Missão `A mar´ aproxima jovens da Ericeira e jovens de Rabo de Peixe num projecto evangelizador

 

Foto: Igreja Açores/CR

Iniciativa resulta da articulação da vontade de duas paróquias- Ericeira e Rabo de Peixe-, em colaboração com dois projectos da Santa casa da Misericórdia da Ribeira Grande

Abrir-se ao outro, servindo-o, poderia ser o slogan resumo da missão `A mar´, outra forma de dizer proximidade e serviço que um grupo de jovens da paróquia da Ericeira, no Patriarcado de Lisboa, desenvolverá em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel até ao próximo dia 4 de setembro.

Esta é a segunda missão fora de portas desenvolvida por este grupo de 11 jovens, com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos, um casal- Elsa Chaveiro e Artur Loupa- e um sacerdote- Padre Tiago Fonseca- que, juntos, abraçam uma vida comunitária durante um determinado período de tempo para disponibilizar o seu serviço junto de quem mais precisa.

“O nosso grupo surgiu da necessidade que tínhamos de apoiar pessoas que tinham problemas e dificuldades e eram socialmente mais desfavorecidas. Entretanto o trabalho foi-se alargando para fora da nossa zona de residência”, referiu ao Igreja Açores Mara Rodrigues, uma das jovens voluntárias que integra o grupo da paróquia da Ericeira que chegou esta segunda-feira a Rabo de Peixe e já hoje começou a fazer-se ao largo, trabalhando com crianças e jovens da vila piscatória, acolhidos em duas valências da Santa da Misericórdia da Ribeira Grande na freguesia, em funcionamento ao longo do ano e que se torna tão importante durante as férias de verão.

Esta manhã trabalharam com as crianças acolhidas pela equipa de animação de rua Espaço Extremo e, de tarde, com os jovens da Ludoteca.

“Estas respostas sociais que a Santa Casa tem aqui em Rabo de Peixe funcionam todo o ano: de verão de manhã e durante o período escolar à tarde. São valências importantes para estas crianças já que lhes permitem uma troca de experiências e também novos conhecimentos” avançou ao Sítio Igreja Açores Vanessa Caramelo, responsável da equipa local.

Esta ligação a projectos locais é essencial para a continuidade do trabalho de aprendizagem destes jovens, que com uma missão datada e circunscrita a um determinado período de tempo poder-se-ia perder.

Esta manhã, foi a primeira de duas semanas de trabalhos diários, mas ninguém diria que estávamos na presença de dois grupos desconhecidos. Os jogos, a interação e as estratégias adoptadas para a captação de talentos- no final desta experiência será feito um teatro de rua, com várias expressões artísticas desde a música, à dança, à interpretação e os jovens serão os protagonistas- revelaram um entusiasmo e um à vontade, próprios de “velhos conhecidos”.

“Aquilo que nós recebemos aqui é fantástico. Só hoje começámos e já há detalhes que nos comovem” refere Elsa Chaveiro, uma das três coordenadoras do projecto.

“Isto é uma coisa incrível para mim” salienta, por seu lado, Mara Rodrigues.

“Faço voluntariado desde pequenina, em vários domínios. Adoro ajudar e gosto muito de conviver. Não me entendendo a viver sem esta dimensão na minha vida” acrescenta com entusiasmo.

“Eles são jovens como outros e por isso tudo aquilo que faz parte de uma vida jovem faz parte da vida deles mas vão percebendo que a vida não é só sair com os amigos, ou sair à noite” esclarece Elsa Chaveiro.

“A nossa missão é puxá-los para esta dimensão da uma missão, algo que vale a pena fazermos pelo outro” esclarece ainda.

De facto, esta não é mais uma experiência de voluntariado é também uma oportunidade de crescer “pessoal e espiritualmente”.

“Aproveitar esta vontade de servir e dar-lhes outra experiência de Igreja para além da paróquia” foi, de resto o grande objectivo destas missões que começaram a ser desenvolvidas pelo padre Tiago Fonseca, mal chegou à paróquia da Ericeira, em 2019. A pandemia impediu que a primeira missão fosse no exterior, mas à segunda tentativa deslocaram-se a Cabo Verde. A experiência foi de tal forma marcante que  a “Missão Boavista” rapidamente mudou de nome e adaptou-se a Rabo de Peixe com o titulo “Missão A mar”.

“Percebemos que estes jovens, e nós, fazendo alguma coisa de útil não só ajudaríamos os outros como nessa experiência a nossa fé crescia, com o testemunho de fé daqueles que servimos”, destaca o sacerdote ao lembrar a “delicadeza de Deus” nos pormenores que ditam pequenas coincidências em cada uma das missões, como a que verificaram logo à chegada quando perceberam que a padroeira do lugar onde estão a pernoitar- Calhetas- também tem a mesma padroeira que a sua vila piscatória, Nossa Senhora da Boa Viagem.

Mas, numa vida a 14, nem tudo é um mar de rosas, mas vale a “amizade” para a conhecida “correção fraterna”.

“A dimensão exterior da nossa missão é ajudar o próximo, o que neste caso de Rabo de Peixe é estar com os mais novos e ajudá-los a crescer com valores, mas há uma dimensão muito para além dessa”, refere o sacerdote, que garante a direção espiritual do grupo e de cada um dos seus membros.

O dia começa sempre com uma oração da manhã e termina sempre com a oração da noite depois de um exame de consciência.

“Não é fácil numa sociedade que privilegia o indivíduo vivermos em comunidade até na celebração da fé. Todos temos a nossa maneira de ser e há que saber adaptar-nos uns aos outros e percebermos que precisamos uns dos outros” refere ainda.

“ Cada um de nós não é uma estrela;  outro desafio é lidarmos com as fraquezas e fragilidades” alerta ainda para explicitar que esta aprendizagem pessoal é também um desafio constante da missão.

Para além do acompanhamento dos jovens, este grupo faz ainda uma missão porta a porta desafiando os locais a participarem na celebração eucarística, em momentos de oração ou até mesmo “para intervirmos se verificarmos que há alguma carência que possamos mitigar” refere Artur Loupa, o terceiro coordenador adulto.

“Nós damos e recebemos muito.  O que lhes costumamos dizer é que deixem um rasto: abram-se aos outros e estejam ao dispor. É bom ver essa disponibilidade para os outros mas também para a vida do grupo que se vai construindo nesta teia de relações” acrescenta Elsa Chaveiro, sublinhando que uma missão deixa sempre uma “semente para a vida”.

Fora da missão os jovens encontram-se pelo menos uma vez por mês e há quatro dimensões que são trabalhadas para garantir a coesão do grupo e o sucesso da missão: a construção da equipa (team building), a angariação de fundos, a comunicação e depois a missão.

De hoje até dia 4 de setembro, estes jovens do Patriarcado de Lisboa vão estar em rabo de Peixe. Sexta-feira, dia 30 de agosto, os jovens juntamente com as crianças e jovens das valências do Espaço Extremo e Ludoteca, promovidos pela Santa casa da Misericórdia  da Ribeira Grande vão oferecer à comunidade um espectáculo de Rua, às 16h00, junto à Igreja seguindo-se depois uma celebração eucarística. Até lá, os dias serão passados entre jogos, atividades lúdicas e construções de argumento, dança, música e cenários para a peça de teatro, que envolverá várias expressões artísticas.

 

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