Segundo ano da Missão País em Vila Franca do Campo terminou este sábado com uma representação de grupo no centro Cultural
Terminou este sábado a Missão País que levou a Vila Franca do campo, em São Miguel, 58 jovens universitários de norte a sul do país, incluindo os Açores. Durante uma semana os jovens missionários conviveram com a comunidade desempenhando tarefas no Lar de Idosos, na Creche, na Escola e no limite até na rua onde davam nas vistas com as suas camisolas roxas, cor da missão este ano, em que o lema foi tirado do Evangelho de São João, “Não se perturbe o vosso coração”(J0 14, 1-6).
Para Daniel Soares foi mesmo isso que aconteceu. Com 20 anos, o estudante açoriano do curso de Medicina, na Universidade dos Açores assumiu o lugar de chefe da Missão este ano, na sua segunda missão.
“O ano passado foi a primeira Missão País realizada nos Açores e quando soube que ia realizar-se aceitei logo o desafio, principalmente porque precisava de férias, mas ao mesmo tempo sentia como um bichinho a chamar por dentro para me ligar mais a Deus. Muitas vezes sentia-me chamado a seguir as palavras e os ensinamentos que Deus tem, mas nunca tinha sentido o respirar de Deus dentro do meu coração e só com a Missão País é que consegui concretizar esse feito” refere o jovem de São José, Ponta Delgada, que encarnou completamente o papel de liderança neste projecto que além da componente de voluntariado tem uma dimensão espiritual muito forte.
“A minha missão é, no fundo, dar os instrumentos aos nossos queridos missionários para que possam espalhar a fé, a bondade e a esperança acima de tudo”.
E não é pouco, se pensarmos num grupo de jovens que retira uma semana do seu tempo para fazer o bem, centrando-se no outro e cuidando-o.
“É bastante gratificante ao final de uma semana, que nos transforma completamente e que acaba por ficar nas nossas memórias para o resto das nossas vidas, ver acontecer esta transformação, que é interior e também passa por uma maior proximidade à igreja, que sinto que desde que entrei na faculdade descurei. Por outro lado, conhecer mais jovens universitários, na mesma situação que eu, ou com os mesmos interesses que eu, também é muito bom” refere Afonso Couto, de Lisboa, onde estuda no ISCTE.
“A Missão País é só um início para aquilo que é o caminho do missionário depois da missão. Nós começamos por, principalmente no primeiro ano, nos entregar a esta missão, perceber mais ou menos quais são os valores que vamos representar, apesar de todos nós já sabermos um pouco o que é, os valores da Igreja, da fé cristã. Vou à Igreja bastante mais motivado; depois espalhar a palavra, pensar mais nos outros, pessoas que precisam de nós, que ajudamos tanto durante a semana de missão, e não só, continuamos a dar uns com os outros, muitas vezes até combinamos idas à missa juntos, ou jantares, ou o que for, para nos mantermos ligados durante este ano, até ao ano seguinte, até à missão seguinte, ou até ao próximo encontro entre nós”, prossegue o jovem estudante que encontra na Missão valores que são ferramentas para a vida.
“A experiência está a ser muito gratificante porque estou a sentir mesmo que estamos a fazer a diferença aqui na comunidade e também a nível pessoal: o facto de estarmos a conviver com jovens universitários que têm os mesmos princípios que nós, é muito bom para a nível pessoal nos desenvolvermos e desenvolvermos a nossa fé e ir mais longe” refere Matilde Andrade, açoriana, estudante de Medicina na Universidade dos Açores.
É a sua primeira missão mas assegura que ao fim de uma semana sente-se “ completamente preenchida, tanto a nível pessoal como também consigo ver já a diferença na comunidade e o impacto que estamos aqui a fazer”.
“Eu faço parte da comunidade da creche, fiquei colocada numa creche e temos de ir todos os dias,. Estou na sala dos bebés, dos 3 aos 10 meses, e está a ser incrível” afirma a jovem de Ponta Delgada, que entrou na Missão “para sair da rotina” e “viver a fé de outra forma”.
Foi também o que aconteceu com Tiago Bernardo, um dos mais velhos missionários da Missão País em Vila Franca do Campo, quando entrou há seis anos, com 18. É estudante do mestrado em Finanças. Natural de Santiago do Cacém, no Alentejo, entrou na Missão País através da Universidade do Algarve, depois de ter contactado com jovens missionários deste projecto, quando estava no secundário.
“Já andava na catequese, já andava em movimentos, mas esse primeiro contacto de ver cerca de 60 jovens da minha escola fez também criar aqui este entusiasmo e esta vontade de um dia, quando for eu, quando tiver oportunidade, quero muito fazer este projeto” refere.
“Nesta missão estamos no lar e na residência, os idosos, onde fazemos acompanhamento, temos aqui um papel bastante importante naquilo que é a dinamização das atividades com os idosos, na companhia, de fazê-los sair um pouco da sua zona de conforto, de estimulá-los um pouco, que acaba por ser difícil pelo isolamento, pelas famílias também que não conseguem dar o apoio. Então nós durante esta semana somos como família e somos cerca de 10 netos que ganham nesta semana”, diz ainda.
“Há a ideia generalizada que a Igreja não é jovem. E a Missão País tem a particularidade de mostrar o contrário: somos só jovens, universitários, que abdicam de uma semana de férias para estar aqui em Missão”, prossegue sublinhando o fruto destes encontros.
“A Missão País acaba por nos dar esta graça de termos jovens da nossa idade que também acreditam em Deus, alguns que procuram e que se transformam, e isso alimenta-nos e cria uma sede em nós de procurarmos e querermos e acredito que a Missão País é uma catapulta para vocações, para outras missões, para outros tipos de projetos, então acaba por ser um projeto incrível, sempre próximo de Deus” refere aproveitando para contar a história do seu amigo Bernardo que entrou para a missão como simples voluntário, o que “já não seria pouco” e que ao fim de quatro anos quis ser batizado e crismado e percebe agora “o que é levar Cristo aos outros”.
Ou seja: “A Missão País tem um impacto tão forte nas vidas das pessoas que é impossível guardarmos para nós sem espalhar o quão felizes nós fomos aqui” refere, por sua vez, Vasco Diniz um dos chefes de oração desta missão. Tem 21 anos, é de Lisboa e estuda Gestão na Católica. Esta é a sua terceira missão, pelo segundo ano nos Açores, um lugar que visitou “por ser um plano de Deus” pois não estava na rota das suas opções missionárias. “Foi assim comigo no ano passado e com a maioria dos missionários que aqui esteve, mas a experiência de Vila Franca foi tão boa que todos nós que aqui estamos viemos por primeira opção”, refere. E quando questionado se a Missão se entranha nos Jovens, com esta dimensão espiritual nos restantes dias do ano, responde: “para estarmos em unidade com Deus, para querermos efetivamente ser, dizermos e considerarmos, para nós próprios, não para os outros, mas para nós próprios, católicos e bons católicos, e estarmos em unidade com Deus, é preciso sermos coerentes, ou seja, é preciso sermos, professarmos a nossa fé sempre, levarmos Deus a todo lado”.
E prossegue: “Eu não posso querer só levar Deus e ter Deus comigo no meu cantinho de oração, no meu domingo, na minha missa de domingo, na minha conversa com aquele familiar que se calhar é mais devoto, temos que levar sempre Jesus, não posso descurar Jesus quando estou com um grupo de amigos que se calhar não é tão católico, e que pensa de outra forma”.
“Se nós não somos coerentes, nós próprios já estamos fragmentados, nós próprios já não somos uma unidade, como é que nós podemos querer estar em unidade com Jesus?” interpela.
“Sabemos que há de haver um momento em que vamos cair, vamos precisar sempre da ajuda de Deus, mas quando cairmos, Deus vai estar lá, Deus não vai vacilar, e nós temos essa certeza, e é essa certeza que a Missão País nos dá, e se calhar é essa a verdadeira transformação, porque se calhar vimos para cá sem essa certeza, e descobrimos essa certeza cá na Missão País”.
É isto que o projeto valoriza, corrobora Bernardo Tiago.
“É preciso chegar ao jovem, ou seja, aquilo que se fazia se calhar já não é o melhor, não é o mais correto, e este tipo de projetos, como a Missão País, acaba por ser uma resposta muito interessante e positiva porque como é de jovens para jovens, esta proximidade de quem prepara, de quem pensa, de quem reza, proporciona a outros jovens, uma aproximação”, conclui.
A Missão País é um projeto católico de universitários, com origem na Universidade Nova de Lisboa, que tem como objetivo levar Jesus às Universidades e evangelizar Portugal através do testemunho da fé, do serviço e da caridade. Foi criada há 22 anos e já passou por 232 lugares, em 73 missões realizadas por 4140 jovens. Realizam-se anualmente 70 missões em todo o país, de Norte a Sul de Portugal; desde o ano passado também nos Açores, a última região do país a acolher este projecto. Em todas elas, nos momentos de oração, com que começa e acaba o dia, são tidas em conta várias intenções e por cada intenção reza-se uma conta que, somada com todas as contas, há de dar origem a um novo terço que acompanhará outra missão no ano seguinte. O terço é colocado no ícone da Mãe Peregrina que acompanha todas as missões e é rezado todos os dias pelos jovens missionários antes da celebração eucarística em que participam no final de cada dia da Missão. No espaço onde pernoitam há sempre um lugar de oração com exposição permanente do Santíssimo Sacramento.
Este ano, o lema da missão foi tirado do Evangelho de São João: “Não se perturbe o vosso coração”(J0 14, 1-6).
A Missão País, em Vila Franca do Campo, regressa no próximo ano para o terceiro de um itinerário que é comum ao projeto, que se desenvolve durante três anos em cada local.
Um dos símbolos da Missão País é a Mãe Peregrina que concede três graças: a graça do acolhimento, a graça da transformação e a graça do envio. Também conseguimos perceber o porquê dos três anos na mesma comunidade.
Os 50 missionários ficaram alojados no centro dos Escuteiros de Vila Franca do Campo, passaram os dias a visitar instituições. A missão terminou como terminam todas as missões: com um teatro inspirado no tema e feito a partir das emoções colhidas durante a semana.