Francisco multiplicou gestos simbólicos para manifestar atenção às vítimas da pandemia, num ano absolutamente atípico para a igreja e para o mundo
O Papa viveu em 2020 um ano marcado pelo confinamento, sem viagens internacionais, e pelos gestos simbólicos para manifestar atenção às vítimas da pandemia.
O sétimo ano de pontificado foi o momento de maior distanciamento das multidões, por força das medidas preventivas ligadas à prevenção e combate à pandemia do Covid-19. Uma constipação, que levou ao cancelamento da agenda do Papa desde o dia 27 de fevereiro; o agravamento da situação em Itália, no mês de março, por causa do aumento de casos confirmados de contágio pelo novo coronavírus, provocou o afastamento forçado de Francisco das pessoas, presidindo ao ângelus, à Missa matinal e à audiência pública em privado, com transmissão através da internet.
A única viagem aconteceu em fevereiro, quando o Papa visitou a cidade italiana de Bari, encerrando um encontro dedicado às migrações e aos conflitos no Mediterrâneo.
Depois da pandemia, Francisco iria a Roma, encontrando uma cidade deserta no dia 15 de março, para rezar na Basílica de Santa Maria Maior e na igreja de São Marcelo al Corso, onde se venera um crucifixo considerado milagroso que, segundo a tradição popular, pôs fim à peste de 1522.
A 27 de março, num dos momentos que vai ficar para a história do Vaticano, o Papa presidiu no Vaticano a uma celebração extraordinária de oração, perante a pandemia da Covid-19, na qual afirmou que “só juntos” será possível superar esta crise.
“Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos, todos”, disse, numa Praça de São Pedro deserta.
A pandemia marcaria a Semana Santa, altura em que o Papa prestou hoje homenagem a todos os que “morrem por amor”, ao serviço dos doentes, falando em direto num programa da televisão pública italiana.
No dia de Páscoa, antes da bênção ‘Urbi et Orbi’, Francisco evocou as vítimas da Covid-19, alertando para o risco de “indiferença” perante o sofrimento de populações mais desfavorecidas.
Uma ideia reforçada uma semana depois, na igreja do Espírito Santo em Sassia, junto à Praça de São Pedro, pedindo que ninguém fique para trás, no pós-pandemia.
“Pior do que esta crise, só o drama de a desperdiçar, fechando-nos em nós mesmos”, seria o alerta deixado na solenidade de Pentecostes.
Face à crise pandémica, Papa criou um fundo solidário para ajudar os trabalhadores da Diocese de Roma que se encontram em dificuldades, ofereceu ventiladores a vários países, defendeu um cessar-fogo global e repetiu apelos por uma vacina para todos.
Já a 8 de julho, Francisco presidiu a uma Missa no Vaticano para assinalar o 7.º aniversário da sua viagem à ilha italiana de Lampedusa.
A 30 de setembro, 16.º centenário da morte de São Jerónimo, o Papa publicou uma carta apostólica sobre a Bíblia, ‘Sacrae Scripturae affectus’ (O afeto pela Sagrada Escritura), na qual questiona o desconhecimento de um texto fundamental do Cristianismo e da Cultura ocidental.
A atenção do Papa chegaria à inédita celebração do 13 de maio em Fátima, sem peregrinos, quando a Covid-19 que levou ao encerramento do recinto.
Numa mensagem à 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o Papa defendeu uma “mudança de rumo”, a nível global, depois da pandemia da Covid-19, com particular atenção aos mais novos.
A educação foi uma das áreas prioritárias, nestes meses, com alertas para uma “catástrofe educativa” provocada pela pandemia, que afastou milhões de crianças das escolas e fez aumentar as desigualdades.
A 15 de outubro, o Papa lançou um ‘Pacto Educativo Global’ (Global Compact on Education), propondo sete compromissos por um mundo diferente, na promoção do diálogo ente culturas, da paz e da ecologia integral.
Outro encontro global juntou 2 mil participantes, de 120 países, incluindo Portugal, no evento online ‘A Economia de Francisco’, encerrado a 21 de novembro, pelo Papa, com o desafio à criação de uma “narrativa económica diferente”, com a ajuda das novas gerações.
Um dia antes, Francisco tinha reforçado em Roma os seus apelos a uma resposta conjunta à pandemia de Covid-19, considerando que a comunidade mundial “viaja no mesmo barco” e ninguém pode “salvar-se sozinho”.
“Só nos salvamos juntos, encontrando-nos, negociando, desistindo de combater-nos, reconciliando-nos, moderando a linguagem da política e da propaganda, desenvolvendo percursos concretos para a paz”, disse, durante uma cerimónia pelas vítimas da pandemia, que reuniu líderes religiosos e políticos no Capitólio, centro de Roma, iniciativa promovida pela comunidade católica de Santo Egídio.
A 24 de maio, o Papa assinalou no Vaticano o quinto aniversário da sua encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’ com o lançamento de um ano especial para “chamar a atenção para o grito da terra e dos pobres”.
Este seria um tema central de 2020, com a Santa Sé a lançar um “manual” de aplicação da encíclica ecológica e social, deixando mais de 200 recomendações em defesa do ambiente e da vida humana.
Já em outubro, o Papa defendeu a necessidade de agir com “urgência” para evitar “mudanças climáticas radicais e catastróficas”, apelando a uma “transição energética”, ao intervir numa conferência global online dedicada ao tema.
A palestra integrou a ‘Countdown’, iniciativa que visa “acelerar soluções” para as alterações climáticas, com mais de 50 oradores – ativistas, líderes religiosos e políticos, artistas, cientistas e empresários.
No 5.º aniversário do Acordo de Paris, o Papa falou aos participantes na cimeira convocada pelas Nações Unidas, com um compromisso concreto: a Santa Sé tem como objetivo a redução total de emissões, até 2050.
Internamente, o ano fica marcado pela reforma financeira no Vaticano e pela publicação de um relatório inédito sobre o “doloroso caso” do antigo cardeal McCarrick, arcebispo emérito de Washington, acusado de abusos sexuais.
A 28 de novembro, com as limitações impostas pela pandemia, o Papa presidiu no Vaticano ao sétimo consistório do seu pontificado – 13 novos cardeais, desde colaboradores da Cúria Romana a responsáveis de várias partes do mundo, do Ruanda ao Brunei, e o guardião da comunidade franciscana de Assis.
A 22 de novembro, o ano do Papa voltou a cruzar-se com Portugal, quando Francisco entregou, na Basílica de São Pedro, a Cruz da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), cuja próxima edição internacional decorre em Lisboa (2023).
“É um passo importante na peregrinação que nos levará a Lisboa, em 2023”, disse, no final da Missa a que presidiu, na Basílica de São Pedro.
O final do ano começou a apontar ao futuro: a Santa Sé anunciou que o Papa Franciso vai visitar o Iraque, entre os dias 5 e 8 de março de 2021.
Francisco anunciou a 8 de dezembro a convocação de um Ano dedicado a São José, para assinalar o 150.º aniversário da sua declaração como padroeiro da Igreja universal, feita pelo Beato Pio IX a 8 de dezembro de 1870.
Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2021, o Papa apontou a “cultura do cuidado” como rumo para o novo ano.
Neste ano fica ainda a Encíclica Fratelli Tutti (todos Irmãos), na qual Francisco traça um cenário de “sombras” para denunciar o que qualifica como “globalismo” do mercado de capitais, que responsabiliza pelo aumento de desigualdades e injustiças sociais.
(Com Ecclesia e Vatican News)