D. Armando Esteves Domingues presidiu à Missa da Coroação da XX edição das Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada e sublinha “força avassaladora” do Espírito Santo, que cria vida nova e “vence a indiferença”
O bispo de Angra desafiou esta manhã os cristãos açorianos a saírem à rua, “não em cortejos vistosos e de glória” mas para serem protagonistas de uma mudança transformadora da sociedade.
“Cada batizado tem que sair à rua, falar nos telhados se necessário!(…)” afirmou o bispo de Angra na homilia da Missa campal de Coroação da XX Edição das Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, que decorreu no adro da Igreja Matriz de São Sebastião, lamentando que o compromisso dos leigos nem sempre “se reflita na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e económico”, limitando-se “muitas vezes a tarefas intra-eclesiais sem um compromisso real com a aplicação do Evangelho na transformação da sociedade”.
“A nova evangelização de que estamos a necessitar, deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados e confirmados no Espírito Santo” disse o prelado desafiando cada um dos participantes nesta Eucaristia a vencer a indiferença e a agir, sobretudo junto dos que” têm menos consolação pessoal, os que não sentem a comunhão, a alegria e a festa”.
“Se, ao sairmos deste lugar, reconfortados pela presença do Espírito Santo, encontrarmos um sem abrigo, um jovem a arruinar a vida com drogas, alguém a lamentar-se sem saúde, pão, casa ou justiça, uma vítima de violência doméstica, uma criança maltratada, etc, teremos nós tempo e disponibilidade para a compaixão, teremos palavras e gestos que eles sintam ser a sua mesma língua, ou passaremos indiferentes trancados no salão do nosso bem-estar?”, interpelou D. Armando Esteves Domingues.
“Os cristãos saíram à rua, não propriamente em cortejos vistosos, de glória, mas para dizerem de todas as formas `Jesus é Salvador´. Para eles e para a Igreja de todos os tempos só há esta verdade a dizer: se nos amarmos, Deus caminhará e morará no meio de nós” enfatizou o prelado, na missa concelebrada pelo pároco, padre Nemésio Medeiros e por Monsenhor Weber Machado.
“Também é o nosso tempo agora, caros amigos e irmãos!” disse o bispo de Angra.
“A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e encorajados a viver segundo a bela vida do Evangelho” frisou.
“Onde está o Espírito Santo está o essencial da vida cristã: vive-se como irmãos, partilha-se; é natural não é artificial” disse ainda recordando o espirito de partilha que sentiu no sábado de Pentecostes, no Império da Silveira, no Pico, onde comeu pela primeira vez as tradicionais sopas do Espírito Santo, “lado a lado, com cada irmão”.
“O gesto de Santa Isabel em coroar pobres, fazendo-os reis ao lado do rei, foi chama que ateou fogo, como no dia de Pentecostes: coroar pobres começou a ser uma forma de combater a pobreza, de cobrir de amor quem andava coberto de chagas. Uma preciosidade que continua”, afirmou.
“As pobrezas hoje não serão só de carne, pão ou massa sovada, não se matam com simples alimentos. Esses gestos devem ser acompanhados ou até trocados por companhia, tempo para a conversa, atenção, escuta, um conselho desinteressado, uma ajuda em tarefas”.
“O Espírito Santo é dádiva de Deus e o amor do cristão deve ser doação. As festas do Espírito Santo não se vivem pela internet e, por mais imagens televisivas que passem, só quem faz experiência concreta pode sentir-se plenamente feliz” destacou sublinhando a importância do “envolvimento, casa comum, mesa comum, alegria partilhada igualmente por todos”.
“As divisões, ressentimentos da vida, cansaços, são cobertos pela beleza do brilho dos olhos de todos. O amor cristão, cheio do Espírito Santo pode fazer o milagre da unidade. Precisamos disso”, concluiu, depois de ter proferido uma reflexão sobre a força avassaladora do Espírito Santo e o seu poder transformador, numa “diocese que se orgulha por ser conhecida no mundo como a diocese do Espírito Santo”.
O prelado elogiou o espirito de partilha , mas também a dedicação e o envolvimento de todos os que participam na preparação destas festas em particular mas também em todo o arquipélago, que vive esta devoção de forma muito generalizada.
A Missa foi animada pelo Coral Sinfónico de São José, tendo-se lhe seguido o tradicional Bodo de leite, nas Portas da Cidade.
Ontem foram servidas mais de 14 mil doses de sopa e 10 mil doses de arroz doce, no Campo de São Francisco, preparadas por dezenas de voluntárias ao longo dos últimos dias.
A XX edição das festas fica marcada pela assinatura do acordo de geminação entre Ponta Delgada e Alenquer (distrito de Lisboa), onde nasceram as festas em honra do Espírito Santo, em 1321.
“Com este gesto de partilha assumimos aquilo que são os dons do Divino Espírito Santo: a sabedoria, a inteligência, o conhecimento, a fortaleza e o conselho”, disse o presidente da Câmara Pedro Nascimento Cabral.