O Papa preside hoje no Vaticano à Missa do Domingo de Ramos, início da Semana Santa no calendário católico, evocando todos os que sofrem com a atual pandemia de Covid-19, com uma mensagem de esperança.
“Hoje, no drama da pandemia, perante tantas certezas que se desmoronam, diante de tantas expetativas traídas, no sentido de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: «Coragem! Abre o coração ao meu amor. Sentirás a consolação de Deus, que te sustenta»”, disse, na homilia da celebração, que decorre à porta fechada.
“Quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde, lembremo-nos que não estamos sozinhos”, acrescentou.
A propagação do novo coronavírus obrigou este ano a profundas mudanças nesta celebração, que habitualmente reúne milhares de pessoas, com ramos nas mãos, na Praça de São Pedro.
Francisco celebrou no altar da cátedra da Basílica do Vaticano, fechada ao público, acompanhado por um cardeal, diáconos, religiosas e alguns leigos, além do coro, reduzido face ao habitual; o espaço, vazio, foi decorado com oliveiras e outras plantas.
Neste cenário, o Papa destacou a importância de celebrar a Semana Santa com a oração e com atenção ao próximo.
“O drama que estamos a atravessar impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor”, declarou.
“Nestes dias da Semana Santa, em casa, permaneçamos diante do Crucificado, medida do amor de Deus por nós. Diante de Deus, que nos serve até dar a vida, peçamos a graça de viver para servir. Procuremos contactar quem sofre, quem está sozinho e necessitado. Não pensemos só naquilo que nos falta, mas no bem que podemos fazer”, disse o Papa.
A homilia aludiu ao sofrimento interior vivido por muitas pessoas, que parecem encontrar-se “num beco sem saída” e na solidão.
“Jesus experimentou o abandono total, a situação mais estranha para Ele, a fim de ser em tudo solidário connosco. Fê-lo por mim, por ti, para te dizer: «Não temas! Não estás sozinho. Experimentei toda a tua desolação para estar sempre ao teu lado»”, declarou o pontífice.
Francisco apresentou uma reflexão da figura de “Jesus como servo”, o que “amou primeiro”.
“O seu amor levou-O a sacrificar-Se por nós, a tomar sobre Si todo o nosso mal. É algo que nos deixa sem palavras. Deus salvou-nos, deixando que o nosso mal se encarniçasse sobre Ele: sem reagir, somente com a humildade, paciência e obediência do servo, exclusivamente com a força do amor”, indicou.
A intervenção referiu-se a duas das “situações mais dolorosas para quem ama”, também vividas por Jesus Cristo, “a traição e o abandono”.
“Queridos irmãos e irmãs, que podemos fazer vendo Deus que nos serviu até experimentar a traição e o abandono? Podemos não trair aquilo para que fomos criados, nem abandonar o que conta. Estamos no mundo, para o amar a Ele e aos outros: o resto passa, isto permanece”, recomendou o Papa.
“É certo que amar, rezar, perdoar, cuidar dos outros, tanto em família como na sociedade, pode custar; pode parecer uma via-sacra. Mas a senda do serviço é o caminho vencedor, que nos salvou e salva a vida”, afirmou.
A intervenção concluiu-se com uma palavra particular às novas gerações, no dia que há 35 anos lhes é dedicado, a Jornada Mundial da Juventude, que em 2020 decorre a nível diocesano – e sem concentração de pessoas, em muitos países, como Portugal.
“Queridos amigos, olhai para os verdadeiros heróis que vêm à luz nestes dias: não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas aqueles que se oferecem para servir os outros. Senti-vos chamados a arriscar a vida. Não tenhais medo de a gastar por Deus e pelos outros”, pediu Francisco.
(Com Ecclesia)