Por Tomaz Dentinho
Nos dias 20 21 de abril decorreu na Praia da Vitória mais um encontro sobre o projeto da Fundação para a Ciência e Tecnologia designado AIR, Interações Atlânticas de Investigação nos domínios do espaço, da atmosfera e do oceano. Estiveram presentes mais de 250 políticos, cientistas e empresários da América do Norte e do Sul, da Europa, de África e da Ásia. Um projeto que pretende criar nos Açores um nó de uma rede internacional que se dedicará a captar e tratar dados do espaço para melhorar a gestão da atmosfera e dos recursos do oceano através de projetos de investigação e de formação.
Embora as Conclusões Preliminares tenham sido aprovadas por aclamação as apresentações dos vários delegados permitiram identificar diferentes perspetivas sobre o projeto. Os países desenvolvidos têm capacidade para promoverem a ciência espacial para objetivos de longo prazo. Os grandes países emergentes como a Índia e a China apresentaram os seus projetos espaciais e estão interessados da troca de serviços e de conhecimento. Os grandes países em desenvolvimento como o Brasil, a África do Sul e a Nigéria estão muito interessados no fortalecimento do capital humano para responder às necessidades urgentes das suas pessoas e dos seus sítios. Finalmente os países atlânticos estão interessados em utilizar o seu potencial geográfico e humano para participar em investigação do Espaço da Atmosfera e do Oceano que lhes permita não ficarem à margem da globalização.
A questão é saber como responder aos objetivos dos vários interessados? Como promover a cooperação de universidades, governos e empresas de uma rede internacional de investigação Atlântica com um nó nos Açores? Como integrar os interesses das pessoas e dos sítios na investigação do Espaço, da Atmosfera, dos Oceanos e dos Dados gerados pela observação satélite?
Primeiro não se trata de explorar o espaço como fazem os países desenvolvidos, mas de usar o espaço para gerir a terra nomeadamente a atmosfera, os oceanos e os dados fornecidos pelos satélites. Segundo é necessário responder aos desafios dos países em desenvolvimento, como o Brasil, a Nigéria e a África do Sul, que sofrem grandes impactos das mudanças climáticas designadamente nos mais pobres com secas, faltas de água, erosão, inundações e crescimento do nível do mar. Finalmente é preciso responder às preocupações dos países atlânticos aos direitos de propriedade dos recursos oceânicos e ao seu uso sustentável.
A questão é saber se as agências espaciais da Índia, da Europa, da China e dos Estados Unidos vêm vantagens comparativas no lançamento de satélites dos Açores. Essa vantagem não está apenas nas características geográficas da Terceira ou de Santa Maria mas também da vocação dos Açores para equilibrar grandes potências mundiais e das capacidades científicas que foram sendo criadas na oceanografia e nas ciências da atmosfera.
Defendo que os inputs da India, da China, da África do Sul, da Nigéria e do Brasil são essenciais. Argumento que os Açores têm possibilidade de ligar a atmosfera e o oceano à pobreza, à exclusão e ao uso insustentável dos recursos oceânicos. Finalmente o ponto comum é a melhoria dos recursos humanos e os passos dados nos Açores nesse sentido dão a experiência necessária a perspetivar a globalização dos processos de aprendizagem.
A redução da presença americana na Terceira deixou um enorme conjunto de capacidades em termos de hospitalidade, acomodações, infraestruturas, equipamentos, porto e aeroporto capazes de albergar 2000 pessoas. Essas capacidades podem facilmente albergar um campus universitário internacional de 2000 estudantes, investigadores e docentes. De fato a Terceira pode receber a Malaca Europeia da Globalização liderada pela Ásia, em volta do Cabo da Esperança, porque a esperança é sempre boa.