Bispo de Angra preside à primeira grande celebração do tríduo pascal- a Missa da Ceia do Senhor- e não esquece uma referência à situação de pandemia que o mundo atravessa e que impede as celebrações comunitárias
D. João Lavrador presidiu esta noite à missa da Ceia do Senhor, na Sé de Angra e, dirigindo-se a todos os diocesanos através dos meios de comunicação social, lembrou, na sua homilia, a importância do gesto do lava-pés, um dos ritos principais desta celebração que inicia o tríduo pascal e simboliza a instituição da Eucaristia.
Embora sem assembleia e sem a possibilidade de realizar todos os ritos inerentes à celebração, por decisão da Santa Sé na sequência das questões sanitárias levantadas pela pandemia do Covid-19, o bispo de Angra centrou a sua homilia na liturgia da Quinta-feira Santa e deteve-se numa explicação sobre o gesto do lava-pés, momento em que antes da última ceia Jesus lavou os pés aos discípulos.
“Este gesto de Jesus Cristo desarma-nos na nossa arrogância, nos nossos preconceitos, na forma de fabricarmos a nossa religião” afirmou D. João Lavrador ao sublinhar que como os discípulos também os cristãos de hoje são convidados a servir.
O gesto de Jesus “exorta ao serviço humilde e simples. Provoca os poderes do mundo para assumirem a missão de serviço aos mais pobres e excluídos, mas sobretudo, convoca os Seus Apóstolos para serem testemunhas desta nova forma de estar no meio do Seu povo servindo”.
Não se trata apenas de um rito de purificação, adiantou, “estamos perante a conversão e o lavar de todo o pecado que nos impedem de participar no banquete com Cristo e n´Ele estabelecer a comunhão de vida que brota da Ceia pascal”.
Para o bispo de Angra “numa cultura individualista, egocêntrica e auto-referencial, necessitamos de um banho de graça divina para nos transformarmos naquilo que verdadeiramente somos, pessoas em partilha comunitária”.
D.João Lavrador afirma, por isso, que “urge deixarmo-nos transformar, na mente e no coração, pela revelação que Jesus faz de Si mesmo” e através do seu exemplo sermos capazes de nos centrarmos no essencial e daí partirmos ao encontro dos outros.
“Este é o grande desafio que nos é lançado não só à nossa inteligência mas sobretudo à nossa experiência de cristãos”, afirmou propondo um itinerário assente em três pressupostos: “centrarmos a nossa vida cristã na Eucaristia”; “Aceitarmos, que pela regeneração baptismal somos transformados em pessoas de comunidade e de relação” e, por último, “a missão de serviço”.
“A Eucaristia é alimento de todo o Apóstolo que é enviado ao meio do mundo para testemunhar a Boa Nova da Salvação. Fá-lo em atitude de serviço à pessoa e à sociedade” esclareceu.
Por causa do estado de emergência em que Portugal e o mundo se encontram, a celebração decorreu sem fieis, que desde o passado dia 16 estão impossibilitados de participar fisicamente na Eucaristia.
“Nas circunstâncias atuais de impossibilidade de nos congregarmos em comunidade à volta do mesa eucarística, pelos efeitos desta pandemia, somos convidados a implorar do Senhor da Vida e dos acontecimentos que nos liberte deste flagelo e que nos alimente a fome eucaristia e o desejo de participar ativamente na comunidade cristã”.
O bispo de Angra deixou ainda uma palavra sobre a caminhada sinodal, agora interrompida pelas circunstâncias do momento.
“Em plena caminhada sinodal a que nos propomos a nível da diocese, mobilizando todas as comunidades cristãs, provocando a participação activa de todos os baptizados na missão da Igreja, exige-nos uma consciência muito lúcida da prioridade fundamental da participação na Eucaristia e do dinamismo eucarístico que nos impulsiona para a missão evangelizadora do mundo de hoje”, afirmou.
Nesta celebração, a Igreja recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, iniciando o ciclo central do calendário católico, ligado à morte e ressurreição de Jesus Cristo, este ano com profundas mudanças por causa da pandemia de Covid-19.
“As pessoas e famílias que não podem participar nas celebrações litúrgicas são convidadas a reunir-se em oração, em casa, ajudadas também pelos meios tecnológicos”, recomendou o Papa, este domingo, desde a Basílica de São Pedro, onde celebrou à porta fechada.
Além do rito do Lava-pés, no final da Eucaristia, omitiu-se também a procissão e guardou-se o Santíssimo Sacramento no Sacrário.
Simbolicamente, o altar da celebração foi desnudado, como sinal do despojamento e sofrimento de Cristo. Após a Missa, só volta a existir celebração da Eucaristia na Vigília Pascal.