João Paulo II viveu a ocupação nazi da Polónia, estudou na clandestinidade e fez-se ao mundo já depois de papa. Teve um dos pontificados mais longos da história.
João Paulo II, foi o primeiro Papa eslavo e protagonizou um dos pontificados mais longos e controversos do século XX.
Karol Wojtyla, nasceu a 18 de Maio de 1920 em Wadowice, perto de Cracóvia, no sul da Polónia. Depois de manifestar algum interesse pelo teatro e literatura acabou por enveredar pelo sacerdócio.
Durante a invasão nazi da Polónia, Wojtyla e um grupo de jovens polacos lidera a criação de uma universidade clandestina, como forma de resistirem ao encerramento das universidades polacas, decretado pelos alemães.
Ordenado sacerdote em 1946, licenciou-se em Teologia na Universidade Pontifícia de Roma Angelica e, mais tarde, em Filosofia.
Em 1958, foi consagrado Bispo Auxiliar do Administrador Apostólico de Cracóvia, monsenhor Baziak, tornando-se o mais novo membro do Episcopado polaco.
Participou nos trabalhos do Concílio Vaticano II e, com a morte de Baziak, em 1964, passou a desempenhar as funções de Bispo, cargo que ocupou durante dois anos, altura em que o Papa Paulo VI elevou Cracóvia a Arquidiocese.
Três anos mais tarde, em 1967, o arcebispo Wojtyla foi ordenado cardeal.
A 16 de Outubro de 1978, depois da morte de João Paulo I, 33 dias após a sua eleição como Papa, Karol Wojtyla foi eleito, com 58 anos, sucessor de Pedro à frente dos destinos da Igreja Católica, interrompendo mais de 400 anos de eleições de Papas italianos.
Adotou o nome de João Paulo II em homenagem ao seu antecessor e colocou-se do lado da paz e da concórdia internacionais, com intervenções frequentes em defesa dos direitos humanos.
Promoveu sempre uma Europa do Atlântico aos Urais e foram frequentes as condenações dos conflitos, como no caso da Jugoslávia ou do Médio Oriente, do Afeganistão e do Iraque.
Mas, durante o seu Pontificado foram pouco relevantes as realizações inspiradas no Concilio Vaticano II.
O casamento dos sacerdotes, a ordenação de mulheres e os princípios tradicionais da Igreja Católica no domínio da moral sexual, nomeadamente quanto ao uso de contracetivos (num mundo em que a epidemia de Sida faz milhões de vítimas) e ao direito ao aborto, são matérias em que o Vaticano permaneceu irredutível durante o pontificado de João Paulo II.
Lutou contra o comunismo na sua Polónia natal e ajudou a derrotá-lo no mundo, mas também criticou o Ocidente “opulento e egoísta”, dando voz ao Terceiro Mundo e aos pobres.
Durante a visita a Cuba, em Janeiro de 1998, que marcou o fim de 39 anos de relações tensas entre a Igreja Católica e o regime de Fidel Castro, condenou o embargo económico dos Estados Unidos ao país, declarando que tais medidas eram «condenáveis por lesarem os mais necessitados».
Impulsionador de uma aproximação às outras grandes religiões monoteístas do mundo, João Paulo II enfrentou no entanto acusações de «proselitismo agressivo» feitas pelo mundo Ortodoxo.
A reconciliação com os judeus marcou a sua viagem à Terra Santa, em Março de 2000, e uma “viragem” nas relações entre as duas religiões.
João Paulo II pediu, pelo menos, duas vezes perdão.
A 12 de Março de 2000, pelos erros e crimes cometidos pela Igreja no passado, especialmente contra os judeus, pedido repetido junto ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, o lugar mais sagrado do judaísmo.
As comemorações do Jubileu do ano 2000 representam outro marco deste pontificado, tendo a Igreja Católica assinalado os 2000 anos do nascimento de Jesus Cristo com mais de 30 dias festivos consagrados às diferentes categorias de fiéis, iniciados com o Jubileu das crianças e terminados com o do mundo do espectáculo, e uma Carta Apostólica indicando o caminho a seguir no «Novo Millennio Ineunte» (novo milénio que agora começa).
A imagem de João Paulo II a fechar a Porta Santa da basílica de São Pedro no Vaticano, a 6 de Janeiro de 2001, ficará para a história de um Jubileu em que o Papa apelou a uma «nova evangelização».
Histórica foi também a viagem que João Paulo II fez à Ucrânia entre 23 e 27 de Junho de 2001, a primeira a um país da ex-União Soviética, apesar da oposição do patriarca ortodoxo de Moscovo, Alexis II, que acusou a Igreja Católica de «proselitismo» nos territórios tradicionalmente ortodoxos e impediu o Sumo Pontífice de encontrar-se com os chefes das comunidades religiosas ucranianas, maioritariamente ortodoxas.
Nesta deslocação, o Papa homenageou a Igreja Católica grega (dita uniata, fiel ao Vaticano mas de rito oriental), duramente perseguida durante o regime comunista, que confiscou muitos dos seus bens, e apelou à unidade entre católicos e ortodoxos, envolvidos desde a independência do país, em 1991, em disputas muitas vezes violentas por paróquias, bens e fiéis.
João Paulo II pediu também perdão pelos «erros» cometidos contra os ortodoxos, garantindo que os católicos «perdoam as torturas sofridas», e efetuou, pela primeira vez segundo o rito bizantino, a beatificação de 27 ucranianos, 26 vítimas da repressão comunista e uma vítima do genocídio nazi.
Em Novembro de 2001, o Papa surpreendeu o mundo inteiro quando decidiu fazer uma peregrinação de comboio a Assis (Itália), convidando todos os líderes religiosos mundiais a rezarem pela paz na Basílica de S. Francisco, numa altura em que as tensões entre as religiões eram grandes, devido ao agravamento do conflito no Médio Oriente e à intervenção norte-americana no Afeganistão, originada pelos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos.
Esta Oração Mundial Pela Paz, realizada a 24 de Janeiro de 2002 e que foi presidida por João Paulo II, reuniu em Assis líderes de 48 confissões de todo o mundo (à semelhança do que acontecera em 1962 e 1986), que se comprometeram a «não utilizar o nome de Deus em altares de violência» e a trabalhar em conjunto pela paz.
João Paulo II expressou, também, a sua «tristeza e vergonha» pelos abusos sexuais de menores cometidos por padres em várias partes do mundo.
Fátima ficará para sempre ligada a João Paulo II, já que, de acordo com fontes da Igreja, o chamado «terceiro segredo de Fátima» terá sido a revelação aos três pastorinhos do atentado de que o Papa foi vítima na praça de São Pedro em Roma, a 13 de Maio de 1981, quando o turco Ali Agca o atingiu a tiro na mão esquerda, abdómen e braço direito.
Foi também em Fátima que o padre espanhol Juan Fernandez Khron atentou contra a vida de João Paulo II a 14 de Maio de 1982, mas desta vez sem consequências para o Papa.
Esteve hospitalizado várias vezes em consequência do primeiro atentado e foi submetido a seis operações.
A este quadro clínico, somava-se a doença de Parkinson, de que também sofria, sequelas dos ferimentos do atentado e de um cancro no intestino e uma hemiplegia facial que visivelmente lhe dificultava a fala.
Apesar da debilidade física que marcou a fase final do seu pontificado, e que suscitou, em várias ocasiões, rumores sobre a sua morte, nunca perdeu a capacidade missionária.