No próximo domingo começaremos o Advento, uma palavra de origem latina que significa chegada.
É o tempo em que os cristãos se preparam para a vinda de Jesus Cristo, em que Ele se faz presente na vida de todo o ser humano e, de todas as formas, deixa-nos sentir o Seu amor e a vontade de nos salvar.
Recebem este nome as quatro semanas que antecedem o Natal. Este período litúrgico evoca a dupla vinda de Jesus Cristo: a verificada em Belém, quando Ele veio ao mundo, e a que ocorrerá no Seu regresso, no Dia do Juízo.
Por isso, a característica deste tempo, é a preparação para receber o que está para vir, e que para nós cristãos, significa o nascimento humano de Deus, que inaugura um esperançoso ciclo que abre imensas possibilidades.
Pelas fracas luzes da rua, ainda assim mais cintilantes que nos outros dias do ano, percebemos já que o Advento chegou às zonas comerciais, mais cedo do que às igrejas.
E, embora o advento comercial esteja mais contido por via da crise que afetou a generalidade dos países, particularmente Portugal, com muito mais de meio milhão de desempregados, com uma em cada cinco crianças pobres, com mais de 200 mil jovens emigrantes à força, a febre consumista ainda não conseguiu ser substituída pela urgência de solidariedade.
Não aquela que enche os rostos deslumbrados de bondade súbita mas aquela que deveria encher de vergonha aqueles que enriquecem com a crise e que deveria levar os gestores da banca e das empresas privadas e públicas a repartir salários mais ou menos escandalosos, pelo menos uma vez no ano.
Mas, também ninguém disse que o Advento deveria ser para discutirmos estas coisas.
Se olharmos para o próprio enredo natalício percebemos que a vida é menos cor de rosa do que poderíamos imaginar. Já naquela altura em que as benesses e o conforto eram incomparavelmente menores.
O que os atores do Natal vivem em Belém é uma história de instabilidade, perturbação e desconcerto, a começar pelo sítio onde a “cena” se passa- um estábulo, sem qualquer tipo de conforto. A José e a Maria apenas lhes restava um caminho de esperança e confiança, a que hoje podemos chamar fé.
O Advento é, justamente, o alimento dessa esperança porque não nos deixa presos ao presente e desperta-nos uma centelha , que recusa a indiferença e nos dá a opção pela compaixão ativa.
Por isso, é que a alma do Advento é a fé. De quem não se resigna, do amor de quem acredita na solidariedade, da esperança de quem, mesmo perante o horizonte mais escuro, resiste, mas não dispensa sonhar e nem acreditar.
Deus não é o Pai Natal. Com ele devemos relacionar as nossas vidas, não as nossas necessidades. Mas com ele devemos e temos a obrigação de aprender a palavra amar.