O Deus de Jesus Cristo

Esta é a terceira reflexão do Bispo de Angra, D. António de Sousa Braga, para a Quaresma de 2014.

IMAGENS DE DEUS (3)

 

O Deus de Jesus Cristo

Ninguém jamais viu Deus, tal como Ele é em Si mesmo. Todavia, Deus não nos é totalmente invisível. Tornou-Se visível, quando enviou o Seu Filho ao mundo: em Jesus, podemos ver o Pai (cf. 1 Jo 4, 9). Portanto, se queremos saber como é Deus, temos de olhar para Jesus Cristo: Ele é a imagem de Deus invisível (Col 1, 15).

Nas palavras e gestos de Jesus, temos a representação verdadeira do Deus vivo. Que não tem nada a ver com o Deus fanático e só de alguns. Os próprios inimigos reconhecem que Jesus não faz acepção de pessoas. Não polemiza com os supostos ateus. Elogia a mulher fenícia e os samaritanos. Toma refeições com pecadores e publicanos.

 

 

Opôs-Se a todo o tipo de privilégios. Rompeu com a mentalidade da época, admitindo no Seu círculo restrito e habitual, um grupo de mulheres, que Lhe foram fiéis até ao Calvário, tendo sido as primeiras testemunhas da Ressurreição.

Estamos, pois, longe da imagem masculina ou feminina de Deus. É também claro que o Deus de Jesus Cristo não é o Deus dos privilegiados, nem Deus dos filósofos ou dos teólogos. Ele louva o Pai, porque oculta as coisas verdadeiramente importantes aos sábios e entendidos e as revela aos humildes e pequeninos. Só quem tiver um coração de criança é que poderá compreender e aceitar os valores do Reino.

Jesus dá-nos a imagem de um Deus-Amor, aliado da humanidade. Aos profissionais da religião não se cansa de repetir: quero misericórdia e não sacrifício; amar o próximo vale mais do que todos os holocaustos. A Sua Mensagem não tem nada a ver com uma espiritualidade desincarnada. Faz acompanhar a Sua Palavra com gestos de libertação,  sinal da presença do Reino de Deus. Faz dos discípulos «pescadores de homens» – corpo e alma. Não só de almas.

Recomenda que a espiritualidade não seja pose, para dar nas vistas. Tanto no jejum, como na oração e na esmola, nada de jactância, para receber aplausos, mas tudo, no segredo do coração, com verdade e autenticidade.

Para saber como é que, como seres humanos, podemos parecer-nos com Deus e ser perfeitos como Ele, é preciso olhar para Jesus. São Suas estas palavras: Não busco a Minha vontade, mas a d’Aquele que me enviou (Jo 5, 30); «Abba», Pai, tudo te é possível, afasta de Mim este cálice! Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres (Mc 14, 36); não quisestes os sacrifícios, as ofertas e os holocaustos pelos pecados… Eis que venho para fazer a Tua vontade (Heb 10, 8-9).

«Ao falar de Deus, Jesus fazia referência à Sua experiência de vida, da natureza e dos seres humanos. Não creio que haja outro livro sagrado – como o Evangelho – em que se mencionem tantas coisas da vida quotidiana, em que Deus esteja tão perto das crianças e das mulheres nas suas lides domésticas, dos camponeses e dos idosos… Há memórias e narrações de banquetes e de bodas, de noivos… Alguém assim, é alguém que saboreia a vida e que daí sabe tirar ensinamentos sobre Deus» (José luís Cortés, Um Deus Chamado Abba, Estrela Polar, 2003, p. 156-158).

 

É assim o Deus de Jesus Cristo. Para Ele, a vida «sabe» a Deus. E Deus «sabe» a vida.

 

+ António, Bispo de Angra

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