Jacob Vasconcelos, 23 anos, natural de Ponta Delgada das Flores, vai ser ordenado diácono no próximo dia 8
Afável, sorridente e com uma energia inesgotável, quando se passa com ele na rua, parece que conhece meio mundo e arredores. De uma enorme disponibilidade, este jovem florentino vai ser ordenado diácono no próximo dia 8 de dezembro. Será um dos dois padres diocesanos, de fora de São Miguel dos próximos 6 anos. Está no Seminário há 8 anos. Chegou à Casa com 15 para frequentar o secundário, com a “certeza” de que queria ser padre. Desde pequeno que brinca como se já o fosse. Diz quem conhece o seu baú das recordações que até estolas, em miniatura, tinha no seu armário.
Jacob Vasconcelos, hoje com 23 anos, é um dos jovens mais preparados para o sacerdócio sem deixar de ser um jovem comum atento ao mundo e ao que gira à sua volta, generoso e sempre próximo. Ainda assim, na entrevista que dá ao Sítio Igreja Açores, diz que gostaria de cultivar mais a sua disponibilidade para com os outros porque “a obra ainda vai pouco acima dos alicerces pelo que há muito a fazer”. Gostava de ver mais “respostas generosas e comprometidas”, sobretudo dos jovens e afirma que o “ardor de evangelizar” com a sua vida é que lhe vai tirar o sono.
“Sou de personalidade inquieta e enérgica por natureza, pelo que julgo que, para além das preocupações do dia-a-dia, irá incomodar-me, no sentido mais positivo do termo, a necessidade de levar o Evangelho às pessoas, pela Palavra, pelos Sacramentos, pela minha atitude coerente de vida e por todos os meios possíveis e necessários que estiveram ao meu alcance”.
Sítio Igreja Açores- Como está a viver este dia?
Jacob Vasconcelos- Este dia está a ser preparado com a alegria e a ansiedade natural dos momentos decisivos e marcantes. Por um lado, é inexprimível a alegria interior de poder corresponder aos projectos de Deus. Por outro lado, a responsabilidade da missão que me é confiada faz-me tremer, pela consciência das minhas próprias insuficiências. Só a misericórdia de Deus pode fazer, da minha fragilidade, um ministério para o serviço da Igreja.
Sítio Igreja Açores- Como se prepara uma ordenação diaconal?
Jacob Vasconcelos- Com muita predisposição interior, que se manifesta na oração mais assídua e intensa, na meditação da Palavra de Deus e na busca da serenidade suficiente para apreender, quanto é possível, a grandeza destes mistérios que nos envolvem.
Sítio Igreja Açores- O que é ser diácono?
Jacob Vasconcelos- É estar totalmente disponível para servir o Senhor onde e quando Ele quiser, nos irmãos que Ele quiser, da forma que Ele quiser. É ter liberdade suficiente para depositar as nossas inquietações e incertezas, sonhos e esperanças, nas mãos daqu’Ele que tudo pode.
Sítio Igreja Açores- Todos os batizados são chamados a ser evangelizadores e a espalhar a Boa Nova. Um diácono tem especiais responsabilidades nessa tarefa. Como é que vai desenvolve-la?
Jacob Vasconcelos- Procurando ser coerente na vida com a fé que professo desde o Baptismo e que agora me confronta com novas exigências. O mundo está sedento de testemunhas autênticas do Evangelho.
Gostaria de cultivar mais a minha disponibilidade para com os outros. Não sou um projecto acabado. A obra ainda vai pouco acima dos alicerces pelo que há muito a fazer. O diácono é chamado a estar particularmente ao serviço dos pobres. Tenho passado por diversas situações de confronto com diversas pobrezas, materiais e espirituais, que me inquietam. Quero dar o meu contributo, na medida das minhas possibilidades, para as minorar. A boa nova anuncia-se também com a vida concreta do dia-a-dia. Haja quem evangelize, pois não faltam campos de evangelização!
Sítio Igreja Açores- Mais do que uma tarefa é uma missão. Como é que se leva o Evangelho às pessoas, de forma a fazer com que a palavra as toque e elas sintam que aquela palavra, em especial, tem algum sentido para a sua vida?
Jacob Vasconcelos- Actualizando, com as categorias do nosso tempo, a mensagem perene do Evangelho. A linguagem flui rapidamente, há muitas palavras, muita informação mas a profundidade interior não cresceu proporcionalmente. O Evangelho leva-se às pessoas fazendo-as conhecer e compreender que têm um Deus que as ama e que tem um projecto de felicidade para cada uma delas. Se cada pessoa estivesse ciente disso, como tudo seria diferente, nas nossas relações humanas e no nosso compromisso cristão!
Sítio Igreja Açores- Um jovem diácono terá certamente mais facilidade em pregar e celebrar a Palavra junto dos jovens. Que diferenças tem pregar para um público mais novo, mais exigente, menos profundo, quiçá, e até mais desligado?
Jacob Vasconcelos– É preciso criar uma empatia diferente que propicie o anúncio da Palavra. Quem semeia não pode querer fazê-lo sem antes ter preparado o terreno para acolher a semente. Por outro lado, temos de estar mais bem preparados para ter respostas plausíveis às questões dos nossos jovens, que muitas vezes têm uma preparação religiosa deficitária e, quando são confrontados com os dados da ciência, sucumbem na fé. Digo-o pela minha própria experiência, no contacto que tenho mantido com os catequizandos e com os grupos de jovens ao longo dos últimos anos. Há sede de espiritualidade mas temos de admitir que nem sempre temos sabido saciá-la. Não se trata de propor uma fé “light”, como quem vai ao supermercado e só escolhe o que lhe agrada. Esta é uma tentação no contacto com os jovens. A exigência passa por transmitir paulatinamente os conteúdos da fé, conforme a capacidade de absorção e o amadurecimento que os mesmos vão tendo. Isto exige trabalho, perseverança e muito acompanhamento.
Sítio Igreja Açores- É jovems, deixu-se tocar por esta vocação. O que é que o diferencia dos jovens do seu tempo, que é um tempo de poucas vocações sacerdotais?
Jacob Vasconcelos- Em tom de brincadeira, mas com um fundo de verdade, costumo dizer que não somos melhores nem piores: Somos diferentes. Penso que não faltam vocações. O que vai escasseando são respostas generosas e comprometidas. Só nos diferenciamos dos jovens do nosso tempo na medida em que fomos capazes de responder com generosidade. Outros poderiam fazê-lo com mais qualidades, dons e capacidades do que nós. Contudo, já no Evangelho, vemos como Jesus chama e escolhe aqueles que quer (Mc 3,13). Porque escolheu aqueles e não outros? Porquê nós e não outros? É o mistério da nossa própria vocação.
Sítio Igreja Açores- O Papa marcou uma assembleia sinodal para 2017 sobre a relação dos jovens com a Igreja. Como vê esta abertura de Francisco?
Jacob Vasconcelos- O Papa Francisco é o grande profeta dos nossos dias, no anúncio do Evangelho e na denúncia das opressões do mundo em que vivemos. Está profundamente atento às realidades que nos circundam. Vejo esta assembleia como uma oportunidade da Igreja sentir o pulsar dos jovens do nosso tempo, escutando as suas inquietações que podem abrir caminhos novos nos rumos da evangelização. O mesmo foi feito com o Sínodo da Família que, ainda que não tenha trazido, pelo menos para já, os resultados que muitos esperavam, a verdade é que nos fez repensar a nossa própria atitude em relação à célula-base da sociedade. Espero que o mesmo possa acontecer com esta nova assembleia. Afinal de contas, o futuro da Igreja passa pelas novas gerações, sobretudo quando a estirpe crente e praticante for passando para a outra margem da vida. É preciso levar Jesus aos jovens para que também eles encontrem um sentido para a sua vida. Há muitas propostas de caminho mas faltam bússolas que os orientem.
Sítio Igreja Açores- Uma vez mais, o Papa surpreende-nos com este apertar de mãos. É este sentido de igreja que tem feito falta para que os próprios cristãos tenham uma outra atitude?
Jacob Vasconcelos- Não só mas também. A Igreja tem feito um esforço para adaptar o seu agir mas não é menos verdade que a crise de compromisso é transcendente a todos os âmbitos da sociedade, afectando, naturalmente, a relação dos fiéis com a Igreja. A aproximação tem de ser mútua para ser profícua. A Igreja só ganha em dar o primeiro passo. Como para Francisco, também eu “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, do que uma Igreja enferma pela oclusão e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças.”(EG 49)
Sítio Igreja Açores- Os jovens hoje têm os mesmos problemas e as mesmas ambições dos de anteriores gerações. O que muda é mesmo a semântica. Onde é que a igreja pode chegar para os aconchegar?
Jacob Vasconcelos- Penso que um dos grandes contributos que a Igreja pode oferecer aos nossos jovens é a sua capacidade de escuta, transcendente a todos os agentes de pastoral mas direcionada especificamente a quem detém especais responsabilidades, a começar pelos ministros sagrados em geral e pelos diáconos em particular. O anúncio do Evangelho não se pode alhear do contexto em que é feito. Só escutando as novas gerações poderemos perceber os seus anseios, oferecendo perspectivas e auxiliando na construção de projectos exequíveis para a sua própria vida.
Sítio Igreja Açores- Ao contrário de outros jovens, quando acabar a formação, terá um lugar para ser aquilo que escolheu. Que esperança é que um padre jovem pode trazer aos da sua idade, que enfrentam o desemprego, a desilusão e ás vezes a frustração?
Jacob Vasconcelos- É difícil oferecer esperança quando alguém vê os seus sonhos barrados. No entanto, penso que este é também um dos momentos chave para fazermos sentir aos jovens, através do nosso ministério, a consolação de Deus. Muito embora não possamos oferecer trabalho justo, digno e estável para todos não estamos dispensados de auxiliá-los, por exemplo, a perceberem que podem ocupar o seu tempo na doação aos outros, em família, nos grupos e nas instituições, enquanto aguardam um trabalho conforme às suas expectativas. Temos de inculcar nos jovens um sentimento de “utilidade”. Todos eles podem e devem ser úteis, sobretudo na doação generosa às grandes causas sociais do nosso mundo, que esperam muito da energia e da audácia juvenil para se continuarem a desenvolver.
Sítio Igreja Açores- Esta ordenação é a antecâmara do grande dia da ordenação presbiteral. O que é que acha que lhe vai tirar o sono?
Jacob Vasconcelos- O ardor de evangelizar com a minha vida é que me vai tirar o sono. Sou de personalidade inquieta e enérgica por natureza, pelo que julgo que, para além das preocupações do dia-a-dia, irá incomodar-me, no sentido mais positivo do termo, a necessidade de levar o Evangelho às pessoas, pela Palavra, pelos Sacramentos, pela minha atitude coerente de vida e por todos os meios possíveis e necessários que estiveram ao meu alcance.
Sítio Igreja Açores- Um desejo inconfessável?…
Jacob Vasconcelos- Gostaria de ver levantado (um pouco levantado) o véu dos desafios que me aguardam. Penso que é humanamente aceitável sentir alguma ansiedade por relação ao futuro, que se minora com a confiança absoluta em Deus. Até aqui, previa um tanto o que estaria para acontecer. Agora, entrego-me confiadamente a Quem tudo pode.