Por Renato Moura
Poder e oposição são igualmente importantes. Verdade que, de tão repetida, perdeu muito valor.
Poder e oposição deveriam contribuir, cada um do seu modo, para a resolução dos problemas do povo e para satisfação dos seus legítimos desejos. A escassez de diálogo e a luta feroz e permanente, a que assistimos, faz desacreditar a procura das melhores soluções e suspeitar muita ânsia por manter ou atingir o poder.
O exercício do poder é humano e sujeito a imperfeições e erros; e não é natural que quem o exerce não seja suficientemente humilde e franco para os admitir. Nem sempre derivam de más opções, por vezes das circunstâncias e das avaliações que foi possível fazer no momento. Mesmo sendo graves, é nobre dever reconhecê-los, ainda que sob a pressão das oposições. Se quem está no poder não é capaz de fazer a sua própria avaliação, é um sinal claro de incompetência e de incapacidade para continuar a merecer confiança.
As boas concretizações são o cumprimento de um dever, que confere dignidade, mas jamais legitima a arrogância que, por vezes, se vê grassar nas maiorias; até dentro delas próprias, sem pitada de democracia se e quando quem está no topo da hierarquia não tolera que os seus mais directos colaboradores opinem em sentido diverso! Quem não sabe ouvir e ceder não tem lugar num regime democrático.
As boas práticas democráticas, que são respeito pelos demais, também se aplicam às oposições. É por isso aterrador verificar que algumas vezes há seguidores, militantes ou simpatizantes, que alinham atrás de um líder ou cabeça de projecto, repetindo um discurso destrutivo, sem ideias nem propostas. Ser oposição não é estar contra tudo e sobretudo quando não se tem alternativa para o que se critica acerbamente. Ser oposição também é reconhecer e até louvar sem desvalorizar.
Estar na política com verdade e sinceridade é assumir o dever e ter a coragem de justificar as razões pelas quais alguns não têm o perfil adequado para as funções a que se propõem, pois que as propostas e os projectos, por melhores que sejam, só se concretizam com pessoas.
Nada há melhor para a democracia do que a alternância no poder. A política tem sempre de ser vista como um serviço e uma função transitória. Se em democracia há pessoas indisponíveis para sair ou obcecadas pela manutenção no poder, é um péssimo sinal; como também é inaceitável que quem deseja aceder ao poder não olhe a meios para o atingir.
Em defesa da democracia e da liberdade, recusando qualquer coacção, o povo pode sempre discernir e decidir.