Movimento da Ação Católica Rural em busca de uma revitalização nos Açores

Dirigentes locais lamentam falta de líderes e de gente que se queira comprometer

O Movimento de Ação Católica Rural (ACR) na diocese de Angra está preocupado com a “falta de líderes” e, embora não tema pelo fim do movimento, defende-se um maior investimento na formação de base, logo na catequese infantil.

Com quatro núcleos- três em São Miguel (Ribeira Quente, Ribeira das Tainhas e Rabo de Peixe) e um na ilha Terceira (Santa Bárbara)- a ACR não vai além dos 50 militantes em todo o arquipélago. Números que no entanto não desencorajam nem os dirigentes locais nem os nacionais que este sábado estiveram em São Miguel, num encontro, que teve como finalidade “procurar estratégias para revitalizar o movimento”.

“Nos últimos anos a distância tem sido considerável e nós sentimos que era importante virmos cá para relançar pontes” com os núcleos dos Açores disse ao Sítio Igreja Açores o líder nacional do Movimento Pedro Lavrador, que sublinha esta ideia de “pontes” para reafirmar a sua convicção de que “há condições objetivas para revitalizar o movimento” e, sobretudo, para um trabalho conjunto “mais próximo”.

Entre as estratégias para reaproximar os núcleos regionais e o nacional, ficou o convite a uma participação diocesana no Encontro Nacional que se vai realizar em Aveiro, a 17 de maio, com a Família como tema de fundo e outro para uma participação da diocese de Angra no Conselho Nacional de Julho, em Viana do Castelo.

Foram também feitos convites para participação no Encontro Nacional de Formadores e no Seminário de maneira a que o trabalho “seja mais acompanhado”.

“Ficámos muito satisfeitos pelo facto de termos duas jovens no Movimento aqui nos Açores. Isso dá-nos a esperança da continuidade, apesar das dificuldades”, sublinha o Pe Querubim Silva.

Entre as sugestões para ir ao encontro das necessidades locais está, também, a possível realização de um campo de férias para jovens, um instrumento de sensibilização e cativação para a ACR, o que seria importante para “ lançar semente do movimento em termos juvenis”.

“A dispersão geográfica pode ser uma limitação ao carácter diocesano do Movimento, mas nós vamos dar passos pequenos, primeiro ao nível da paróquia, seguindo o nosso lema dos três P´s- Pouco Pequeno e Possível- esperando que o contágio de vizinhança se faça e possa ser alargado à ilha e depois à diocese”, sublinha o responsável da Equipa Nacional, sempre de olhos postos na juventude.

De resto este é o grande constrangimento regional, segundo uma das dirigentes mais antigas. O envelhecimento do movimento e a falta de líderes locais- até pelo envolvimento em outros movimentos e solicitações- é “um embaraço real”.

Matilde Rodrigues, lidera o núcleo da Ribeira das Tainhas, que reúne de 15 em 15 dias, lembra que o Movimento teria maior pujança no arquipélago se “fosse possível envolver mais gente nova, a começar logo na catequese e também numa aposta formativa nos princípios e valores da Ação Católica”.

Um problema que o núcleo da Ribeira Quente, que a par do de Santa Bárbara na ilha Terceira, é o mais forte na diocese de Angra em número de militantes e em ação concreta, não sente tanto.

“É óbvio que se fossemos mais era melhor mas atualmente a Ação Católica domina a paróquia em termos de pastoral. Fazemos catequese, fazemos reflexão bíblica, estamos nos escuteiros… houvesse mais líderes e seriamos ainda mais intervenientes”, sublinha Genoveva, a líder do movimento, na Ribeira Quente e na ilha de São Miguel, que garante que “está a entrar gente nova, apesar de tudo”.

É, aliás, nestas duas paróquias (Ribeira Quente, em São Miguel e Santa Bárbara, na ilha Terceira) que a ACR tem uma dimensão social “muito grande” seja ao nível da ajuda aos mais desfavorecidos, seja na liderança de algumas reivindicações em prol do bem comum.

“No passado a centralidade da vida era muito feita à volta da Igreja e por isso a Ação Católica era forte. Começávamos na catequese, íamos para os jovens e depois havia o grupo dos adultos…isso permitia uma grande continuidade e uma cobertura”, lembra o Pe Silvino Amaral, fundador da Ação Católica na diocese, da qual chegou a ser assistente diocesano.

De resto, o anterior Bispo Emérito de Angra, D. Aurélio Granada Escudeiro era muito ligado à Ação Católica, de que foi assistente nacional, num momento em que havia alguma resistência por parte do episcopado, como recorda o Pe Silvino Amaral.

Nos Açores o Movimento reúne três vezes no ano, nos Encontros de Ilha, por altura do Advento, da Quaresma e do Pentecostes.

Na próxima semana a Equipa Nacional vai estar em retiro, para revisão de vida espiritual, uma das sementes que a ACR lançou dentro da igreja e onde outros movimentos foram beber, como sublinha o assistente espiritual do Movimento em termos nacionais, Pe Querubim Silva.

“Ver, iluminar e rever é a única forma de crescer e este é um principio subjacente à Ação Católica que é muito importante”, diz o responsável.

O Movimento da Ação Católica chegou a Portugal em 1936 e sofreu a sua grande crise nos anos 60, com a emigração e a guerra colonial “que deu cabo de muitos núcleos”, que entretanto foram “refeitos”.

Atualmente o ACR está presente em 16 dioceses, conta com 1650 membros (de acordo com o sitio da internet). No continente, os núcleos mais fortes são os do Norte e centro do país, com particular destaque para Viseu, Braga e Viana do Castelo. Em Lisboa, o Movimento possui “uma dinâmica própria” e é particularmente ativo da área Oeste.

 

A Ação Católica Rural é um movimento formado e dirigido por leigos, criado em 1922 pelo Papa Pio XI e que chega a Portugal em 1933. Obedece às caraterísticas gerais da Ação Católica e dedica-se de forma organizada à evangelização e promoção do meio rural, sendo estas ações fruto do método de Revisão de Vida (ver, julgar, agir).

O ACR é hoje um Movimento que congrega, nas equipas de base paroquial, equipas diocesanas e a nível nacional, homens e mulheres que caminham apostolicamente em conjunto, tendo-se iniciado, muitos deles, nos Movimentos Juvenis Agrários (JAC/JACF), que foram a sua escola de vida e de apostolado.

Em termos de comunicação, a face mais visível do Movimento é a revista “Mundo Rural” que se publica há 52 anos de forma ininterrupta

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