Por Renato Moura
Facto elevado a vitória do Governo: a proposta de Orçamento de Portugal, para 2021, entrou na Assembleia da República no último dia do prazo!
Mas o Governo atribui a si próprio muitos outros êxitos: é o orçamento que os portugueses e Portugal precisam; tem as virtudes de recuperar a economia de forma robusta e apoiar as empresas, proteger o emprego e os rendimentos dos portugueses; é um orçamento com resposta à crise sem austeridade; que não regateia na despesa. Estas maravilhas ocorrerão em 2021, apesar do reconhecimento de 2020 ser um ano de contracção da economia mundial sem precedentes na era moderna! E de haver quem fez contas e apurou que de 2001 a 2020, em termos reais, o PIB só cresceu 7%, ficando mais ou menos igual a 2007.
O Governo garante ter meios financeiros do seu sucesso nos últimos anos, contraditado por quem acusa de não se terem aproveitado os anos anteriores, de não se ter aumentado o investimento produtivo, de não se ter promovido o reequilíbrio com o desenvolvimento da indústria, de se ter concentrado o crescimento em Lisboa.
Promete-se criteriosa aplicação dos recursos públicos e rigor na gestão, mas reconhece-se estar a Administração Pública desvalorizada. Cresce défice e dívida. Há orgulho no que se chama de bons caminhos na melhoria das prestações sociais. É arte ou desastre distribuir riqueza sem a criar?
Temos, sem dúvida, um Governo muito palavroso, pretendendo ter o monopólio da verdade. E quem precisa de um abanão é o povo?! Faz lembrar pensamentos de Johann Goethe: “As pessoas tendem a colocar as palavras onde faltam ideias” e “Aprender a dominar é fácil, mas a governar é difícil”.
Era expectável de alguns programas televisivos, para os quais são convidados especialistas e políticos, conseguirem por a nu as incongruências e descobrir as verdades. Mas também há por lá debates que são debacles (como aconteceu por cá, a propósito das eleições regionais!).
Tudo parece passar-se como se a previsão da receita para 2021 não fosse de um enorme risco. Como se já não se temesse novas do Novo Banco! Como se o problema da TAP tivesse voado! Como se não houvesse empresas sustentadas artificialmente para suster o desemprego! Como se as moratórias facultadas, nomeadamente às empresas e aos inquilinos, não viessem a tornar-se incobráveis e a gerarem insolvências!
Avançou o Governo, discutem agora os partidos. E ainda de Goethe, intuam: “Para destruir, servem os argumentos falsos; mas, para construir, já não. Aquilo que não é verdadeiro não é construtivo”.