Por António Pedro Costa
Depois da pausa das férias grandes, um novo ano letivo começou e a azáfama dos pais redobra-se nestes tempos de adaptação ao lufa-lufa do ritmo normal quotidiano. Para além de apetrechar a prole com o material escolar adequado, os pais têm também uma preocupação acrescida neste regresso às aulas, que diz respeito à formação dos filhos, cuidando e, mesmo ao tempo, questionando-se quanto ao perfil dos professores que as crianças e jovens terão ao longo deste ano escolar.
O papel dos educadores influencia sobremaneira os valores e a conduta de vida e deverão ter como objetivo principal a formação de indivíduos que sejam, não apenas intelectualmente competentes, mas também moral e espiritualmente conscientes.
Vivemos numa sociedade cada vez mais secularizada, em que o relativismo espiritual e religioso predomina, e tudo passa a ser subjetivo, variando de pessoa para pessoa, de cultura para cultura e de contexto para contexto, não havendo verdades absolutas, mas sim uma variedade de teorias e práticas apenas válidas para os que as seguem. Por sua vez, a religião passou a desempenhar um papel menos proeminente na vida das pessoas, com uma perda de influência sobre as instituições, quer sejam económicas, educacionais e culturais, adotando-se agora uma abordagem mais secularizada.
Como tal, os pais estão cada vez mais conscientes que uma formação de base pode ajudar no crescimento saudável dos filhos, a começar por casa, mas passando, inevitavelmente, pela escola e pelo contexto social em que se relacionam. Na verdade, as crianças e jovens devem ter acesso a modelos de formação escolar e cívica, baseados nos princípios e valores humanistas, em que os professores devem mostrar como viver e relacionar-se num ambiente onde se respeitam os outros, da mesma forma como gostamos de ser respeitados.
Neste sentido, o ensino não deve limitar-se apenas ao currículo académico, mas também incluir a transmissão de valores, como a importância da justiça social, o respeito pelo próximo e a busca pela verdade, ajudando os alunos a aprofundá-los e a transmiti-los, relacionando-os com as diferentes disciplinas e questões do mundo real.
Os pais esperam que uma parte essencial do papel do educador seja o de ajudar os alunos a desenvolverem um caráter sólido, não apenas sob ponto de vista dos valores do cristianismo, como na conduta geral de uma sociedade equilibrada, onde todos se respeitam e se incentiva o sentido de serviço aos outros.
Por outro lado, como vivemos numa sociedade de predomínio cristão, por mais razão, os pais esperam, seja na catequese ou numa instituição de ensino público, independentemente do ambiente, o objetivo central do ensino seja o de promover a formação integral dos alunos, incluindo os aspetos morais e intelectuais, com base nos princípios cristãos e respeitando a diversidade e promovendo o diálogo e o entendimento inter-religioso, banindo por completo o fundamentalismo.
Um dos grandes problemas da sociedade atual é a incessante busca da felicidade nos bens materiais e se as crianças e jovens não forem devidamente encaminhadas para discernir o necessário do supérfluo, correm o risco de não cultivarem um estilo de vida caracterizado pela moderação e controle de excessos, que mais tarde pode até resvalar para comportamentos disruptivos.
Num hipermercado, uma mãe com 2 filhos adquiriam material escolar e eis que o mais novo pediu uma mochila nova que se encontrava na prateleira, não lhe tendo sido atendida a reivindicação. A mãe perguntou-lhe para quê a birra se a mochila do ano passado ainda estava boa, ao que ele respondeu com artimanha que com aquela ele teria mais vontade de estudar. A criança ouviu a explicação de que não era necessário e que havia que saber viver com o que se tem. Mesmo sem aceitar os argumentos da mãe, lá aprendeu o conceito da sobriedade.
É dever de cada família, mesmo sem prática religiosa, procurar neste início do ano escolar incutir no agregado familiar regras sensatas, pois a falta de uma base moral comum pode dificultar a resolução de questões deontológicas complexas e encorajar a fazerem-se escolhas que mais tarde podem tornar-se perniciosas.
O importante é que a secularização não implique uma hostilidade em relação à religião, mas sim encontrar uma fórmula em que o conceito dos valores seja integrado na vida de cada um.