Por Carmo Rodeia
O Conselho Pontifício da Cultura (Santa Sé) apresentou esta terça feira a ‘Consulta Feminina’, um organismo permanente que quer dar mais voz às mulheres, composto por mais de 20 representantes de vários países.
O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), explicou à Rádio Vaticano que este novo organismo visa oferecer “um olhar feminino” sobre a atividade deste dicastério.
“Consegue-se introduzir, por exemplo, uma leitura muito mais global, colorida, da realidade dos temas que abordamos, afastando-nos um pouco daquela análise teológico-filosófica, própria da linguagem eclesial”, acrescentou.
A questão ganha um simbolismo acrescido por ter sido lançada na véspera do dia Internacional da Mulher.
Já no passado mês de novembro o Vaticano anunciou a constituição de uma comissão para discutir a questão do diaconado das mulheres.
E, em janeiro, o Papa numa audiência geral das quartas feiras, recuperou a figura bíblica de Judite, a grande heroína de Israel que encorajou os chefes e o povo de Betúlia a esperarem incondicionalmente o apoio do Senhor e assim, ajudou a libertar a cidade da morte.
A narração conta que o exército de Nabucodonosor, comandado pelo general Holofernes, assediou Betúlia cortando o fornecimento de água e enfraquecendo assim a resistência da população. A situação ficou absolutamente dramática ao ponto de estar à beira a rendição consentida. Foi aí que Judite entrou pedindo força e coragem para os momentos de maior aflição, apelando a todos que mantivessem a esperança no Senhor que haveria de se fazer presente. Muitos consideraram-na uma louca.
De uma forma profética, referiu o papa Francisco, aquela mulher convidou a sua gente a manter viva a esperança no Senhor. E aquela esperança foi premiada: Deus salvou Betúlia pela mão de Judite.
Quantas vezes ouvimos palavras corajosas de mulheres humildes, que pensamos, que são ignorantes. Mas quantas vezes, também, percebemos depois que são palavras da sabedoria de Deus, palavras de esperança. São quase sempre assim as palavras das mães e das avós.
Sem a pretensão nem paciência para grandes tratados sobre o papel da mulher na Igreja Católica , basta acompanharmos o trajeto e as propostas do Papa Francisco sobre este tema da mulher na igreja para dizer que ele está naturalmente na primeira linha da atualidade.
Mesmo entre veredas apertadas o assunto tem sido discutido e a partir do debate têm-nos sido apontados caminhos diferentes. E, certamente evidenciados muitos outros já percorridos.
O pontificado do Papa Francisco tem dado, de resto, um contributo inestimável a esse debate não para discutir ministérios onde os homens já estão mas para descobrir outros que sirvam as mulheres, colocando-as em pé de igualdade com a sua representatividade e presença na igreja.
Não se fala já Igreja sem uma dimensão feminina. É o próprio Papa que o diz ao referir as duas dimensões da Igreja: “a de Pedro e dos apóstolos, e a dimensão mariana, que é a dimensão feminina da Igreja”.
Quem é mais importante na teologia e na mística da Igreja: os apóstolos ou Maria? É mais importante Maria. A Igreja é uma mulher, não é ‘0’ Igreja, é a esposa de Jesus Cristo. É um mistério esponsal, e à luz deste mistério, compreende-se o porquê destas duas dimensões. Não existe Igreja sem esta dimensão feminina, porque ela mesma é feminina, argumenta o Santo Padre.
Este ano, através do Centenário das Aparições, voltamos a centrar-nos em Maria e no seu papel como mulher, como mãe, como discípula e como exemplo. Ela assumiu, ao longo da sua vida, vários papéis, como todas nós somos desafiadas a assumir ao longo de cada uma das nossas vidas.
Seremos nós igreja capazes de descobrir a importância deste elemento para a harmonia eclesial ser também maior?