Professor da Universidade dos Açores deixa no Igreja Açores perspetivas para o ano do Jubileu
A imigração e a integração dos migrantes é um dos grandes desafios colocados por Tomaz Dentinho para o ano de 2025 à Igreja, que celebra o Jubileu da Esperança.
“O desafio é enorme; os imigrantes ainda não chegaram em massa aos Açores mas estão aí à porta e temos de ser capazes de olhar para eles como pessoas e não como intrusos” refere o professor universitário numa entrevista ao Igreja Açores que pode ser ouvida na íntegra em www.igrejaacores.pt
“Este é um desafio para a cristianização: a proximidade de diálogo com outros credos é uma oportunidade fantástica para a Igreja. Mostrar que é de todos e que está próxima de todos , afirmando assim a sua catolicidade”, refere salientando que não se trata de converter mas de dialogar para a integração.
“Há uma incapacidade enorme para integrar os imigrantes e isso cria nas diferentes gerações, daqueles que buscam uma vida melhor e tiveram a coragem de sair dos seus países, problemas que depois se repercutem no futuro” salienta lembrando exemplos como os de França ou da Alemanha, onde a guetização dos migrantes sobretudo de países muçulmanos tem gerado tensões que se manifestam depois em guerrilhas urbanas.
“A discussão não pode situar-se na questão de abertura ou não abertura da porta mas da integração dos que inevitavelmente chegam” refere numa entrevista onde fala da esperança num ano que a Igreja católica definiu como o Ano Santo da Esperança, para assinalar o jubileu que se comemora a cada 25 anos.
“Temos de nos focar na esperança da escuta e da oração mas também da acção: cada um com a sua cruz avaliar o que pode fazer” diz.
“O coração aberto implica inteligência e procurar as causas das coisas, nomeadamente no caso da pobreza, procurar as suas causas, agindo sobre elas”.
“Há uma tentativa recente com as encíclicas de tentar falar nisso, mas a Igreja ainda está de fora deste diálogo, não arrisca no dia a dia, no concreto e na realidade” analisa criticamente.
“Veja-se o caso dos Açores: se há subsídios , se há dinheiro então porque não se resolve o problema da pobreza? Temos de ultrapassar a mentalidade assistencialista, que se se situa apenas na consciência do coração, para passarmos à ação concreta e mais duradoura” afirma.
“Se calhar precisamos de retomar o diálogo entre Jesus e Pilatos para perceber o que devemos fazer. Jesus falou com Pilatos, que lavou as mãos, e como os `pilatos´ hoje são eleitos pelo o povo, se calhar a Igreja precisa de dialogar com este povo para perceber como intervir. Vi essa coragem em Timor e em Cuba; aqui se calhar vejo menos” refere, salientando sobretudo a atuação dos poderes públicos.
“Quem trata dos pobres tem pouca sensibilidade para a sua realidade concreta; tratam-se os pobres como se trata o mau aluno de forma burocrática. A abordagem aos pobre é muito institucional e pouco fraterna” refere, apelando aos que lutam contra a pobreza para serem “mais criativos, livres e autónomos” olhando para “pessoa e não para o papel”.
“Há pessoas que ficam para trás; foi assim no passado e há de continuar a ser assim. Temos os pobres que teremos sempre, embora devamos fazer tudo para lhes garantir o devido acompanhamento, mas temos também os dependentes, que foram criados por nós, convencidos de que dar dinheiro resolveria o problema”, afirma ainda.
“Não fomos capazes de apoiar estas pessoas de forma a que o seu trabalho fosse uma realidade e tivesse efeitos reprodutivos”.
“Não podemos manter gerações atrás de gerações na dependência do estado sem qualquer índice de produtividade. Separemos esta `pobreza`da pobreza que resulta do desenvolvimento e da incapacidade que as pessoas possam ter, por baixo nível de escolaridade, por exemplo, de se adaptar a novos contextos”, lembra.
“Olhemos para a pobreza real e evitemos uma pobreza formal”, enfatiza.
“Considera-se pouco a pessoa para se valorizar aquilo que é o sistema” refere sem deixar de lado a convicção de que o próprio sistema de luta contra a pobreza cria ”dependências inaceitáveis”.
“A economia açoriana, centrada no Turismo, na Agricultura e nas Pescas é fundamental para combater a pobreza: havendo turismo há menos pobres, havendo pescas há menos pobres, havendo agricultura há menos pobres”, conclui.
O ano da Esperança, convida a que “pelo amor, pela compreensão do outro, pela mensagem de Cristo e não pela lei de talião possamos encontrar a paz”.