Idosos institucionalizados em lares da terceira idade continuam a receber apoio e não há, para já, qualquer caso de contágio pelo Covid-19
A situação de pandemia é “complexa, difícil e exigente” mas as Misericórdias dos Açores “estão a fazer um trabalho que visa acautelar a situação dos mais vulneráveis”, garantiu ao Igreja Açores Bento Barcelos, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo e também presidente da União das Misericórdias dos Açores.
“Esta é uma situação tão complexa, difícil e repentinamente criada no nosso país e no mundo que nos apanhou desprevenidos mas para a qual estamos a encontrar a melhor resposta para garantirmos os melhores cuidados a quem precisa de nós”, afirmou o responsável.
Nos Açores, as 23 misericórdias existentes possuem todas valências de maior “sensibilidade e vulnerabilidade” e, a maioria delas presta apoio a idosos seja na componente de lar seja na componente de cuidados continuados.
“Dado o horário de funcionamento ser de 24 horas nestas valências, de estarmos a falar de de pessoas com idades avançadas, quase todas dependentes, e com várias histórias de patologias, a situação é muito mais exigente para as misericórdias que vivem esta realidade. Mas gostaria de afirmar que estamos a encarar estes desafios com muita responsabilidade e humanidade, procurando os melhores cuidados para os nossos utentes” disse ainda.
Bento Barcelos garante a articulação com o Governo Regional e considera que o facto de ter sido decidido o encerramento de creches, jardins de infância, ATL´s e Centros de dia, aliviou um pouco mais a pressão sobre os serviços prestados permitindo que o foco fossem as valências com internamento.
“Temos procurado reduzir a rotatividade dos funcionários alargando os turnos de 8 para 12 horas de forma a que haja menor rotatividade e por isso os tempos de descanso sejam maiores e, por outro lado, a entrada e saída dos funcionários das instituições não se faça com tanta pressão” referiu ainda Bento Barcelos que garante que todas as misericórdias estão a tentar preservar ao máximo os idosos impedindo-os de contacto com o exterior.
“Foi assim quando o governo decretou o fim das visitas de familiares e amigos e, até os fornecedores não entram nas instituições. São regras que nos ajudam a conter esta epidemia”, refere .
“Todas as regras de higiene, limpeza, salubridade e mobilidade dos funcionários estão a ser devidamente acautelados” assegura o presidente da União das Misericórdias dos Açores.
“Estamos a fazer o melhor na perspetiva de segurança sem perder qualidade na prestação de cuidados de saúde a quem está vulnerável”, refere ainda ao sublinhar que a articulação com os Serviços de Saúde e Segurança Social deve ser cada vez mais próxima. E dá como exemplo os consumíveis na área da saúde seja para protecção dos colaboradores e profissionais seja para a higienização dos espaços.
“Até agora não houve falhas mas o mercado não responde com a celeridade que pretenderíamos, nem a preços que gostaríamos, por isso teremos de articular com o Governo Regional e já estamos a tratar do assunto”, garante.
A maioria dos lares de terceira idade nos Açores pertencem ou são geridos pelas misericórdias e até ao momento não houve nenhum caso notificado pela autoridade regional de saúde em lares dos Açores.
Hoje, o Vaticano alertou para o perigo de uma discriminação dos mais idosos no atual contexto de pandemia de Covid-19, sustentando que a idade não pode ser um “critério de escolha único e automático” para as políticas públicas e de saúde.
A Academia Pontifícia para a Vida (Santa Sé), alerta numa mensagem intitulada ‘Pandemia e fraternidade universal’ que há sinais de uma “atitude discriminatória em relação aos idosos e aos mais frágeis”.
“As condições de emergência em que muitos países se encontram podem forçar os médicos a tomar decisões dramáticas e dilacerantes sobre o racionamento de recursos limitados”, assinala a mensagem, pedindo que sejam levadas em conta as “necessidades do paciente” e “a avaliação dos benefícios clínicos que o tratamento pode ter, em termos de prognóstico”.
O organismo do Vaticano sublinha que em momento algum se deve “abandonar a pessoa doente”.
“Mesmo quando não há mais tratamentos disponíveis, cuidados paliativos, tratamento da dor e acompanhamento são uma necessidade que nunca deve ser negligenciada”, pode ler-se no documento divulgado pelo portal de notícias do Vaticano.
A Academia Pontifícia para a Vida (APV) elogia a dedicação dos profissionais de saúde, “muito para além da lógica dos vínculos contratuais”, destacando que nestes dias se tem afirmado “a relação de cuidado” como o paradigma fundamental da convivência humana.
A saudação estende-se a “milhares de voluntários que não deixaram de prestar serviço”, entre eles, as religiosas, os religiosos e os sacerdotes que continuam a servir as pessoas que lhes foram confiadas, “mesmo com o preço das próprias vidas, como já aconteceu com muitos padres contagiados e mortos”.
O organismo da Santa Sé apela a uma “uma aliança entre ciência e humanismo” para superar a pandemia.
Uma emergência como a do Covid-19 é vencida sobretudo com os anticorpos da solidariedade”, indica a APV.
O documento critica as políticas centradas exclusivamente em “interesses nacionais”, sem atender às necessidades dos mais fracos, e recorda que “nalgumas regiões do mundo, a precariedade da existência individual e coletiva é uma experiência diária”.
“A segurança de cada um depende da de todos”, aponta a mensagem.
O texto conclui-se com uma reflexão sobre o valor da oração, na atual crise.
“Mesmo aqueles que não compartilham a profissão de fé podem extrair algo do testemunho de fraternidade universal, que aponta para o melhor que existe na condição humana”, conclui a APV.