Núncio açoriano transferido da Arménia para os Camarões e Guiné Equatorial

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D. José Bettencourt é o novo Núncio da Santa Sé na República dos Camarões e Guiné Equatorial. Papa anunciou esta quarta-feira a sua transferência para uma zona de África onde a liberdade religiosa piorou desde 2021, segundo o Relatório mais recente da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

O arcebispo açoriano D. José Avelino Bettencourt, Núncio Apostólico (Embaixador) da Santa Sé desde 2018, acaba de ser transferido da Geórgia, Arménia e Azerbaijão para as repúblicas dos Camarões e Guiné Equatorial como representante diplomático do Papa, dois lugares onde o extremismo islâmico e o poder ditatorial convivem comprometendo a liberdade religiosa.

O anúncio deste novo posto como Núncio Apostólico da Santa Sé foi feito esta quarta-feira, antecipando que a transferência se fará no mês de outubro. Será a segunda vez que estará em África numa posição diplomática. Em 1999 serviu, como Conselheiro, na Nunciatura do Vaticano na República Democrática do Congo, onde assistiu à guerra civil e ao assassinato do presidente Laurent-Désiré Kabila, em 18 de janeiro de 2001.

Os dois  países para os quais é enviado agora como Núncio, de maioria islâmica, têm registado desde 2021 um agravamento da perseguição religiosa, com ataques de grupos islâmicos extremistas, segundo o relátório da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. O florescimento da radicalização e do extremismo violento na Àfrica Subsariana pode ser atribuído a uma série de factores como a pobreza, a corrupção, a fragilidade das instituições de porder, analfabetismo , desemprego, dificuldade de acesso a recursos, movimentos separatistas e violência intercomunitária, refere o relatório adiantando que os movimentos jihadistas “acabam por preencher as lacunas através de uma ideologização e promessas de acabar com a corrupção”. Nos Camarões, por exemplo, existem três grandes grupos ligados ao Estado islâmico e seus filiados, como o grupo ISWAP ou o Boko Haram. Aqui, os locais debatem-se com conflitos sectários e com ameaças terroristas externas, “com raptos, incluindo mulheres e raparigas cristãs que são com frequência abusadas sexualmente e forçadas a casar com homens muçulmanos”, refere ainda o mencionado relatório.

Quando D. José Avelino Bettencourt foi nomeado bispo, o Papa atribuiu-lhe simbolicamente, a titularidade da antiga diocese de Cittanova, no território da Croácia.

É o primeiro Núncio de origem açoriana e o segundo português depois de D. António Monteiro de Castro. D. José Bettencourt é, ainda, o 20º açoriano nomeado bispo, e enviado para funções fora do arquipélago.

Em quase 500 anos de história têm sido vários os contributos da diocese de Angra para a Igreja no mundo  destacando-se entre outros D. José da Costa Nunes, bispo de Macau e camerlengo durante o pontificado do Papa Paulo VI; D. José Vieira Alvernaz, último Patriarca das Índias; D. Arquimínio da Costa, bispo de Macau; D. Jaime Goulart, primeiro bispo de Timor ou o Cardeal Humberto Medeiros que foi bispo de Boston.

Natural dos Açores (Velas de São Jorge), mas educado no Canadá, onde chegou apenas com 3 anos de idade, acompanhado pela família, o novo bispo trabalha no serviço diplomático da Santa Sé desde 1999 com o título de conselheiro de Nunciatura (equivalente a conselheiro de Embaixada).

Monsenhor José Avelino Bettencourt fez carreira diplomática no Vaticano . Em 2007 foi escolhido como chefe do protocolo do Vaticano e por ele passaram  todos os monarcas e chefes de Estado antes de serem recebidos pelo Papa Francisco. Encarregava-se ainda dos procedimentos relativos à credenciação dos novos embaixadores.

Ordenado padre em 1993, o Arcebispo de Otava pediu-lhe, em 1995, para ir para Roma estudar Direito Canónico. Por lá ficou, depois de ter sido convidado para o serviço diplomático da Santa Sé.

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