Mural sobre o sentido da vida da `comunidade compassiva´ de São Miguel desloca-se para a Universidade

Espaço de interpelação sobre o sentido da vida é convite a uma reflexão sobre as várias fases da vida de um ser humano desde o nascimento até à morte

Foto: Igreja Açores/CR

Se alguém perguntar “O que quer fazer antes de morrer” certamente achar-se-á estranho mas a pergunta tem um objetivo: que as pessoas parem e vejam que sentido podem dar à sua vida tomando consciência da sua finitude.

A pergunta foi feita no último mês a todos quantos entraram nas instalações da Unidade de Saúde de ilha de São Miguel, junto ao hospital do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada, através do mural itinerante da ComVida-São Miguel Sociedade Compassiva, que hoje será deslocado para a Universidade dos Açores.

O mural itinerante, que faz parte de um projecto mundialmente arrojado de arte urbana- Before I Die-  que já conta com mais de cinco mil estruturas, em 78 países e  35 línguas, propõe uma reflexão sobre as várias etapas da vida, incluindo a morte.  Foi inaugurado no dia 16 de outubro nas Portas do Mar por ocasião do primeiro encontro entre utentes e profissionais dos Cuidados Paliativos na ilha de São Miguel, em parceria com a Associação Sénior da ilha de São Miguel que inaugurou no ano passado uma “comunidade compassiva”, procurando sensibilizar a comunidade para uma atenção mais aprofundada das pessoas que necessitam de cuidados paliativos.

“Este é um mural da vida, que deu esperança a tantas pessoas que aqui escreveram mensagens parando cinco minutos para refletir sobre o sentido da sua vida” afirmou esta manhã na cerimónia de despedida do mural a presidente da Unidade de Saúde de ilha de São Miguel, Sandra Silva.

“Nós somos vida: aqui nesta unidade de  cuidados de saúde primários trabalhamos a pessoa no seu ciclo de vida, desde a gestação à morte e fazemos parte do dia-a-dia das pessoas. Por vezes, estamos todos muito focados nas questões materiais e paramos pouco para refletir sobre outras dimensões e este painel, neste lugar, faz muito sentido porque nos recentra, a nós profissionais de saúde, e aos próprios utentes” refere ainda.

“Foi muito curioso porque também as crianças escreveram neste mural e isso é muito importante porque através da pergunta estamos também a trabalhar o projecto de saúde de cada pessoa: o que é que eu posso fazer para ter qualidade de vida, mesmo doente”, acrescentou.

Este projecto de intervenção cívica pretende alertar as comunidades para a compaixão, valor que se celebra no próximo dia 28, Dia Mundial das Comunidades Compassivas.

As Comunidades Compassivas são grupos que reconhecem que todos os ciclos naturais de doença e saúde, nascimento e morte, e amor e perda, ocorrem todos os dias dentro das órbitas de suas instituições e atividades regulares e tem subjacente a ideia do cuidado do outro.

Em Portugal existem nove comunidades compassivas; a primeira foi criada em 2019. A de São Miguel é uma delas e foi criada em 2023.

Estas comunidades encorajam publicamente, facilitam, apoiam e celebram o cuidado mútuo durante os momentos e experiências mais desafiantes da vida, especialmente aqueles relacionados a doenças que ameaçam a vida e a limitam, doença crónica, fragilidade, envelhecimento e demência, sofrimento e luto.

“Este é um projecto de intervenção cívica e é um convite a uma reflexão sobre a nossa finitude e o nosso papel na vida, desbloqueados de conversas significativas sobre a morte mas sobretudo sobre o cuidado” referiu a presidente da Associação Séniores de São Miguel, Leonor Anahory.

“Se olharmos o mural vemos a partilha de anseios, desejos e necessidades: quero ser avó, quero ser pai, quero criar uma família, quero ver os meus filhos crescer, quero ser feliz, quero saltar de parapente, viajar por todo o mundo, quero viver com qualidade, quer fazer voluntariado, quero viver, viver a vida intensamente… São inúmeros os desejos e as intensões aqui partilhados o que revela uma consciência e uma vontade de resignificar a vida”, refere a enfermeira Beatriz Domingos.

A abertura deste projecto das comunidades compassivas contou no ano passado com a presença do bispo de Angra.

Na ocasião, D. Armando Esteves Domingues afirmou que a compaixão “não pode ser um mero sentimento piedoso, pietista, uma espécie de sentimentalismo perante os que sofrem, mas um sentimento forte que nos faz sentir o desejo de cuidar da vida do outro e pressupõe uma total ausência de vontade de poder sobre o outro. (A esmola pode ser humilhante). A compaixão, como um modo de ser, que traz consigo uma disposição para cuidar do outro, para se dedicar ao outro na tentativa de aliviar a dor e o libertar da situação que a provoca”.

O primeiro objetivo  do projeto é perceber junto de diferentes públicos-alvo, as ideias que cada um tem preconcebidas sobre este conceito de compadecimento diante do outro, de forma a posteriormente semear o conceito da compaixão que pressupõe o `sentir´ e o ´agir´ fazendo a diferença” .

A prática de `Comunidade Compassiva´ surge como uma “estratégia útil inerente ao processo de capacitação da Comunidade”, mediante a criação de uma cultura baseada na compaixão, e “é uma possível resposta ao desafio colocado a uma sociedade em envelhecimento”.

O mural, que é um dos projectos desta comunidade compassiva está agora com a mesma pergunta na Universidade dos Açores.

 

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