Por Renato Moura
Escrevo angustiado pelo perecimento físico do António Frederico Correia Maciel. Recordo o percurso duma vida ao serviço das causas públicas.
Pertenceu ao grupo de deputados da fundação da autonomia dos Açores, eleito pela ilha de S. Jorge. No Grupo Parlamentar do PPD, era do núcleo de deputados exigentes: então a verdadeira oposição ao seu Governo; construtiva. Desde o primeiro congresso do partido manteve a coragem de criticar para aperfeiçoar. A segurança e solidez das suas afirmações e propostas baseavam-se num trabalho aturado, numa prática estupenda de recolha e estudo de elementos consistentes.
Profundo conhecedor da identidade da sua ilha, das capacidades como das limitações, defendeu-a com galhardia. Enalteceu com persistência os valores da terra natal, lutou pela sua valorização alcançável com a eliminação dos bloqueios ao desenvolvimento. A paixão por S. Jorge não lhe tolheu a visão e o espírito de deputado da Região. Foi um dos defensores acérrimos do desenvolvimento harmónico dos Açores, então um objectivo primordial. Integrava por convicção e por acção o espírito dos “deputados das ilhas pequenas”, cujos elementos mais destacados lutavam com respeito, mas com pujança, pelo desenvolvimento e afirmação de cada uma das ilhas como contributo para a valorização da Região.
Frederico Maciel, ao invés de muitos que continuaram na luta parlamentar pelo progresso regional, optou, como outros, pela candidatura ao poder local, mais aliciante e concreta em termos de realizações palpáveis e imediatamente visíveis. Como Presidente da Câmara Municipal das Velas liderou a realização de mandatos de obra esplêndida, não apenas ao nível físico. Já naqueles recuados anos ele se empenhou no desenvolvimento cultural, objectivo essencial que ainda hoje muitos autarcas descuram. Distinguiu-se como membro e presidente da sua Assembleia Municipal. E fora do PSD.
Não o louvo pela amizade que nos ligou e pela fraternidade em tantas lutas. É por ficar objectivamente para a história, por mérito próprio. Também como criador do Jornal “Correio de S. Jorge”, como empenhado Provedor da Santa Casa da Misericórdia, como persistente investigador e escritor.
Seguramente todo o seu percurso tem também a marca dos valores adquiridos no Seminário de Angra, numa época onde ali se formaram – uns para o sacerdócio e outros para a vida profissional e pública – homens destacados.
Deixou um legado de firmeza, coragem, luta, trabalho e espírito de servir. Oxalá aproveitasse aos políticos deste tempo; e aos vindouros.