O Papa afirmou hoje que o objetivo da Igreja Católica, na gestão de casos de abusos sexuais, é “esclarecer tudo”, lamentando que nem todos os seus responsáveis tenham “coragem”.
“Estamos a trabalhar com tudo o que podemos, mas sabe-se que existem pessoas dentro da Igreja que ainda não veem claramente, não partilham… É um processo que estamos a fazer e estamos a levá-lo por diante com coragem, mas nem todos têm coragem”, referiu aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, após uma viagem de quatro dias ao Barém.
Francisco assumiu que, para alguns, “há a tentação de fazer cedências”.
“Também somos todos escravos dos nossos pecados, mas a vontade da Igreja é de esclarecer tudo”, assumiu.
Um jornalista francês perguntou ao Papa os motivos de a Santa Sé não ter divulgado a condenação, do bispo de Créteil, D. Michel Santier, que invocara “razões pessoais e de saúde” para renunciar ao cargo, em janeiro de 2021, mas que teria abusado de dois jovens adultos no início dos anos 90 do século passado.
Já em setembro, após a investigação de um jornal holandês, o Vaticano informou pela primeira vez que impôs “restrições disciplinares” a D. Carlos Ximenes Belo, antigo administrador apostólico de Díli, a partir de 2020, após ter recebido acusações contra o bispo emérito.
Questionado sobre a não divulgação pública das sanções canónicas, Francisco afirmou que a Igreja Católica está “determinada” e “começou a trabalhar, enquanto na sociedade e noutras instituições normalmente se encobre”.
“Nos últimos meses recebi duas queixas sobre casos de abuso que tinham sido encobertos e não foram bem julgados pela Igreja: pedi imediatamente um novo estudo e agora um novo julgamento está a ser feito; há também isto então, a revisão de julgamentos antigos, que não foram bem feitos”, exemplificou.
O Papa sustentou que “agora tudo é claro” e estão a registar-se avanços, pelo ninguém se “deve surpreender que casos como estes surjam”.
“Agora não é fácil dizer ‘não sabíamos’ ou ‘era a cultura da época e a cultura social continua a ser a de esconder’”, advertiu.
Francisco destacou que os problemas dos abusos sexuais acontecem “em todos os lugares”, a começar pelas famílias ou o próprio bairro, algo que considerou “muito grave”, dado que na maior parte dos casos “tudo é encoberto”. “
“Alguns dizem que somos uma pequena minoria, mas (eu digo): se fosse um único caso, mesmo assim seria trágico, porque sacerdote tem a vocação de fazer as pessoas crescer e ao comportar-se dessa maneira, destrói-as”, declarou.
“Para um sacerdote, o abuso é como ir contra a própria natureza sacerdotal e contra a própria natureza social. Por isso, é uma coisa trágica e não devemos parar, não devemos parar”.
O Papa elogiou o trabalho da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores, liderada pelo cardeal O’Malley, arcebispo de Boston (EUA), admitindo que, ao longo das últimas décadas, nem sempre o tratamento das acusações foi igual e “algumas coisas foram escondidas”.
“Fazemos o que podemos, somos todos pecadores, sabe? E a primeira coisa que temos de sentir é vergonha, a vergonha profunda disso”, indicou.
A Igreja, acrescentou Francisco, deve dar “graças a Deus pelas coisas boas que faz” e pedir perdão pelos seus erros.
“Isto posso dizer: temos toda a boa vontade de seguir em frente, também graças à vossa ajuda”, referiu aos jornalistas.
(Com Ecclesia)