Projeto nasceu em 2003 para favorecer a integração inter-religiosa e é vista «com muito orgulho» pelas comunidades do país.
Já está nas bancas a edição 2014 do Calendário do Tempo, projeto inter-religioso a cargo da Editora Paulinas e que este ano tem como tema a “conciliação entre o trabalho e a vida familiar”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Rui Oliveira, um dos responsáveis pelo desenvolvimento deste trabalho, sublinha o objetivo de fornecer às comunidades, mais do que uma resenha das celebrações e práticas religiosas, um produto que permita refletir também sobre a “cidadania”.
O calendário foi criado em 2003 com o apoio do Estado para tentar corresponder aos desafios de um “período de grande fluxo de emigrantes” e à necessidade de integrar membros das mais diversas comunidades religiosas.
Uma problemática que já vinha de trás, desde o período da descolonização, nos anos 70, e que começou a ser colocada em Portugal “de forma mais premente” durante os anos 90.
A dissolução dos territórios portugueses em África atraiu gradualmente para o país muitas comunidades hindus e muçulmanas, vindas da Guiné Bissau e de Moçambique, exemplifica Rui Oliveira.
Durante todo esse período, verificaram-se “alguns casos esporádicos de incompreensão, na forma de tratar alguns membros dessas comunidades”.
Numa dessas histórias, conta o colaborador da editora Paulinas, um homem muçulmano “foi preso no período do Ramadão, forçado a alimentar-se na hora dos outros presos e a comer inclusivamente coisas que estão interditas na sua religião”.
A finalidade do calendário é favorecer a compreensão e integração das tradições de cada comunidade religiosa e combater a discriminação, algo que tem sido conseguido.
“As comunidades veem-no com muito orgulho porque são convidadas a participar, é preciso ter a certeza que tudo o que é dito aqui corresponde e não fere nenhuns aspetos de cada religião e nesse sentido cada responsável religioso verifica o trabalho antes dele ser publicado”, salienta Rui Oliveira.
O tema deste ano do calendário vai ao encontro da reflexão proposta pela União Europeia para os próximos 12 meses, “a conciliação entre o trabalho e a vida familiar”.
Sem “fugir aos aspetos fundantes” que nortearam o projeto, a 12.ª edição da obra é preenchida também com textos sobre “as origens e destinos” do Velho Continente, elaborados pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.