Por António Pedro Costa
Trata-se de um livro do escritor espanhol Jose Miguel Cejas Arroyo, com biografias e testemunhos de dissidentes bálticos, que viveram no período soviético e cujas vidas mostram a fé de uma Europa que viveu por detrás da cortina de ferro e que ainda é muito desconhecida para nós, mas cheia de vigor e criatividade, que contrasta com a decadência e o cansaço de tantos outros lugares do nosso Ocidente.
Apesar destas lutas e todo o período negro que viveram, a nova geração olha para o Ocidente com esperança e tem expressado a sua vontade de adesão à União Europeia, pois está firmemente convicta de que não renunciará à sua soberania ou liberdade individual, conquistada após o período soviético.
Esta é uma obra que oferece um olhar profundo sobre as vidas dos dissidentes do Báltico no período soviético e sua experiência de fé. Este contraste entre vitalidade e decadência pode fornecer pontos de vista interessantes sobre a condição humana e as complexidades da história e da cultura europeias. Esta é uma leitura fascinante para quem está interessado em história, política e as experiências pessoais dos indivíduos que viveram sob regimes totalitários.
Para compilar as numerosas histórias inesquecíveis relatadas no livro “O baile após a tempestade”, Jose Miguel Cejas Arroyo viajou durante três anos pela Estónia, Letónia e Lituânia, e pelo sul da Noruega e Finlândia, até à fronteira com a Rússia.
Alguns de seus personagens sofreram os castigos da prisão, o exílio ou tortura. Outros sofreram ostracismo social e deportações para a Sibéria. Todos tiveram que enfrentar o politicamente correto.
O autor relata a história de músicos, pintores, diretores de cinema ou atores de teatro. Outros, repórteres de guerra, médicos, católicos, ortodoxos ou luteranos, cantores de rock. Eles estavam unidos pela sua rebelião e pela fidelidade às suas próprias convicções. São todas histórias verídicas de dissidentes.
Eles emergiram como figuras corajosas e resilientes, vivendo num regime opressivo e autoritário que governava a União Soviética. Eram uma variedade de indivíduos que, apesar das diferenças das suas profissões e origens, compartilhavam uma determinação comum: resistir à tirania e defender suas convicções.
Para muitos artistas, a expressão criativa era uma forma de resistência. Músicos e compositores escreviam letras que desafiavam o status quo, pintores retratavam a vida sob o domínio soviético de maneiras que incomodavam as autoridades, e diretores de cinema exploravam temas proibidos ou tabus, utilizando sua arte como uma ferramenta para despertar consciências e promover a mudança.
Muitos repórteres de guerra e jornalistas arriscavam as suas vidas para expor a verdade por trás da propaganda do Estado, enquanto os médicos desafiavam as políticas de saúde pública e a censura para fornecer cuidados adequados aos necessitados, muitas vezes enfrentando represálias severas pelos seus atos de compaixão.
A fé foi abafada e não receberam uma educação cristã porque católicos, ortodoxos e luteranos enfrentaram perseguições se optassem por cultivar a religião dos seus antepassados, muitos resistindo à pressão para renunciar às crenças familiares. Alguns chegaram inimaginavelmente a experiências religiosas incríveis, permanecendo fiéis aos seus princípios espirituais, mesmo diante da ameaça constante de punição.
Embora as suas histórias possam variar em detalhes, todos estes dissidentes relatados no livro de Jose Miguel Cejas Arroyo compartilham uma coragem inabalável e uma determinação inquebrantável de resistir à injustiça.
As suas histórias inspiram não apenas pela sua bravura individual, mas também pela unidade de propósito que transcende as diferenças individuais, mostrando que a verdadeira liberdade reside na fidelidade às próprias convicções, mesmo em face da adversidade mais desafiadora.