O desporto e o diálogo na vida

Foto: Igreja Açores/GM

Por Carmo Rodeia

A Igreja Católica organizou no domingo passado um encontro inter-religioso na praça diante da Catedral de Nôtre-Dame, em Paris, para relançar a trégua olímpica.

Esse foi o pedido do Comité Olímpico Internacional, que mantém viva a memória da celebração realizada nos Jogos de Paris há 100 anos.

“Vamos testemunhar a fraternidade e rezar juntos pelo dom da paz entre as nações”, disse o bispo Gobillard, responsável da Conferência Episcopal Francesa para as Olimpíadas.

No dia da abertura dos Jogos, o próprio Papa enviou uma mensagem onde repetiu o apelo veemente às tréguas em todos os conflitos espalhados pelo mundo, especialmente naqueles que são mais visíveis e que mais mortes e vítimas, de toda a espécie, têm gerado.

Como se estas tréguas fossem um momento de fazer uma revisão de vida e pudéssemos todos parar para dialogar e podermos, a partir desse diálogo contruir relações mais fraternas. Porque, o diálogo “não é orgulhoso, não é agressivo, não é ofensivo. A sua autoridade é intrínseca pela verdade que expõe, pela caridade que difunde, pelo exemplo que propõe; não é comando, não é imposição. É pacífico; evita maneiras violentas; é paciente; é generoso”, como escreveu São Paulo VI na sua primeira encíclica Ecclesiam suam, publicada a 6 de agosto, de 1964, em Pleno Concílio Vaticano II.

Afinal essa foi uma das grandes novidades da missão de Jesus propondo um “diálogo de salvação” já que “não obrigou fisicamente ninguém a acolhê-lo; foi um formidável pedido de amor que se constituiu numa tremenda responsabilidade para aqueles aos quais foi dirigida. Todavia, deixou-os livres para corresponder a ela ou recusá-la” num “propósito de correção, de estima, de simpatia, de bondade por parte de quem a estabelece; exclui a condenação apriorística, a polémica ofensiva e habitual, a vaidade da conversa inútil”, acrescenta o Papa nessa primeira carta encíclica do seu pontificado.

O diálogo, enfatizava ainda o papa Paulo VI, é “a união da verdade com a caridade, da inteligência com o amor”, sublinhando que a Igreja deve dialogar com o mundo em que vive e os crentes os seus grandes protagonistas. E é desse diálogo que nasce a conversão; no preciso momento em que eu percebo que a minha salvação depende da salvação do outro.

Quantas vezes a nossa lógica, infestada pela ambição do poder, nos faz pensar que a salvação, a nossa salvação, depende da morte de outros.  Vejamos como o governo de Israel atua em relação à Palestina, no coração da Terra de Jesus; ou atendamos ao que pensa o Irão de Israel, ou a Rússia da Ucrânia… Para uns viverem os outros têm de morrer. É assim que impera a lei do mais forte em vez da lei do Amor construído e fortalecido pelo diálogo.

Infelizmente esta é a tese humana vigente, às vezes até mesmo dentro das Instituições como a Igreja, quando debaixo de um aparente clima de consenso, de braços cruzados e orelhas moucas, dificilmente nos suportamos e toleramos.

Como diz na referida encíclica Paulo VI: “ninguém é salvo de fora”. Só com a conversão interior, a conversão do coração, podemos salvar-nos, olhando para a salvação do outro como sendo o único caminho para a nossa própria salvação.

“Vamos testemunhar a fraternidade e rezar juntos pelo dom da paz entre as nações”, dizia o bispo Emmanuel Gobillard, já aqui citado. Gosto de pensar no desporto como uma oportunidade para mobilizar o melhor de cada pessoa e da humanidade. Como também gosto de pensar a Igreja como esse lugar…Mesmo diante de algumas noites mais escuras, que temos de respeitar e aceitar. Porque a salvação é mesmo para todos, todos, todos!

 

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