Por Raúl Medeiros *
As Romarias Quaresmais de S. Miguel têm vindo a ter um aumento de participantes nas últimas três décadas, quer no número de Ranchos como no número de Romeiros. O Romeiro atualmente é transversal à sociedade micaelense, de todos os estratos económicos, culturais e espirituais, dando por isso uma maior inserção entre o Romeiro e a sociedade micaelense, pois nas suas alas, anualmente, estão cerca de dois mil e quinhentos homens, que depois durante os restantes 357 dias estão ligados a todos os cantos da ilha, a cada grupo da sociedade, deixando sair de si para os que os rodeiam o que apreenderam durante os 8 dias da caminhada da Romaria.
Em cada ano caminham pelas estradas de S. Miguel, orando, partilhando, contemplando: professores universitários e alunos, gestores e operários, poetas e iletrados, artistas e homens rudes, médicos e desempregados, homens de grande fé e descrentes, avôs e netos. Esta grande heterogeneidade faz terem as Roma- rias, cada dia mais, um muito grande elo com a sociedade da ilha de S. Miguel.
Muitos Romeiros levam o olhar de Cristo, que aprenderam a ter durante a Romaria, para a sua ação diária, nas suas relações familiares e de amizade, para as suas relações profissionais e sociais. Cada vez mais existem Romeiros na vida associativa de cariz desportivo, artístico e acima de tudo social, na vida paroquial e até politica.
Existem muitas ações de solidariedade social levadas a cabo por diversos Romeiros e por Ranchos, que ajudam, do melhor modo que conseguem, os que em determinada altura necessitam, como por exemplo, fazendo recolha e entrega de bens alimentares e de vestuário, dando explicações a crianças necessitadas, oferecendo mão de obra para recuperação de edifícios de habitação ou comunitários, doação de sangue, partilhando algum do seu tempo com os que necessitam de quem os escute, faça companhia ou dê voz e visibilidade.
Talvez tenha chegado mais um momento de viragem nas Romarias Quaresmais de S. Miguel: aproveitar as potencialidades e capacidades dos Romeiros, as sinergias e boas vontades, envoltas num manto cristão, para ajudar o próximo com a maior dignidade e humildade, passando de ações individualizadas para ações o mais abrangente possíveis, com interligação entre os diversos Ranchos e Romeiros que têm o mesmo objetivo.
Para esta nova meta é necessário organização, metodologia e coordenação, pois entre os Romeiros existem homens com muita capaci- dade, conhecimento e boa vontade. Estes três itens são fáceis de serem atingidos, pois eles já existem há séculos na organização das Roma- rias, só necessitando de os passar para os restantes dias do ano, para a intervenção das Romarias Quaresmais na sociedade micaelense.
Os primeiros passos já foram iniciados com a constituição de três equipas pelo Grupo Coordenador – a da Formação, a da Cultura e a Comunicação – aproveitando os conhecimentos profissionais de alguns Romeiros nestas áreas, ao serviço de todos.
Agora terá de ser dado um novo passo na intervenção social do Movimento de Romeiros de S. Miguel, continuando a serem feitas as ações por Rancho e por Romeiro, mas serem juntas a estas, grandes ações gerais, envolvendo todo o Movimento. Aproveitar, potenciar e agregar os conhecimentos, as capacidades e a vontades de bem fazer, que existem, colocando-os de forma organizada ao serviço de quem mais necessita.
Os que já estão motivados conseguem motivar os restantes, os que têm experiência ajudam os que têm vontade, mas nunca o fizeram, os que sabem ensinam os que desconhecem, os organizados disciplinam os que tudo querem fazer, os técnicos auxiliam os que querem aprender a bem fazer, os decididos despertam os vacilantes. Assim uni cados ao redor do Movimento, além do muito que já fazem poderão muito mais fazer, em prol dos que mais precisam.
*Raúl Medeiros é irmão do Rancho de Romeiros de São Pedro, Ponta Delgada, e membro da equipa de comunicação e cultura do Movimento de Romeiros de São Miguel
(Texto publicado na página dos romeiros, na edição de 9 de setembro do jornal A Crença)