Ouvidor da Ribeira Grande foi o penúltimo orador das Jornadas Formativas da Catequese que terminam esta sexta-feira em Ponta Delgada, depois de quatro dias intensos de formação com a adesão de mais de duas centenas e meia de catequistas
Sentados ou de pé, sempre com o telemóvel para captar a projecção ou com o caderno e o lápis preparados, assim foi o serão ao longo desta semana para cerca de duas centenas e meia de catequistas de São Miguel que participaram nas jornadas formativas, que culminam este sábado com a celebração do Dia do Catequista da ilha.
“Já faziam falta estas jornadas com oradores nacionais e regionais, mas sobretudo esta possibilidade de encontro entre catequistas de zonas tão diferentes e com experiências tão ricas e diversificadas” disse ao Igreja Açores o padre Carlos Simas, responsável pelo Serviço Diocesano da Evangelização, Catequese e Missão, que organizou este encontro formativo.
“As pessoas têm sede e querem atualizar-se nas novas metodologias. Isso é um desafio para nós porque nos desinstala e leva-nos a estarmos, também nós, sempre atentos a novas questões” refere o sacerdote sublinhando a adesão de todas as oito ouvidorias da ilha.
“O importante é termos cristãos informados e formados de forma a poderem dialogar com este mundo atual que é muito diferente do que era há meia dúzia de anos atrás. Hoje ser cristão, do ponto de vista doutrinal é o mesmo, mas do ponto de vista relacional é mais difícil dada a secularização, mas felizmente, em São Miguel estamos bem de catequistas e de catequese como se tem podido ver nestes dias”.
O encontro, que termina esta sexta feira, teve vários momentos formativos. Desde a explicação do novo itinerário da catequese, assente numa lógica mistagógica em que catequista, família e catequisando devem aprender a encontrar-se com Deus, a encontra-lo no mais próximo, a celebrá-lo e sobretudo a vivê-lo no concreto do seu quotidiano.
“As pessoas estão cada vez mais conscientes das exigências deste novo itinerário que requer muito compromisso dos catequistas, comunidade e família para que Cristo seja apresentado como um desafio mas também como um caminho e um modelo de vida” concluiu o sacerdote que tem esperança na mudança geracional dos catequistas.
“Há gente mais nova, temos aqui muitos catequistas jovens, que podem e vão dar continuidade. Estamos bem ao nível da catequese e esperam-se novos horizontes” concluiu ainda o responsável pela promoção destas jornadas que terminam esta sexta feira, com uma conferência de Carlos Novais, da Diocese do Porto, mais dirigida aos catequistas: “Desafios da fé, catequista quem és tu?”.
Esta quinta-feira o padre Vítor Medeiros discorreu sobre o “Itinerário da Fé”, um tema abordado através de referências bíblicas e de uma alusão a uma troca de correspondência entre o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo e o semiólogo e crítico literário Eduardo Prado Coelho, onde este se revelava um não crente. No seio de uma família crente mas sem grande fervor no testemunho da fé.
“O nosso itinerário de fé nunca é feito sozinho; é com Deus e com todos os que se cruzam no nosso caminho e nos contagiam com o seu amor por Jesus” disse o sacerdote salientando que “ um itinerário de fé exige paciência com Deus, connosco e com os outros”.
O sacerdote, que é pároco na Ribeirinha e é também professor de Educação Moral e Religiosa Católica lembrou que Deus é um mistério mas o ser humano também o é, destacando que “quem nos revela quem somos e o que somos é Jesus Cristo e o seu Evangelho”.
O terceiro orador convidado destas jornadas lembrou que “crer ou acreditar não é uma atitude religiosa exclusiva mas uma realidade humana geral” e a fé “é uma relação forte entre Deus e o seu povo”, sendo “sempre uma resposta à iniciativa de Deus”.
“O despertar para a fé exige testemunho. Já não estamos no tempo em que aprendíamos a ter fé através da memorização; hoje se não fizermos a experiência de Deus dificilmente seremos cristãos”.
Durante a reflexão, o padre Vítor Medeiros desafiou os catequistas, que enchiam o auditório do Centro Pastoral Pio XII, a questionarem a sua fé, “não de forma zangada com Jesus ou abandonando-o, mas questionando, pondo em causa e fazendo perguntas”.
“Se acreditarmos sem por em causa e colocar dúvidas ao nosso Deus, questionando-o sem o abandonar, a nossa fé nunca cresce e vai ficar infantil. Pelo contrário, sempre que eu procuro esclarecer e colocar dúvidas a fé cresce” .
Finalmente, o sacerdote desenvolveu o discipulado pedindo a todos os catequistas para abrirem “ o espírito” a Deus.
“Ser discípulo não é ser santo; é estar sempre para Deus e com Deus” referiu ainda. O que importa, concluiu, é que “no caminho haja sempre transformação”.
Catequistas de toda a ilha presentes nas jornadas formativas
Filipa Raposo, natural das Capelas, está no seu primeiro ano de catequese. Acolhe crianças do segundo ano. “Tem sido incrível” desabafa. Celebrou o sacramento do Crisma e na sequência dessa renovação das promessas batismais encontrou na catequese o prolongamento do que quer para a sua vida: transmitir o que lhe foi transmitido, sempre que houver necessidade”. Questionada sobre o que reteve que quer partilhar é muito direta: “Jesus é o caminho e um modelo de vida”, retorquiu.
Cidália Simas, da paróquia de São Lázaro, Água D´Alto, é catequista há mais de 25 anos. Participar nestas Jornadas diferentes é reviver o espírito de Fátima onde “a troca de experiências e de afetos são muito importante”.
Lina Arruda, da Paróquia de Ponta Garça, é catequista há alguns anos mas esta é a primeira vez que vem a um curso formativo.
“Hoje é tudo diferente e os subsídios que nos são entregues proporcionam mais a experiência de Jesus, com jogos e metodologias “que vão muito para além da memorização e dos rituais”, disse ainda.
As jornadas formativas terminam com a celebração do Dia do Catequista na ilha, no Livramento e, depois terão ainda mais um desenvolvimento no dia 22 de fevereiro quando sair à Rua a peregrinação da catequese.