Bispo de Angra diz que é “urgente” esta atitude
O mistério da ressurreição, que convida à esperança e à confiança numa vida nova exige seguir, com todas as consequências , não um morto, mas um vivente: Jesus Cristo, Deus encarnado, e impregnado totalmente pelo Espírito Santo, disse esta noite, o bispo de Angra, durante a celebração da Vigília Pascal, na Catedral de São João Baptista, em Angra do Heroísmo.
“A humanidade e porventura alguns de nós, continua a procurar Jesus Cristo tão só morto. Jesus Cristo não é uma figura do passado, muito pelo contrário, Ele é do presente e projecta-nos para o futuro sempre novo. Ele é o Vivente que nos retira dos nossos medos e das nossas ilusões e nos convida a partilhar da Sua vida nova” afirmou D. João Lavrador na homília da Vígilia Pascal, o grande momento do tríduo Pascal que a igreja tem estado a celebrar nos últimos três dias.
Nesta celebração, mais longa do que habitual, em que são proclamadas mais passagens da Bíblia do que as três tardicionalmente lidas aos domingos, continuando com uma celebração batismal e a comunhão, o prelado diocesano lembrou que pelo batismo recebemos Jesus “pela porta do coração”. No entanto alertou, ser cristão não é, apenas, pertencer a uma ‘religião’; adorar um ídolo ou seguir, cegamente, as normas impostas pela ‘religião’.
Para o prelado, a ressurreição toca “todas as franjas” da existência e tem a ver com “a leitura” da realidade.
“Sem dúvida que só pela força do encontro com o Ressuscitado se revigora a verdadeira fé que se traduz na relação de entrega comunitária e no despertar interior para a situação da Igreja e do mundo, não para se sentir de fora observando desinteressadamente o desenrolar dos acontecimentos tão repetitivos e desumanizantes, mas com a coragem de quem os enfrenta e se entrega na renovação da comunidade cristã e do mundo”, disse D. João Lavrador.
Tudo isto “requer enfrentarmos com coragem a nossa realidade, não nos fecharmos em nós mesmos, não fugirmos perante aquilo que não entendemos, não cerrarmos os olhos diante dos problemas, não os negarmos, não eliminarmos as questões” disse o prelado sublinhando qual é a atitude que deve mover os homens para este tempo novo.
“Tudo isto obriga-nos a sair das nossas seguranças e indiferenças que nos paralisam e a colocarmo-nos no árduo caminho da procura da verdade, da beleza e do amor, buscar um sentido novo, nem sempre óbvio, uma resposta que não seja banal e superficial para as questões que põem em crise a nossa fé, a nossa lealdade e nossa razão; exige-se humildade para nos aceitarmos como realmente somos”, disse o bispo de Angra.
Por isso, conclui, “é preciso este abaixamento que é humildade, esvaziamento das próprias idolatrias, para nos prostrarmos em adoração. Sem adorar, não se pode entrar no mistério”.
Daí a urgência em “criarmos as condições para fazer a experiência da ressurreição de Jesus Cristo”, precisou ainda, lembrando que “as pessoas baptizadas e crentes nunca são verdadeiramente estranhas uma à outra”.
“Podem separar-nos continentes, culturas, estruturas sociais ou mesmo distâncias históricas. Mas, quando nos encontramos, reconhecemo-nos com base no mesmo Senhor, na mesma fé, na mesma esperança e no mesmo amor, que nos formam”.
“Então- prosseguiu- experimentamos que o fundamento das nossas vidas é o mesmo. Sentimos que, no mais fundo do nosso íntimo, estamos ancorados à mesma identidade, a partir da qual todas as diferenças exteriores, por maiores que sejam, resultam secundárias”, apelando como que ao desvanecimento de barreiras e de querelas entre os vários povos.
O bispo de Angra deixou finalmente um apelo à vivência deste mistério em comunidade.