Montagem de 166 mil lâmpadas para festas do Santo Cristo dá trabalho a mais de 70 homens

Santuário entra em contagem decrescente para as maiores festas religiosas dos Açores

Mais de 70 homens, entre eletricistas e carpinteiros, profissionais e amadores, desdobram-se na montagem de 166 mil lâmpadas para as festas do Santo Cristo, em Ponta Delgada, num trabalho que acaba por ocupar, embora temporariamente, “muitos desempregados”.

“Todos os anos há gente nova. Este ano há muitas pessoas no desemprego e que eu admito. Estão aqui uma semana ou duas e depois vêm outros para ajudar. Os trabalhadores fundamentais nunca são mudados, são os ajudantes”, disse à Lusa Humberto Moniz, responsável por coordenar o trabalho de iluminação das Festas do Santo Cristo, que decorrem em Ponta Delgada de 8 a 14 de maio.

As iluminações do Santo Cristo, no Santuário da Esperança e zonas circundantes, constituem uma das principais atrações das festas, que atraem até à ilha de São Miguel, nos Açores, muitos turistas, incluindo emigrantes nos Estados Unidos da América e Canadá e visitantes de outras ilhas açorianas e do continente.

Com 56 anos de experiência, Humberto Moniz disse que muito antes de começar o trabalho de montagem das lâmpadas, começam a procurá-lo, no início do ano, pessoas em busca de um trabalho, mesmo que temporário.

“Por esta altura procuram muito, antes disso, em janeiro, já estão a ligar-me para o telemóvel. Há sempre aqueles que estão no desemprego e pedem trabalho. É uma ajuda para muitos desempregados”, disse Humberto Moniz, que começou neste trabalho com 12 anos e aos 26 já era encarregado.

Humberto Moniz garante que “a crise e o desemprego que atinge muitas famílias” têm levado a uma grande procura por este tipo de trabalho.

“Geralmente, os eletricistas e carpinteiros até vêm para cá de férias. E ficam cá entre três semanas a um mês. Os ajudantes ficam 15 dias. Entram uns, saem outros, é para dar um bocadinho a todos”, disse, indicando que este ano estão envolvidos nesta tarefa 75 operários, entre eletricistas, carpinteiros, pedreiros, trabalhadores e ajudantes de eletricistas que montam 166 mil lâmpadas, mais 2.000 que no ano passado, e com “cores diferentes”, na fachada do Santuário.

Na fachada da igreja, sacristia, no coreto do Campo de São Francisco, palco principal dos festejos, e no torreão, os motivos são todos da autoria de Humberto Moniz, segundo garantiu.

“Idealizei, desenhei, orientei as pinturas, as eletrificações e as madeiras”, descreveu, garantindo que são 800 quilowatts amperes, que chegariam para “fazer trabalhar muita fábrica”.

Há freguesias que “não têm esta potência toda na iluminação pública”, afirmou, garantindo que “nada falhou em 56 anos, houve sempre luz”.

Ainda assim, Humberto Moniz não esconde a ansiedade que sente na quinta-feira quando faz um teste interno, já que a iluminação da Festa do Santo Cristo é sempre inaugurada na sexta-feira.

“Este trabalho não é uma brincadeira de rapazes, é uma coisa muito séria”, frisou, ao descrever o minucioso processo de pintura das lâmpadas, “com um verniz especial semelhante ao verniz das unhas”.

Todos os anos “umas são pintadas e outras despintadas com acetona”.

“Tiro o roxo, ponho o amarelo, tiro o amarelo, ponho o roxo. E a coisa fica completamente diferente”, explicou, dizendo que este processo começa três semanas antes das festas.

Há ainda que contar com as condições atmosféricas: “Quando o tempo está norte não se pode pintar lâmpadas, porque o verniz não seca e transformam-se noutra cor”.

As festas do Santo Cristo têm por referência a imagem do ‘Ecce Homo’.

A procissão do domingo, que percorre as ruas da cidade, num percurso de vários quilómetros ornamentado por tapetes de flores, constitui um dos pontos altos das festas do Santo Cristo.

No sábado, durante a manhã, centenas de devotos do Santo Cristo percorrem de joelhos o empedrado do campo de São Francisco, em pagamento de promessas.

Essas promessas antecedem a procissão da mudança da imagem do ‘Ecce Hommo’ do coro baixo do Convento da Esperança para a igreja anexa.

A imagem do Santo Cristo permanece no convento durante todo o ano, só saindo à rua no quinto fim de semana a seguir à Páscoa.

CR/Lusa

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