com os jovens, da Rotunda da Autonomia até ao Forte de S. Brás, onde o Papa se ajoelhou, sem almofada, diante da sugestiva imagem do Senhor Santo Cristo. E, de tal forma prolongou esta oração pessoal diante da imagem do “Ecce Homo“, que D. Aurélio Granada Escudeiro, então bispo de Angra, teve de lhe dar um sinal, para falar ao povo e aos jovens, resumindo, praticamente, o que podemos considerar o Seu grande legado à Igreja do nosso tempo.

Quando se dirigiu aos presentes em Ponta Delgada, diante da imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que pela segunda vez saíu do coro alto do Santuário para a rua sem ser durante as festas em sua honra, João Paulo II  exortou os presentes a “escancararem as portas a Cristo” lembrando  “quando tiverdes dúvidas de escolher entre o amor, o ódio ou o comodismo, olhai o rosto do Ecce Homo e escolhei como Ele, os caminhos do Amor”.

“A nova evangelização” de que falava continuamente propunha neste mundo em mudança, o Evangelho de sempre, mas “com novos métodos, novas expressões e um novo ardor”.

Ao concluir a celebração do Jubileu do Ano 2000, exortava a Igreja a “fazer-se ao largo”, para o mar alto da vida humana, para aí inserir o Evangelho de Jesus, qual fermento que leveda a massa. Afirmava Ele: “Ao longo destes anos, muitas vezes, repeti o apelo à Nova Evangelização; faço-o agora mais uma vez. Não se trata de inventar um programa novo. O programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de conhecer, amar e imitar…” (Novo Millennio Ineunte).

Foi a sua adesão apaixonada à Pessoa de Cristo, que o faz pronunciar, com grande convicção, as famosas palavras do início do seu Pontificado: “Não tenhais medo! Abri – ou melhor – escancarai as portas a Cristo!”

Por isso mesmo, a sua primeira Encíclica foi sobre “Cristo, Redentor do Homem”. Foi essa mesma mística que inspirou a sua devoção mariana: “Totus Tuus” era o seu lema episcopal, que manteve como Papa. E recomendou, em diversas ocasiões: não tenhais receio de exagerar na devoção a Nossa Senhora. Ela nada mais tem a dar-nos senão o Seu Filho. Leva-nos ao encontro do Único Salvador: “ad Iesum per Mariam”.

Esta centralidade cristológica, vivida e experimentada, leva-o à proclamação e celebração do Grande Jubileu da Encarnação, em que convidou o mundo cristão a volver o seu olhar para Cristo, Único Salvador do mundo, ontem, hoje e sempre.

É na firmeza da fé e na fidelidade a Cristo, que reside a sua coragem em propor, mesmo remando contra-corrente, o valor da vida e sua dignidade, desde a concepção até ao seu termo natural. Ensinou-o, com clareza e determinação. Testemunhou-o com a sua vida, mesmo nos últimos anos do seu Pontificado, com a evidente fragilidade física, que nunca escondeu, até à consumação final, com a serenidade de um santo, que a sua canonização confirmou.

João Paulo II esteve nos Açores a 11 de maio de 1991. Conhecido pelas suas inúmeras viagens, esteve no arquipélago durante a segunda visita que realizou a Portugal (num total de três) tendo sempre como destino final o Santuário de Fátima.

As poucas horas que esteve no arquipélago foram suficientes para deixar uma marca indelével na Diocese e em toda a comunidade cristã açoriana.

A visita, concertada entre autoridades religiosas e civis, nomeadamente a Diocese de Angra e a Presidência do Governo Regional dos Açores foi acompanhada por milhares de fieis, numa enchente que a imprensa da altura reporta como “momento histórico”, “único” e “irrepetível” na vida do povo açoriano, crente e não crente, “tal foi a correria de todos que não quiseram faltar à chamada”, noticiavam.

A visita de João Paulo II foi, aliás, um estímulo a um maior compromisso na renovação cristã à luz das orientações do Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-65) em que participou como arcebispo de Cracóvia.

Karol Wojtyla, eleito papa a 16 de outubro de 1978, nasceu em Wadowice (Polónia), a 18 de maio de 1920, e morreu no Vaticano, a 02 de abril de 2005.

Trabalhou e estudou ao mesmo tempo, viveu a ocupação nazi da Polónia, esteve na quase clandestinidade, mas tornou-se um homem do mundo.

Durante o seu Pontificado que começou em Outubro de 1978 e se estendeu por 27 anos (um dos maiores pontificados da história) fez 146 visitas pastorais em Itália e visitou 317 das atuais 332 paróquias romanas.

Realizou 104 viagens apostólicas pelo mundo, tendo visitado o Santuário de Fátima, em Portugal, por três vezes.

Na sequência do atentado, João Paulo II anunciou a sua primeira visita ao Santuário de Fátima, em maio de 1982, para agradecer “a proteção concedida”.

A visita de quatro dias, em que o Papa percorreu o país, acabaria por ficar marcada por um incidente na noite da procissão das velas, em Fátima. O padre integrista espanhol, Juan Fernandez Maria Khron, de 32 anos, vindo de Paris, tinha o objetivo claro de matar João Paulo II.

Vestido como sacerdote, Khron aproximou-se da comitiva papal empunhado uma baioneta, mas acabaria por ser detido, não sem antes ter gritado “Fim ao comunismo” e “Abaixo o Papa e o Vaticano II”.

Depois disso, João Paulo II visitaria Fátima por mais duas vezes: em maio de 1991 e em maio de 2000, para a beatificação dos pastorinhos de Fátima Francisco e Jacinta Marto.

Na mesma altura, tornou pública a terceira parte do Segredo de Fátima e ofereceu à Virgem o anel com o lema “Totus Tuus” (Todo Teu) que lhe tinha sido oferecido no início do pontificado.

Morreu em Roma a 02 de abril de 2005, como um Santo, chegou a dizer Bento XVI a propósito do seu antecessor.

Bento XVI recorda ter dito ao Papa polaco que tinha de “descansar”, ao que este lhe respondeu que o podia fazer “no céu”.

Nos Açores existe uma relíquia de primeiro grau do papa Polaco na Igreja de Santo Antão, na ilha de São Jorge.

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