Não sei até onde vai o debate sobre a privatização da TAP nem como vai resultar este jogo de forças que tem já como certa, a menos que algo de novo aconteça, a requisição civil nos dias em que foi marcada a greve.
Não me compete, neste espaço, apresentar argumentos para o sim ou para o não, apesar de, como cidadão, não me ser de todo indiferente.
Mas tenho visto o tempo do Natal – a que por vezes se junta o de Ano Novo – ser invocado como o grande argumento nacional que justifica uma medida drástica e raramente usada nas lutas laborais. Poderíamos, como cristãos, dizer que o Natal é a celebração do nascimento de Jesus e não o tempo da família que, como sabemos, não anda em muito bons lençóis.
O facto é que o Natal é uma referência inequívoca da nossa cultura, como será o novo ano lunar para os chineses ou o Kumbh Mela para o hinduísmo. E, quer se queira quer não, por muito que se diga que é a festa da família – o que já é ótimo – na verdade mais implicitamente ou não, é a data que o mundo ocidental aceita como referente ao nascimento de Jesus. E com isso a uma era nova que o mais renhido dos laicismos não consegue retirar do calendário.
Curiosamente, as formas de celebração explícita alusivas a Jesus também têm as suas marés. Há vagas de opinião que parecem querer retirá-lo da história e impor sucedâneos em novos símbolos como que substitutos do sobrenatural personalizado. Mas, no rodar dos tempos, mesmo dos tempos que vivemos e testemunhamos, parece virem ao de cima as referências fundamentais do cristianismo, com os valores que este envolve e privilegia.
Curiosamente, a escolha destes tempos para a marcação duma greve pressupõe um grande desejo de encontro e aproximação familiar.
Como a argumentação da gravidade da escolha deste época para a greve se sustenta no mesmo pressuposto, sem nenhum invocar expressamente a pessoa de Jesus como base fundamental de toda esta movimentação e troca de afetos. Não sei, na mesa das negociações, quantas vezes se terá dito a palavra Natal.
Mas ele está no âmago da nossa cultura mesmo que muitas expressões natalícias pura e simplesmente ignorem a densidade da sua celebração. De facto sem o Natal a nossa sociedade seria muito mais pobre. Porventura vazia daquilo que intimamente evoca, mesmo sem invocar o nome de Jesus.
P. António Rego