Por Carmo Rodeia
Celebramos este domingo o 49º dia Mundial das Comunicações Sociais, a única comemoração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II (decreto ‘Inter Mirifica’, 1963), que antecede sempre o Pentecostes.
Na mensagem para este ano o Papa Francisco apontou a importância de “aprender a narrar”, num desafio lançado a todas as pessoas para que não se tornem apenas consumidores de informação mas narradores do quotidiano.
“Narrar significa hierarquizar e isso implica uma capacidade crítica de escolha. Consumir informação é saber escolher”, disse Francisco que aponta a família como o núcleo por excelência para essa aprendizagem.
A mensagem deste ano vem na sequência da do ano passado onde o Papa nos exortava a colocar os meios de comunicação ao serviço de uma “cultura do encontro”.
O Evangelho, que lemos todos os dias, exorta-nos a sermos testemunho, mais do que por palavras, por gestos.
Na semana que terminou e na que agora começa vivemos todos suspensos dos media pelas piores razões. Primeiro foi o vídeo do bullying da Figueira da Foz. A seguir veio o assassinato brutal de um adolescente por um rapaz um pouco mais velho. Logo depois a noite de violência em que degenerou a festa do Benfica no Marquês de Pombal. Por fim, verdadeira cereja em cima do bolo, as imagens de polícias a espancarem dois adeptos do Benfica enquanto uma criança, filha de um deles, assistia chorando, protegida por dois polícias de que ninguém fala.
Todas estas imagens foram amplamente difundidas pelos media tradicionais e pelas redes sociais, onde se espalharam como fogo em mato seco. Aqui, acompanhadas dos mais selváticos comentários, incentivando uma espécie de justiça popular palavrosa, ao jeito da idade média, que acaba invariavelmente na condenação, porque a natureza humana não precisa da companhia das leis para condenar através da perversão e da humilhação.
As redes sociais, as tais onde se deveria propor um encontro, destilam veneno. Indiscriminado. Lançado por jovens e por adultos.
O rosto das vítimas e dos agressores corre na rede de forma viral, sem acautelar que estas pessoas, muitas delas menores, nunca mais terão um dia só de sossego no resto das suas vidas.
Ter consciência das consequências dos nossos atos é algo que nos distingue como adultos e como educadores. Não é mais do que isso e muito menos será uma desculpabilização dos atos em si.
Do bullying físico passámos ao bullying verbal.
A ira e a raiva fazem parte da natureza humana. Mas, hoje, por via das redes sociais está a ganhar uma dimensão assustadora. Todos participam nela sem pensar nas suas consequências, invertendo-se mesmo os papeis com os adultos a mimetizarem comportamentos dos adolescentes.
O Facebook, os novos media, estão a transformar a nossa sociedade numa sociedade de adolescentes.
Ninguém nasce anjo ou demónio. A sociedade, e a família em particular, têm a responsabilidade de educar e socializar; ser referência.
A família é de facto a grande escola da vida. É a célula da sociedade e uma sociedade com regras é aquela onde se ensina às crianças e aos jovens quais os limites e onde moram as virtudes. Isto não é moralismo, é humanismo. Mas quem precisará de reaprender isto: os jovens ou os adultos?