Esta quarta-feira, a Igreja Católica celebra o Dia de Todos os Santos e na quinta evoca os fieis defuntos
A Igreja Católica celebra este dia 1 de novembro a solenidade litúrgica de Todos os Santos, feriado nacional em Portugal, na qual lembra conjuntamente “os eleitos que se encontram na glória de Deus”, tenham ou não sido canonizados oficialmente.
Segundo a tradição, em Portugal, e particularmente nos Açores, onde se mantém viva, no dia de Todos os Santos, as crianças saeam à rua e juntam-se em pequenos grupos para pedir o ‘Pão por Deus’ de porta em porta, mas o Halloween, assinalado na noite de 31 de outubro, ligado à tradição celta de celebração do novo ano, o fim das colheitas, a mudança de estação e a chegada do inverno, tem ganho algum terreno.
De acordo com esta tradição, nessa noite os fantasmas dos mortos visitavam os vivos; a festa foi conservada no calendário irlandês após a cristianização do país e implantou-se mais tarde nos EUA e no Canadá, onde a tradição é muito forte.
“Se num lado, Halloween, se celebra a escuridão, as trevas, a morte, a agonia e o lado sombrio da vida, nas festas cristãs celebramos a vida e a eternidade” refere ao Igreja Açores o padre Nuno Pacheco de Sousa.
“Ao celebrarmos os santos, evocando a sua vida e memória, celebramos este desejo de viver uma vida plena, à luz da fé e essa vida plena é comunhão com Jesus” refere o sacerdote que é pároco em Rabo de Peixe ao sublinhar que o que muda nestas duas tradições “é a fé e a esperança”.
“Ao fazermos a memória dos santos e dos nossos entes queridos o que muda, em relação ao Halloween é sobretudo a fé com que nós olhamos para este mistério que é a morte que não separa a vida de um lugar que ainda não conhecemos, mas que faz um continuo entre o já que vivemos e o que ainda não conhecemos mas iremos viver na eternidade”.
As Igrejas do Oriente foram as primeiras (século IV) a promover uma celebração conjunta de todos os santos quer no contexto feliz do tempo pascal, quer na semana a seguir.
No Ocidente, foi o Papa Bonifácio IV a introduzir uma celebração semelhante em 13 de maio de 610, quando dedicou à Santíssima Virgem e a todos os mártires o Panteão de Roma, dedicação que passou a ser comemorada todos os anos.
A partir destes antecedentes, as diversas Igrejas começaram a solenizar em datas diferentes celebrações com conteúdo idêntico.
A data de 1 de novembro foi adotada em primeiro lugar na Inglaterra do século VIII acabando por se generalizar progressivamente no império de Carlos Magno, tornando-se obrigatória no reino dos Francos no tempo de Luís, o Pio (835), provavelmente a pedido do Papa Gregório IV (790-844).
Já a tradição de pedir o Pão por Deus, em Portugal e nos Açores, é bem mais recente. Remonta a 1756, um ano depois do sismo que devastou Lisboa. A pobreza que atingia a capital agravou-se com a destruição provocada pelo abalo de terra e um ano depois os lisboetas saíram à rua para pedirem Pão por Deus para “matar” a fome.
Nas décadas de 60 e 70, por imposição da ditadura do Estado Novo, o Pão Por Deus só podia ser pedido por crianças, menores de 10 anos e, apenas, até ao meio dia.
Pão, frutos secos e agora guloseimas é o que costuma ser pedido pelos mais novos que, inclusivamente, se arranjam com sacos bem decorados para irem para a rua pedir.Nalgumas aldeias chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’.
“Pedir o pão por Deus é pedir pelas almas e celebrar a memória dos seus, trazendo ao presente aqueles que já partiram” enfatiza ainda o sacerdote que por estes dias está no Canadá num convívio de Amigos de Rabo de Peixe, onde esta tradição também é celebrada. Naturalmente, que hoje mantém-se não tanto para suprir uma necessidade material mas para manter a tradição, que já se perdeu em muitos lugares.
No dia 2 de novembro tem lugar a ‘comemoração de todos os fiéis defuntos’, que remonta ao final do primeiro milénio: foi o Abade de cluny, Santo Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem se fizesse nesta data a evocação de todos os defuntos ‘desde o princípio até ao fim do mundo’.
Este costume depressa se espalhou: Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar três Missas neste dia, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia.
Durante a I Guerra Mundial, o Papa Bento XV generalizou esse uso em toda a Igreja (1915).