Museu Carlos Machado assinala dia de São Francisco de Assis com conferência. Investigadora defende que o paradigma franciscano “é uma chave de leitura” de Armando Côrtes-Rodrigues e até, da atualidade.
A inspiração da “doutrina” de Assis na obra de Armando Côrtes Rodrigues é para a investigadora universitária Madalena Teixeira da Silva uma constante que se traduz não só na sua obra poética mas também nos seus exemplos de vida.
A ideia foi deixada ontem na conferência “O franciscanismo em Armando Côrtes-Rodrigues”, que teve lugar no Convento de Santa Bárbara, em Ponta Delgada, no âmbito do Ciclo de Conferências “A Bíblia na Literatura e nas Artes”, promovida em parceria entre a Comissão Diocesana para a Cultura e o Museu Carlos Machado.
“Apesar dos sete séculos que os separam e de tão diversos contextos sociais e históricos não é difícil encontrar na obra do escritor ecos de exemplo e valores de São Francisco”, diz a docente universitária.
As seis virtudes que São Francisco defendia – rainha sabedoria, pura sensatez, dama pobreza, santa humildade, santa caridade e santa obediência- acabaram por inspirar desde a infância Armando Côrtes Rodrigues que, segundo Madalena Silva revelou “uma predisposição que o leva a regressar à terra natal e aos seus valores afastando-se do meio revolucionário que contaminava os espíritos dos jovens universitários, particularmente os que se juntavam em torno do Orpheu”, conclui.
Também ele gostava das gentes do campo, do mar e tinha um amor pela natureza “tomada como maravilha suprema de criação divina e em cuja contemplação se deleitava com profunda religiosidade”, acrescenta a investigadora.
Segundo a conferencista também Armando Côrtes Rodrigues acreditava na “religião do Amor e num pai comum”.
Tal como São Francisco, o poeta micaelense não conseguia compreender o materialismo da sociedade moderna “a pressa, as preocupações materiais, o barulho e a agitação que afastam o homem desse encontro consigo mesmo e da capacidade de amar”.
A conferencista lembrou mesmo uma passagem do autor a propósito da fábula da cigarra e da formiga “que apenas transmite uma imagem negativa” porque o principal objetivo da vida “não deve ser amealhar sem descanso”. Para o poeta a “caridade e os valores do cristianismo não podem ser dominados”.
“Só compartilhando o lugar social dos pobres é que se pode dar origem a uma cultura de vida”, conclui a investigadora citando Côrtes Rodrigues.
O ciclo de conferências “A Bíblia na Literatura e nas Artes”, iniciou-se a 5 de abril deste ano e é uma iniciativa conjunta do Museu Carlos Machado e da Comissão Diocesana para a Cultura.
Tem procurado abordar, em conferências de periodicidade mensal, as diversas expressões que os textos bíblicos assumem nas linguagens plásticas e literárias, sobretudo como fonte de inspiração para criação de expressão cultural no mundo ocidental.
De acordo com a Comissão Diocesana para a Cultura, o momento de “fragilidade” que se vive convida “ a rever práticas e valores para se repensar rumos e para se refrescar a qualidade dos reencontros com a comunidade”.
O responsável diocesano por esta Comissão, Duarte Melo, acrescenta ainda, que “a igreja tem esta função de lugar de reflexão que junta pessoas de diferentes sensibilidades sempre numa perspetiva muito dialogante”.
Por isso, este “programa de intervenção cultural”, que tem por base a influência do legado cristão, procura reavivar junto da população açoriana a memória de textos e imagens estruturantes de uma tradição que está permanentemente presente no quotidiano atual.
Para além das memórias do pensamento, a Comissão pretende desenvolver um projeto de artes plásticas. O repto já foi lançado a 14 artistas plásticos açorianos para recriarem uma das catorze estações da Via Sacra.
“O caminho da cruz é o caminho da humanidade, sempre na perspetiva de quem parte em busca da luz” adianta Duarte Melo.
As peças serão posteriormente acolhidas pela Sé Catedral de Angra do Heroísmo.
O trabalho desta Comissão, durante este ano, terminará com uma exposição de fotografia dedicada a Representações do Sagrado. O objetivo é que o evento possa contar com uma fotografia de cada uma das paróquias açorianas, selecionada a partir de um concurso fotográfico organizado em cada uma das comunidades paroquiais.