Por António Pedro Costa
Na pequena diocese de Angra, nascida à beira da maresia, há quase cinco séculos, os dias são de esperança, em que o povo de Deus, sedento do transcendental e embora vivendo na sua grande maioria de costas voltadas para os seus vetustos templos, espalhados por este torrão insular, prioriza a piedade popular, nos seus cultos ancestrais do Espírito Santo, ainda com alguns resquícios do medo fatal de ofensa ao Divino.
Na missa de ação de graças pela forma como decorreu a primeira reunião do Conselho Pastoral Diocesano, o órgão com maior representatividade na diocese, no tempo de D. Armando Esteves Domingos, um bispo cujo coração palpita com a batida dos mais humildes e um homem de olhar cândido e voz serena, apareceu junto ao altar empunhando, de forma inesperada, um báculo inaudito, símbolo de amor e dedicação ao seu rebanho.
Causou-me espanto aquele cajado aparentado a uma cruz entrelaçada por um terço dos romeiros de S. Miguel, e encontrado ao acaso onde repousava na sacristia da capela do Centro Pastoral Pio XII, parecendo-me um sinal luminoso e inspirador.
Foi gratificante o impacto do momento, pois depararmo-nos face a face ao retrato do pastor espiritual, cuidando e guiando o seu rebanho, no particular os fiéis açorianos. Assim como um pastor protege e conduz as suas ovelhas, o Bispo esteve durante todo o Conselho Pastoral presente, num silêncio ensurdecedor, como que a amparar e a guiar aquela pequena porção do povo crente desta Diocese insular.
Uma das preocupações nos trabalhos manifestada é estar consciente de que a Igreja vive inserida no mundo e também é mundo, pelo que é importante incrementar estruturas de diálogo com a Cultura, com a Economia, com a Política, e com a sociedade em geral, de modo a que ela não chegue tarde e com respostas sempre negativas aos desafios e contradições que o mundo lhe coloca, desde a fome que grassa, passando pelos problemas de lidar com os sem abrigos às dezenas pululando, ou com os excluídos da sorte com tanta sede do transcendental.
Por outro lado, de forma ousada, o Conselho não deixou passar desapercebido o ato eleitoral que decorria, enquanto se encontrava reunido, congratulando-se com a forma como decorreram as eleições para o Parlamento Europeu em Portugal, alegrando-se com o facto de entre os eurodeputados portugueses se encontrar três açorianos, na esperança de que eles representem e defendam da melhor forma possível a nossa Região.
O lugar dos leigos é no mundo, disse-se, e há que passar o testemunho junto de todos, todos, todos, nunca esquecendo o mundo onde estão os jovens, ou seja, nas universidades, nas empresas, no mundo do trabalho em geral, dentro dos casais em qualquer situação marital em que se encontrem e mesmo junto dos namorados, e daqueles que estão perdidos em busca de um propósito, arrebanhando-os nas comunidades vivas.
No final do encontro diocesano, o Prelado deixou uma mensagem central, ao apelar para que toda a Igreja prepare atividades para os outros, os que estão no “século”, em vez de se preocupar a preparar tudo para as “ovelhas gordas”, numa bela e forte imagem transmitida pelo Papa Francisco, pois a sua missão é estar presente nas estruturas temporais, nas encruzilhadas sociais, no meio do mundo. Se não conhecermos o mundo nada temos para lhe oferecer.
No entanto, neste processo, enfatizou D. Armando, importa estar sempre atento à tentação de “clericalizar” o leigo, utilizando a expressão: “não estraguem os leigos”, pois eles podem e devem contribuir para ajudar a enfrentar os desafios da sociedade ou dos novos estilos de vida com exemplo e dedicação, oferecendo não apenas palavras de fé, mas ações concretas de amor e solidariedade, sempre ocupando o lugar que lhes cabe, à luz do Concilio Vaticano II.
Aquele encontro diocesano foi também uma oportunidade para se conhecer melhor muitos dos que caminham no mundo e se dedicam a passar o testemunho, irradiando alegria e esperança e a preparar as celebrações da criação da Diocese de Angra. Os 500 anos estão aí, é já amanhã.