Por Carmo Rodeia
Uma vez mais peço emprestada a estrofe de um verso. Desta vez a António José Forte, inspirada pelo Nicolau Santos, que o serviu num Expresso curto esta manhã.
Sexta feira feira 13, de novembro. Mais um dia numa lista que cresce: 11 de Março, Madrid; 11 de Setembro, Nova Iorque; 7 de Julho, Londres. Um dia mais no rol dos dias de infâmia.
Seis ataques lançados em 33 minutos em três locais distintos. Em Paris, no coração da Europa, na cidade das luzes onde aprendemos os ideais da liberdade, fraternidade e igualdade.
129 mortos, 352 feridos, 80 com muita gravidade. Sete homens repartidos em três equipas, comandadas aparentemente a partir de Bruxelas. Não é a primeira vez!
Provavelmente quase todos cidadãos franceses, de segunda ou terceira geração, jovens dispostos a morrer por um ideal excêntrico, em nome de um Deus que não o pode ser. Não admira. Segundo um relatório do senado francês tornado público em abril deste ano, havia na altura 1 430 franceses no Estado Islâmico, o que representaria 47% dos estrangeiros do Daesh. De acordo com os serviços secretos gauleses, 200 deles tinham voltado a França. Além disso, 152 islamistas radicais estavam já presos no país da república.
Em comum, estes jovens muitos deles adolescentes e outros menos jovens, terão aquilo que Amin Maalouf já há muito denunciou: o falhanço da escola e da sociedade francesas na transmissão dos valores integradores da cidadania democrática e republicana. Em a “Submissão” Houellebecq, fala disso.
O resto da lengalenga já todos sabemos de cor porque já houve quem pagasse com a vida: um ressentimento fanático, e um obsessivo desejo de combater a modernidade, com as armas dos nossos tempos, fornecidas por nós, em nome da geopolítica: armamento de ponta, tecnologia, poder financeiro e propaganda bem organizada.
Quando o inimigo vive na nossa casa e conhece os nossos hábitos, torna-se mais difícil de combater.
Os dirigentes franceses, e bem, não perderam tempo. O Daesh declarou a guerra e vai tê-la, “e nós venceremos”, disse o Primeiro Ministro Fracês. Por este caminho será difícil.
A guerra vai continuar porque o silêncio de uns e a ignorância de outros, regados por interesses mais ou menos circunstanciais, deixarão tudo mais ou menos na mesma. Ou talvez não.
Os governos Ocidentais têm revelado uma conveniente postura ora atacando os aliados funcionais, no Iraque e na Líbia, ora tolerando os regimes autoritários que financiam o fundamentalismo, como a Arábia Saudita, ou os Emirados Árabes Unidos, cujo silêncio é ensurdecedor, para não dizer comprometedor.
Este ataque brutal ao coração do velho continente implicará, por outro lado, o reforço da demagogia anti-Europa, anti-Schengen, anti-imigrantes, anti-tudo.
Ao medo instalado no coração dos homens responderão os políticos radicais com o mau cheiro da intolerância, do protecionismo e do arame farpado. Como na Hungria, onde os muros farpados se erguem não contra terroristas mas contra as suas vítimas. É aqui que os terroristas ganham.
A propósito do Iraque, o Papa Francisco dizia há uns tempos atrás que “Vivemos a Terceira Guerra Mundial, mas em fragmentos”. Destacando que as guerras estão a atingir “um nível de crueldade espantoso”, Francisco afirmou que “é lícito interromper uma agressão, mas não bombardear”. Parar o agressor, neste momento exato, é impedir o seu avanço. E isso só se pode fazer militarmente, com uma boa dose de determinação política e económica. Sem interesses que não seja a defesa da vida e da liberdade.
Às vezes sinto que somos como Frei Tomas: voluntariosos no lamento mas parcimoniosos na ação. Afinal, ninguém está disposto a morrer pela democracia nem pela liberdade. Desculpem, “hoje não é um dia para homens”.