Pe. José Júlio Rocha é o convidado do programa Igreja Açores e comenta os últimos dados da pobreza a nível mundial e regional
Os cristãos devem unir-se à volta do Papa Francisco porque os apelos que ele faz e o que defende “é o único caminho” para garantir a dignidade do seu humano, afirma o assistente da Comissão Diocesana Justiça e Paz numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo, dia 28, às 12h00, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.
A propósito da cimeira de Davos, na Suiça, e da mensagem enviada pelo Papa Francisco aos líderes mundiais reunidos nesta estância turística da confederação helvética, na qual o sucessor de Pedro apelava para a criação de condições para “a construção de sociedades mais inclusivas, justas e solidárias”, o sacerdote açoriano afirma que ninguém pode ficar indiferente ao sofrimento de milhões de pessoas.
“É preciso que os cristãos se unam à volta do Papa Francisco” porque “os apelos que ele faz são a única solução e as medidas que aponta são o único caminho” adianta o Pe. José Júlio Rocha.
“Não podemos ver as pessoas extremamente ricas, que não sabem o que fazer ao dinheiro, ao lado das crianças de ventres inchados, como se fossem abutres à espera que elas morram. Isto é profundamente injusto” esclarece enfatizando que “não podemos dormir descansados enquanto estas coisas prosseguem”.
O Pe. José Júlio Rocha alerta para as consequências sociais que resultam de um “estilo de vida egoísta” ou baseado na “opulência”; fala das “discrepâncias socioeconómicas” entre as pessoas, e defende a promoção da justiça social, com um papel mais ativo da igreja.
“O dinheiro não tem razão. Pode dar, e dá, para fazer presidentes como na América; o dinheiro dá poder mas não dá razão”, afirma o sacerdote que sublinha o papel importante da igreja nesta denuncia.
“A principal missão da igreja, que existe não por causa de Deus mas por causa do homem e da sua salvação, é lutar pela dignidade do homem, por isso os cristãos têm de unir a sua voz à do Papa Francisco” reforça, destacando que ele “é a voz dos que não têm voz e que são a maioria”.
A propósito da cimeira de Davos, o sacerdote lembra ainda que “é pouco mais do que um show off”, onde está ausente a parte mais importante da população e onde se mostram “países cada vez mais beligerantes” e uma economia que se “transformou num monstro”.
“As vozes do verdadeiro Cristianismo têm que se fazer ouvir: temos de nos preocupar com as questões ambientais; com o desperdício brutal de bens quando há gente a morrer de fome; temos de deixar de pensar que tudo é descartável” acrescenta lembrando que hoje “parece que estamos piores do que há 40 anos”, quando o Papa Paulo VI refletiu sobre estas questões e já apontava a Paz como o novo nome do progresso.
“Só há paz quando não há pobreza” e hoje “há cada vez mais pobres”, conclui o sacerdote.
Na entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores, o sacerdote fala também das dificuldades nos Açores e da dependência de 10% da população açoriana do rendimento Social de Inserção.
“É preciso um pensamento para alterar esta pobreza estrutural que grassa nos Açores; não podemos resolver os problemas atirando-lhes dinheiro para cima” afirma responsabilizando também a sociedade por esta forma de olhar a pobreza.
A entrevista vai para o ar este domingo depois do meio dia.