Por Carmo Rodeia
No dia em que liturgicamente se invoca São Francisco de Sales, patrono dos jornalistas, o Papa Francisco deu a conhecer a sua mensagem para o 50ºDia Mundial das Comunicações Sociais, criado na sequência do artº n.18 do decreto conciliar Inter Mirifica.
Nessa altura os Padres conciliares quiseram deixar bem claro que a Igreja não deve poupar esforços (nem recursos) para comunicar, percebendo o valor e a importância da comunicação na evangelização.
O Papa Francisco, em ano jubilar, acrescentou-lhe a misericórdia, insistindo neste valor da comunicação desafiando toda a igreja, unida em Cristo, encarnação viva de Deus misericordioso, a viver a misericórdia como característica do seu “ser e agir”.
No fundo, lembrando que tudo o que dizemos e o modo como dizemos, cada palavra e cada gesto, deve expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, pela sua natureza, frisa o Papa, é comunicação e leva a uma maior abertura, não ao isolamento.
“Se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus”, refere o Papa.
Na sua mensagem o Papa cita a obra ‘O mercador de Veneza’, de Shakespeare: “A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe”.
O Papa espera que a misericórdia inspire também a “linguagem da política e da diplomacia”, sobretudo junto dos que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para não alimentar “as chamas da desconfiança, do medo ou do ódio”.
A mensagem para os órgãos de comunicação social é sobretudo mais um grito de denuncia de Francisco perante a vida que o mundo vive e para a qual a linguagem e as ações da Igreja devem transmitir misericórdia, para tocar o coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude da vida.
As palavras têm o poder de criar pontes e favorecer o encontro e a inclusão entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. As palavras dos cristãos visam fazer crescer a comunhão e jamais romper o relacionamento e a comunicação.
Por isso é que investir em órgãos de comunicação social, concretamente ao serviço dos valores cristãos, deve constituir uma prioridade para a Igreja. Não a todo o custo mas sobretudo não sobrevalorizando o custo.
Há um claro desfasamento entre as referências religiosas digitais e o quotidiano das comunidades, com muita gente ainda a não ter acesso à informação digital e por isso a ficar penalizada.
Por isso, apostando inequivocamente no digital, não podemos descurar as várias circunstâncias em que o recetor pode acolher as diferentes mensagens.
Não basta saber clicar é preciso saber tocar, e muitas vezes esse toque ainda não chega pelo computador ou pelo tablet, mesmo que a informação seja simples, próxima, transparente, consistente, regular e assertiva. Teremos o direito de os excluir, privando-os da nossa comunicação? Não é isso que nos pede o Santo Padre.