Cónego Hélder Fonseca Mendes presidiu à Missa do Nascimento do Senhor na Sé de Angra, onde é o moderador
O Natal é um convite à “humildade”, “à confiança” e à “proximidade” afirmou esta noite o Administrador Diocesano na homilia da Missa do Nascimento do Senhor, a que presidiu na Sé em Angra, num dos momentos mais raros da diocese de Angra que se encontra sem bispo desde setembro.
A partir da iconografia da noite de Natal, o cónego Hélder Fonseca Mendes convidou os açorianos, a olhar o presépio com a humildade de uma criança e a aprender nele o valor da proximidade de um Deus que se faz Menino e que quer fazer encontro connosco.
“Tal como um pai, uma mãe ou um irmão mais velho se baixam para se entenderem com o mais pequenino, assim é Deus que desce de uma altura inacessível e se torna um de nós, como nós, para que, participando da nossa sorte, a gente possa participar da sorte d’Ele”, afirmou o sacerdote aos participantes na Eucaristia da Sé .
“No Natal encontramos um Deus connosco, como força, esperança e coragem para não nos sentirmos sós”, disse o cónego Hélder Fonseca Mendes.
“Se encontramos Deus num presépio à nossa altura, ficamos com o dever de buscar o próximo à mesma altura dos nossos olhos” afirmou lembrando que a “cultura atual, agravada pela pandemia, gera altos níveis não só de stress, mas também de tédio e solidão, quer nas crianças, nos adolescentes, nos jovens, no trabalho e nos idosos”.
O sacerdote criticou o consumismo materialista que “a uns dá como remédio um jogo que pode trazer grande envolvimento emocional, mas que não faz companhia, a outros dá o teletrabalho sem convívio humano, e a outros deixa-se num repouso forçado, qual abandono, sem companhia nem consolo”.
“Não há que matar tempo, como se fosse obrigatório estarmos distraídos para esquecer a realidade, isto é, as pessoas, sobretudo as mais vulneráveis”, esclarece o cónego Hélder Fonseca Mendes, lembrando que o “consolo” e a companhia de Deus são o antídoto contra o vazio da sociedade do consumo.
A este propósito lembrou a família e, sobretudo os mais velhos, tantas vezes privados do carinho e de atenção.
“Se temos Natal é porque os mais velhos no-lo transmitiram nas suas raízes de fé e de cultura. Eles e elas fazem parte das nossas casas e das nossas comunidades” alertou o sacerdote denunciando o abandono e a cultura de descarte a que se submete os mais idosos.
“A nossa comunidade cristã, comunhão de famílias, deve ser estimuladora de uma cultura de proximidade, que anime os sós na partilha de bens, do saber, do tempo, da simpatia e da amabilidade. Em muitos lugares, o doente, o mais velho, o deficiente, a vítima da violência doméstica, o migrante, o refugiado e o prisioneiro têm sido os mais afetados pelo esquecimento na nuvem que paira à conta da pandemia”, afirmou criticando políticas sociais que fomentam a institucionalização como resposta prioritária.
“Inclusão e solidariedade” são assim “remédios para a solidão”, conclui.
“O que não distingue o primeiro do último Natal, o do evangelho de Lucas e o de 2021, é que nem num caso nem noutro, há presépio por «não haver lugar para eles na hospedaria»”, enfatizou o sacerdote.
“A criatividade de Maria e de José, associada à generosidade do proprietário do terreno de Belém e dos animais, fez com que hoje a gente conheça a Deus, que Ele habite entre nós, para nos habituarmos a inclui-Lo e a incluir os outros na nossa relação, que passa pela comunicação e vai até a comunhão”, concluiu alertando que o Natal é esta certeza de que “Há um só Deus, mas não solitário; há só um Menino no presépio, mas não solitário; e assim por diante nas nossas casas, comunidades, instituições e cidades”.
“Nesta noite santa aceitemos agradecidos a humildade de Deus, que experimenta a nossa humidade e humanidade, e correspondamos a ela com a nossa atitude e altitude. Se encontramos Deus num presépio à nossa altura, ficamos com o dever de buscar o próximo à mesma altura dos nossos olhos. O Natal convida-nos a ter o valor de ser pequenos. É Deus quem nos ensina e assim o faz”, afirmou por último.
Este ano a Missa de Natal transmitida pela RTP Açores foi a da paróquia de São José, em Ponta Delgada, que foi presidida pelo ouvidor, Monsenhor José Medeiros Constância. Habitualmente este era o primeiro momento em que o bispo diocesano deixava uma primeira palavra sobre o Natal, antes da tradicional mensagem transmitida pelo canal publico regional de televisão na noite do dia de Natal.
Este ano, o Administrador Diocesano dirige-se a todos os açorianos, a seguir ao Telejornal de dia 25.