Por Renato Moura
A queda do helicóptero do INEM, que vitimou um médico, uma enfermeira, o piloto e o co-piloto, no regresso de uma operação humanitária de transporte de uma idosa, no continente, causou consternação.
Tentam agora investigar as culpas; que se faça justiça. Sobretudo é útil que se tirem lições sobre eventuais práticas deficientes, mas é horrível que seja à custa da perda de vidas.
Sobretudo nesta Região, onde as evacuações por motivo de doença são tão frequentes, outrora feitas por mar, hoje por intermédio de aviões e helicópteros, este acidente obriga-nos a pensar no que isso significa de solidariedade, de sentimento de identificação em relação ao sofrimento dos outros. As evacuações que nos Açores são feitas pela Força Aérea, bem como os resgastes de tripulantes de embarcações no alto mar, muito frequentemente realizadas com condições atmosféricas extremamente desfavoráveis, de grande desconforto para os profissionais de saúde e para as tripulações, com riscos enormes que apenas são assumidos pelo altruísmo de salvar outras vidas.
Muitos, como eu, ou os nossos familiares e amigos, já beneficiaram deste amor pelo próximo e a esses profissionais devem a sua vida. Tudo o que eles fazem é digno de elogio, tem um valor moral imenso, é merecedor de justa recompensa por parte dos poderes públicos e o valor meritório dessas acções deveria merecer franco e claro reconhecimento pelos beneficiários; saberá Deus se cada qual foi, e soube ser generoso no agradecimento.
Conheço uma idosa que, ferida ligeiramente num acidente, nunca esqueceu a pessoa que a conduziu à sua casa; e a quem agradece anualmente com uma prenda, apesar dos seus parcos recursos.
Realmente o mérito da solidariedade é, para muitos, inesquecível.
Nesta época apela-se à solidariedade, principalmente em bens materiais.
Aproximam-se dias de festa em que todos gostariam de estar com as suas famílias. Mas muitos estarão nos seus postos de trabalho, cooperantes, reciprocamente responsáveis, compadecidos pelas dificuldades, disponíveis para ajudar bondosamente quem precise. Vão compor equipas de profissionais solidários, sempre prontos para arrancar, crentes nas suas capacidades, corajosos perante os imprevistos, mas conscientes de que podem partir e não voltar; e de que têm famílias que amam e que deles dependem.
Deus guardará, também com o auxílio das nossas preces, os que pereceram no cumprimento do dever. Mas façamos também, neste Natal, com as nossas orações e atitudes, prendas solidárias aos que detêm o mérito da solidariedade.