Por Carmo Rodeia
Esta semana a diocese de Angra vai voltar a interpelar a sociedade e os profissionais da comunicação com a V Jornada Diocesana de Comunicação, centrada nas redes sociais “Itinerários para o encontro”.
Pelo quinto ano consecutivo, o Serviço Diocesano da Pastoral das Comunicações Sociais da Igreja, na diocese insular, chama especialistas, académicos, profissionais e leigos em geral a debater os problemas da comunicação da Igreja, das potencialidades da comunicação como forma de evangelizar e de como a igreja pode, através da comunicação social, ajudar o mundo a ser melhor.
Sou jornalista por opção e por convicção.
Considero que um jornalista é uma espécie de cronista da história, sendo chamado a reconstruir a memória dos factos, a trabalhar pela coesão social e a dizer a verdade a todo o custo, sem obedecer a outros filtros que não sejam o dever de informar, esclarecendo e contribuindo para uma sociedade mais instruída, mais informada e mais capaz de tomar decisões e fazer escolhas.
Valorizo imenso a comunicação e nem sempre achei, como continuo a não achar, que para a Igreja ter uma boa comunicação precise de ter muitos meios de comunicação.
Aprendi, desde cedo, que mais importante do que ter a propriedade dos meios o que importa é saber fazer conteúodos que interessem à esmagadora maioria das pessoas, sem ter muitas vezes alguns custos onerosos que inviabilizam depois a sobrevivência desses mesmos meios. Aliás, a história da comunicação social da igreja, está cheia desses exemplos.
Boas histórias, como nós gostamos de sublinhar na profissão, são histórias sempre boas, isto é, têm sempre valor-notícia. Mesmo nos meios generalistas, mais avessos à temática da religião ou sem uma exata perceção do interesse e da importância de ler os sinais do tempo à luz da fé, que não é propriamente sinónimo de beatice.
A tarefa que o digital nos coloca é por isso muito mais desafiadora: alivia-nos, por um lado, do fardo financeiro mas cria-nos muitas responsabilidades. Desde logo, saber viver neste ambiente que molda a nossa forma de pensar. Já não se trata apenas de usar a tecnologia como instrumento mas saber viver no ambiente por ela criado, sem embarcar na sua esquizofrenia. O ambiente digital nunca pode substituir o ambiente físico; os cheiros , os sabores e os afectos, como aquele abraço reparador que tanta falta nos faz, não se vislumbram na net mas lá cabem todos os amigos e amigas, onde quer que estejam. Lembro-me uma vez do Padre António Spadaro, estudioso destas questões na Universidade Gregoriana, em Roma, ter afirmado que tinha um aluno seu, nigeriano, que lhe dizia que amava o computador porque nele cabiam todos os amigos e as pessoas de quem ele gostava. No fundo, o computador era para ele o modo de permanecer em contacto com a família, com os amigos, com o seu ambiente. Por isso, o desafio é saber de que forma esta família se encontra mesmo.
A Igreja tem dois mil anos de sabedoria ligada à comunicação, à relação. Igreja e rede estão destinadas a encontrarem-se porque aquilo que funda a rede são as relações e a comunicação de uma mensagem. Ora, desde Jesus, e ele era um comunicador como nenhum outro foi, que a Igreja assenta a sua essência na comunhão e na missão de anunciar a boa nova do Evangelho ao mundo. Naturalmente, que o mal também passa à mesma velocidade do bem, existem riscos sim, mas o que é a vida sem eles?
Se calhar, o que nos tem faltado, na maioria das vezes, é capacidade de arriscar. E medo de inverter a ordem das notícias para dar a voz a quem não tem, de contar boas notícias que criem amizade social, de construir comunidades de pensamento e de vida capazes de ler os sinais dos tempo, como nos convoca diariamente o Papa Francisco. Não tenho dúvidas de que é mais confortável vivermos nos espaços onde sempre habitámos e partilharmos a nossa verdade com quem nela acredita. Mas o comodismo não evangeliza fora da tribo. E, se calhar é lá que devemos estar.
Estamos todos convocados para participar neste debate, que prossegue já na próxima quinta feira, dia 24, no Seminário Episcopal de Angra.