Por Renato Moura
A Fajãzinha, situada na costa ocidental da Ilha das Flores, é uma das sete freguesias que constituem o concelho das Lajes.
Desanexada das Lajes, foi erecta como paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, em Julho de 1676, sendo a quarta mais antiga freguesia das Flores, só precedida pelas sedes de concelho e por Ponta Delgada. A estrutura administrativa e eclesiástica atribuiu-lhe uma jurisdição abrangendo o Mosteiro, a Caldeira, a Fajã Grande e a Ponta da Fajã Grande, esta desanexada então da paróquia de S. Pedro, de Ponta Delgada.
A paróquia ficou a constituir a sede paroquial das Fajãs e só em 1850 o Mosteiro ascendeu a freguesia e a Fajã Grande em 1861.
A Fajãzinha possuía desde 1675 uma pequena igreja e a actual só se começou a construir em 7 de Abril de 1776, sendo um templo de uma enorme dimensão, com três naves, nas Flores só comparável à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz.
A freguesia tem, segundo os sensos de 2021, apenas 71 habitantes, ou seja, exactamente um décimo dos que tinha em 1890 (710) e desde 1950 para cá perdeu quase 300 habitantes (81%). Mesmo já em tempos de vigência do governo próprio dos Açores, ou seja, desde 1981 até 2021 perdeu quase 100 habitantes, o equivalente a 57%.
Mantem-se em actuação, sediada na freguesia, a Filarmónica União Operária e Cultural Nossa Senhora dos Remédios, fundada no início da década de 60 do século passado, a qual depois de uns anos sem actividade, retomou a sua função educativa e cultural, creio que em 1983.
Tudo isto vem a propósito do Concerto de Reis que a referida filarmónica apresentou, na Igreja Matriz de Santa Cruz, no passado dia 8. Foi preenchido por peças de enorme qualidade e de execução extremamente complexa, que deslumbraram quantos enchiam o templo. Há muito vêm surpreendendo, mas agora atingiram um nível jamais esperado neste meio. São cerca de quatro dezenas de tocadores, magistralmente dirigidos pelo maestro José Eduardo. São recrutados em várias freguesias, imaginando-se o esforço e custos envolvidos.
A filarmónica é, há dezenas de anos, a única viva; e muitíssimas antes existiram nas vilas e freguesias florentinas. É um baluarte da cultura musical tradicional. Os dois concelhos e todas as onze freguesias a deviam considerar como sua e através dos orçamentos públicos ajudá-la a sobreviver, assim como as instituições e colectividades locais, que mais não fosse encomendando regularmente actuações.
Clara a demonstração de como querer é poder. Missão distinta. Merece reconhecimento e apoio.