O Espírito Santo “é de todos” e “rompe algumas barreiras criadas pela tradição ou leis canónicas” diz bispo de Angra

Foto: Igreja do Espírito Santo, Fall River

D. Armando Esteves Domingues presidiu pela primeira vez às Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra, em Fall River, e sublinhou o quanto a sociedade precisa de uma “sinfonia de dons desta lógica trinitária para se humanizar”

O Espírito Santo “é de todos” e tem uma linguagem “inclusiva e percebida por todos” afirmou esta tarde (manhã em Fall River) o bispo de Angra na concelebração da Coroação das Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra, que terminam esta segunda-feira em Fall River.

A partir da liturgia de Pentecostes, proclamada na concelebração, presidida pelo bispo de Fall River, D. Edgar da Cunha, e que reúne os luso descendentes de toda a costa leste dos Estados Unidos, D. Armando Esteves Domingues, destacou que a devoção e costumes próprios destas festas, o espírito de partilha e o “trabalho conjunto e intergeracional” mostram que o Espírito Santo não é “apenas de alguns mas de todos”.

“O Espírito Santo é de todos, rompe mesmo algumas aparentes barreiras criadas pela tradição ou leis canónicas” afirmou o prelado.

“ Como naquele dia de Pentecostes, precisa-se uma fé genuína que ilumine a vida e o agir; uma fé que mostre uma Igreja que, como nas origens, seja capaz de sair das portas do templo e ter uma linguagem inclusiva e percebida por todos” explicitou ainda, destacando que a evangelização passa hoje sobretudo por uma dimensão “cultural e dialogante, pela escuta do outro e daquilo que pode trazer ao bem de todos”.

“A sociedade precisa desta lógica trinitária para se humanizar, de uma espiritualidade transbordante que não dê lugar a discriminações, não admita a pobreza, a miséria, a fome ou as desavenças” disse ainda, apelidando esta lógica de uma “verdadeira sinfonia de reciprocidade de dons”.

“Se existem pobres e miseráveis, sentam-se à mesa connosco, são coroados por nós e envolvidos numa fraternidade sem limites de crença, raça ou condição social. Estas festas recompõem profeticamente aquela humanidade nova, fraterna e universal que caracterizou as comunidades cristãs das origens e deveria iluminar as atuais” sublinhou ainda.

“Sempre que quisermos fazer das estruturas da Igreja algo meramente humano, sem espírito Santo, erramos. Precisamos de fazer como o povo açoriano e nós aqui: falar do Espírito Santo, festejá-lo com espontaneidade, verdade e sentimento, fazê-lo de nossa casa e do mundo” frisou D. Armando Esteves Domingues ressalvando que o mundo de que fala “não é uma fantasia”.

“É o nosso mundo, com as suas tragédias, os seus dramas, as suas esperanças… É o mundo vítima da grande tentação de ser autossuficiente, vítima do orgulho coletivo que pretende marginalizar Deus, acreditando sentir-se mais livre. É o mundo que deseja a justiça, o verdadeiro progresso, a paz, que tem consciência dos seus vazios e insuficiências, que experimenta a sua fragilidade e o seu sofrimento”. caracterizou.

A partir da experiência já vivida nestes três dias de festa – a abertura, com a bênção das insígnias e das 366 pensões (esmolas) de carne, pão e vinho; o cortejo etnográfico e agora missa com coroação- , D. Armando Esteves Domingues elogiou o trabalho intergeracional e desafiou os luso descendentes a não abdicar da sua fé.

“A fé, hoje, aprende-se fazendo experiência, aprende-se com a mente, mas também com o coração, porque é ao coração que o Espírito Santo se dirige, sem precisar de palavras” disse o bispo de Angra que afirmou sentir-se em casa, “como se efetivamente fosse mais uma ilha do nosso Arquipélago”.

O prelado afirmou que este testemunho da Igreja será sempre contra-corrente e nunca será “comodo, plausível, óbvio ou inócuo”.

“Daqui sai um apelo: acreditai nos dons que recebestes e desenvolvei-os. Nunca fecheis os olhos diante de alguma situação de ausência de Deus. Correi aí, porque Ele está lá e sempre esteve”, disse ainda.

“Este Evangelho convida a surfar esta onda do Espírito e acreditar ser possível construir entre os homens a fraternidade universal já inscrita no relato do Pentecostes”.

“(Jesus) Veio ensinar o amor ao próximo, a potência do amor recíproco e a responsabilidade social do crente comprometido. Ele deixou-nos as marcas deste encontro entre Deus e o homem. Compete a nós entender e viver esta `mística do encontro´ para sabermos viver a escuta, o acolhimento, a capacidade de colaborar, de procurar juntos e percorrer percursos comuns”, afirmou.

“Nestas festas, dizemos mais `nós´ do que ´eu´, porque o encontro entre cristãos não gera só um belo coletivo, permite o encontro com o Senhor Ressuscitado que nos prometeu o seu Espírito Santo e nos faz um só como Ele e o Pai”, concluiu.

Celebradas anualmente desde 1986, são, porventura, as maiores festas religiosas da comunidade açoriana residente na costa leste dos Estados Unidos, e incluem um desfile etnográfico, o bodo de leite, a distribuição de pensões e a Missa com coroação.

As festas deste ano têm como mordomo Herberto Silva, que pelo segundo ano consecutivo está na organização destas festividades iniciadas por Heitor de Sousa.

 

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