Reitor do santuário do Senhor Santo Cristo da Caldeira profere “sermão da praça” durante a festa
O reitor do santuário do Senhor Santo Cristo da Caldeira afirmou este domingo que só o “inconformismo e a indignação” podem conduzir a uma sociedade melhor.
“Custa-me muito ligar a televisão e ver aquelas crianças a passar forme e a morrer sem culpa, qualquer pessoa, independentemente de ser crente ou não, fica com o coração despedaçado. Nós temos de ser capazes de construir a paz interior e a paz para o mundo” afirmou o padre Manuel António das Matas no “sermão da praça”, momento alto da procissão do Senhor Santo Cristo da Caldeira , que se realiza sempre no primeiro domingo de setembro, dia da sua festa.
A propósito da esperança, tema do próximo jubileu e que dá também nome a uma iniciativa sugerida pelo Conselho Pastoral Diocesano a realizar em 2025 em São Jorge- a Aldeia da Esperança-, o sacerdote citou Santo Agostinho para lembrar que a esperança tem duas irmãs gémeas: a indignação e a coragem.
“Não nos conformemos com uma vida fútil e inútil; que as nossas opções sejam sempre tomadas em função do bem comum” disse sublinhando que “é través do esforço comum que podemos mostrar este construir e fazer uma sociedade mais justa e feliz”.
O sacerdote convidou os presentes a abandonarem atitudes pautadas pelo medo e pela indiferença.
“ A coragem é sermos capazes de o fazer: abandonar o medo, deixarmos o sossego do nosso sofá e ser capaz de modificar e melhorar todas as coisas. É deste nosso querer, deste bem estar aqui, da vontade de levarmos o Senhor Santo Cristo para as nossas casas e lugares que depende a nossa paz, a paz dos nosso familiares e a paz do mundo”, disse ainda ressalvando a importância do silêncio e da oração na vida dos cristãos.
“Olhemos mais para o nosso coração, sintamo-lo e sigamo-lo, porque a razão vai buscar coisas que podem estragar” disse ainda o sacerdote apelando a uma vida centrada em Jesus.
“O coração é o santuário do amor, porque é o lugar de encontro connosco e com o transcendente” disse por outro lado, lembrando a harmonia deste lugar da biosfera que é também um santuário natural. Por isso, o sacerdote destacou a importância do silêncio, a beleza da natureza envolvente, desafiando os peregrinos a ouvirem “o que esta natureza, este mar e esta encosta têm para nos dizer”.
“A nossa sociedade deveria procurar virar a sua vida para dentro” pois é “na intimidade da nossa consciência, no íntimo do nosso coração, que conseguimos compreender a vontade do Senhor Santo Cristo para encontrarmos o sossego para a nossa vida”, concluiu o padre Manuel António das Matas que há 33 anos participa nesta festa do Senhor Santo Cristo da Caldeira, mesmo ainda antes de ser um Santuário Diocesano.
Esta festa é a maior festa de verão de São Jorge e congrega para a Fajã do santo Cristo centenas de pessoas, inclusive de outras ilhas. Este ano, o santuário inaugurou em junho duas camaratas próprias para retiros, que já serviram nesta festa para a pastoral juvenil que sexta-feira organizou uma vigília para marcar o arranque das atividades da juventude na ilha de São Jorge.