Por Renato Moura
Acabou de se comemorar, a 1 de Novembro, o dia de “Todos os Santos”: para todos é feriado gozado, para muitos é dia santo. Um culto com mais de quinze séculos. Numa única celebração se reúnem todos, mesmo os milhões de santos cujo nome não está em nenhum catálogo; para os crentes, todos aqueles a quem Deus concedeu a felicidade eterna.
No dia imediato a comemoração de “Todos os fiéis defuntos”, data na qual multidões cuidam e enfeitam as campas dos seus falecidos parentes e amigos. De uma forma especial recordam os que partiram deste mundo e os crentes rezam por eles, mesmo pelos esquecidos – ou talvez não – ao longo do ano.
Certamente muitos de nós chorarão a vida inteira pelo que não lhes deram em vida, pelo tempo que não lhes dedicaram, pela paciência que não houve, por terem ido sem lhes dizermos que os amávamos; mesmo tendo feito o considerado razoável, mas agora pensarmos que deveríamos ter ido além do possível. Talvez estaremos a sofrer por não ter aprendido tudo o que eles nos queriam ensinar; por não termos sido capazes de apreender as suas lições silenciosas de vida.
Tantos desses antepassados foram sacrificados no acesso ao ensino; foram mártires num ambiente de miséria generalizada; foram vítimas às mãos dos grandes senhores que dominavam a economia e o acesso ao trabalho.
Hoje a esmagadora maioria de nós tem educação e meios que quase todos os nossos não tiveram. Como eu, talvez muitos de nós já tenhamos pensando que se os nossos pais tivessem tido acesso ao ensino e aos meios que dispusemos, teriam realizado muito mais do que nós fizemos ou faremos; teriam sido famosos.
Deixaram-nos a recordação, a saudade, a admiração, exemplos espantosos de vida. Humanos como nós, também não terão sido perfeitos, mas não se crê haver alguém que não retenha algo de muito bom dos seus antepassados. Até das suas imperfeições, das humildemente reconhecidas e das outras, se podem retirar lições.
Mas agora não adianta chorar e eles não apreciarão esse sofrimento. Talvez já não precisem das nossas orações, e sejamos nós a rezar-lhes para intercederem e nos ajudarem nas nossas tribulações.
Não basta recordar. Como os que se foram, também estamos de passagem. Bom seria cuidar a relação com os vivos, para depois não se juntarem mais razões para arrepender. Melhor seria ensinar o que a experiência nos educou. Não só transmitir a herança do conhecimento, dos princípios e valores perenes, do bem, do sentido da vida, aos que estão e para os que virão; mas corajosamente lutar para se manterem activos.